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A benção, madrinha!

publicado: 28/05/2025 09h34, última modificação: 28/05/2025 09h36
Astros do samba rendem homenagem a Beth Carvalho cantando seus sucessos na nova edição do “Sambabook”
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Conhecida como a madrinha do samba, Beth Carvalho se tornou um dos nomes históricos do gênero | Foto: Washington Possato/Divulgação

por Esmejoano Lincol*

O projeto Sambabook foi idealizado há 15 anos pelo empresário e produtor cultural Afonso Carvalho como um tributo multiplataforma a grandes compositores brasileiros do gênero dos “bambas”: João Nogueira (em 2011), Martinho da Vila (em 2013) e Dona Ivone Lara (em 2015) foram alguns dos que ganharam uma edição com shows e lançamentos em áudio, vídeo e livro. Em 2025, um precedente foi aberto para, merecidamente, homenagear uma artista que compôs de forma bissexta, mas que marcou o samba a ponto de ser eleita sua “madrinha”: o Sambabook Beth Carvalho reúne um coral de 32 vozes em reverência à intérprete e já está disponível nas plataformas de música.

A idéia, com produção da Musickeria, partiu da proximidade profissional e pessoal de Afonso com Beth – ele foi seu empresário de 2004 até a data do falecimento da cantora, em 2019. Mas a presença dela na vida dele é bem anterior. 

“Quando eu tinha oito anos, ali no final dos anos 1970, lembro de chegar numa partida de futebol de salão e encontrar todas aquelas crianças, da mesma idade, batucando e cantando ‘Vou festejar’, um de seus maiores sucessos. Anos mais tarde, quando estudava violão com Almir Chediak, em Copacabana, no Rio, encontrei Beth saindo de seu escritório, num carrão lindo. Aquilo me marcou demais”, rememora.

Com um catálogo diverso de artistas no currículo, incluindo Bezerra da Silva, João Gilberto e Adriana Calcanhoto, Afonso foi convidado pela própria Beth para integrar sua equipe. A boa relação entre ambos não tem bases familiares (apesar do sobrenome em comum), mas houve, de cara, uma admiração mútua. Ele cita como uma qualidade da amiga o seu engajamento político na música.

“Beth sempre teve gratidão por figuras que foram importantes na vida dela, demonstrando esse afeto também por mim. Tanto que, o último DVD dela, Ao Vivo no Parque Madureira, foi dedicado a mim. Isso é algo muito emblemático na minha vida e de qualquer empresário”, atesta.

Assim como nas outras edições o Sambabook Beth Carvalho convocou artistas de diversas gerações do samba, como Diogo Nogueira, Leci Brandão e Rildo Hora, além de outros homenageados, a exemplo de Zeca Pagodinho e Jorge Aragão. No repertório, clássicos como “Fogo de saudade” (Sombrinha e Adilson Victor) e “Coisinha do pai” (Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos), consagrados na voz da própria artista ou renovados por meio de suas regravações.

Mas a seleção não se limita a intérpretes do gênero: Fagner e Zélia Duncan também marcam presença. Luana Carvalho, filha de Beth também foi chamada para dar nova vida a “Andança”, seu maior êxito (com os Golden Boys, presentes no registro original dos anos 1960).

Luciana Mello interpreta “Firme e forte”, faixa que dá nome ao álbum lançado em 1983. A artista lamenta não ter lembrança de conhecer Beth pessoalmente, mas celebra a oportunidade de partilhar o tributo com outros colegas. A sambista e o pai, Jair Rodrigues, foram homenageados juntos no Festival de Música de Itajaí, em 2024.

“Eu tive a felicidade de ser chamada também para cantar ‘Tendência’ no sambabook do Jorge Aragão, há um tempo atrás. É sempre uma alegria, e é sempre muito importante para a nossa cultura deixar esse legado para outras gerações. ‘Firme e forte’, é um ‘sambão’, como diria meu pai, que eu canto desde criança, em casa. Eu me diverti bastante cantando”, afirma. 

Afonso Carvalho celebra a boa repercussão do projeto Sambabook e espera que o mesmo sucesso alcance o volume dedicado a Beth – nessa década e meia, as 120 faixas que compõem todas as edições somam mais de 300 milhões de streams nas plataformas de áudio e outras 100 milhões exibições em plataformas de vídeo.

Ainda que tenha composto apenas oito canções na vida, a artista imprimiu uma marca indelével a cada trabalho, segundo o empresário. “Às vezes eu estou num lugar, ouço uma determinada música e mesmo que aquela música não seja a versão que ela fez, quem lançou aquela música foi a Beth Carvalho. Então Beth é uma artista que, de certa maneira, era dona do repertório que cantava”, conclui. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de maio de 2025.