Criada há mais de duas décadas, a Festa Literária de Internacional Paraty (Flip), tradicional evento cultural brasileiro, reúne, no Litoral do estado do Rio de Janeiro, autores do Brasil e do mundo. A 23ª edição terá início amanhã e a Paraíba estará presente, com uma comitiva que supera a participação de autores do estado em outros anos, segundo informações dos próprios literatos. Mais de 10 nomes integram a programação.
Esta participação se dá por meio de lançamentos literários e mesas. Alguns dos representantes do estado são: Ana Lia Almeida, Aline Cardoso, Braulio Tavares, Bruno Ribeiro, Débora Ferraz, Ione Severo, João Matias, Maria Valéria Rezende, Milena Queiroz, Porcina Furtado, Talita Severo e Tiago Germano.
A programação ocorre em diversos espaços de cultura do município, alguns deles de forma concomitante, tanto na agenda principal, quanto nos demais segmentos da Flip. Ana Lia Almeida, nascida em Pernambuco e residente na Paraíba, levará ao público Praieira, seu mais novo romance, a ser comercializado durante a festa. João Matias apresentará, por sua vez, Os Interiores, numa manhã de autógrafos no dia 31, às 11h. Ambos os livros fazem parte do catálogo da Editora Patuá.
João comemora a oportunidade, asseverando a festa em Paraty como uma janela fundamental para a divulgação de seu trabalho e dos demais colegas. “No sábado, às 10h, devo participar de uma mesa com Braulio Tavares, Caetano Grippo e Mylena Queiroz sobre o real e o insólito na ficção contemporânea. Dialogaremos sobre as fronteiras entre a realidade e a invenção no fazer literário e na própria escrita. Temos a chance de mostrar que o Nordeste segue produzindo a melhor literatura brasileira contemporânea”, analisa.
Bruno Ribeiro dará sua contribuição em quatro mesas diferentes. Duas delas são: “Mestre do horror e da ciência: uma nova abordagem para Edgar Allan Poe” e “Não ficou no passado: traumas coletivos no interior da Paraíba”, ambas no dia 31 — a primeira às 15h e a segunda às 19h30. As demais participações são nas mesas: “Poeta, sufragista, silenciada: quem foi Almerinda Gama”, dia 1º , às 17h; e “Literatura e audiovisual: do silêncio da página ao som da cena”, dia 2, às 10h30. Neste último evento, ele estará ao lado de Itamar Vieira Júnior. “Toda a pluralidade dessa literatura paraibana precisa ganhar cada vez mais destaque”, sinaliza o campinense.
Representatividade
Aline Cardoso estará na mesa “Pluralidades editoriais e a criação literária”, promovida pelo Sesc Santa Rita, em parceria com outras escritoras. Será no dia 31, na sede da instituição, às 11h. No dia 1º de agosto, ela também ministrará uma oficina de produção literária por meio de lambe-lambes, a partir de experiência similar em João Pessoa.
“Vou propor reflexões e práticas sobre como transformar palavras em imagens gráficas potentes, como suporte de expressão política”, ela antecipou para A União, há duas semanas.
Débora Ferraz, pernambucana radicada na Paraíba, ainda será uma das atrações de “O que sobra da realidade quando vira ficção?”, com a participação dos colegas Alê Motta, Nara Vidal e Sérgio Tavares e promoção da Casa Libre & Graviola Digital. A mesa está marcada para o dia 2 de agosto, às 16h30, e terá como palco a sede das instituições. Este será o primeiro evento público com a participação de Débora desde a estréia de O Sombrio Coração da Inocência, seu mais novo título, pela Editora DBA.
Em conversa com A União, quando do lançamento desse romance, Débora detalhou como baseou-se no gênero true crime, que narra, em tom biográfico, mortes que ocorreram fora da ficção, para alicerçar sua história, inventada, na qual analisa a condição humana.
“Ele foi inspirado em um caso de afogamento que eu cobri, de verdade, quando era repórter no Correio da Paraíba. Mas tirando o fato de eu ter visto o resgate das vítimas, eu tive que inventar todo o resto”, esclareceu, no primeiro semestre.
Cordel
Porcina Furtado levará a público a coletânea Cordel do Encanto Feminino (Editora Arribaçã), que reúne versos de 30 cordelistas mulheres, de estados diferentes do Nordeste. O evento de lançamento está marcado para o dia 1o, às 18h.
Ainda neste segmento, Ione e Talita Severo integrarão roda de conversa sobre esse gênero literário, compartilhando, também, alguns de seus folhetos como autoras. “É muito importante para mim, cordelista pombalense, representar nosso estado e minha cidade nessa grande festa internacional”, afirma.
Experiência
Maria Valéria Rezende, natural de Santos, no Litoral paulista, e residente em João Pessoa há muitas décadas, ganha homenagem da Casa Caravana em uma mesa que leva o seu nome. Com o subtítulo “A vida e a obra da escritora multipremiada” terá participação dos escritores Andreia Fernandes e Márcio Maués. Além da trajetória extensa na literatura brasileira, ela dará seu testemunho sobre a empreitada junto ao coletivo feminino Mulherio das Letras — será no dia 1o, às 18h.
Fundadora e permanente incentivadora, Maria Valéria rememorou a gênese do grupo na edição de junho do suplemento literário Correio das Artes: a edição, reverenciou, justamente, os oito anos de fundação da empreitada e a importância do projeto. “É algo prático, além de ideológico. Um movimento que vai permanecer ativo até que ele não seja mais necessário, o que só vai acontecer quando as mulheres estiverem em pé de igualdade com os homens no meio literário”, ela projetou.
Primeira vez
Tiago Germano conduzirá a oficina “A índole da crônica”, voltada para o desenvolvimento desse gênero: será no dia 31, às 16h, no coletivo Casa Pagã. No mesmo dia, às 21h, ele fará parte da mesa “O perigo do Nordeste único: narrativas nordestinas na literatura contemporânea”, com a participação do escritor cearense Marco Severo.
Ambos compartilharão a experiência na composição de livros que desmistificam a abordagem sobre a região — no caso de Tiago, a partir do seu romance O que Pesa no Norte (Editora Moinhos). No sábado, ele ainda autografa sua obra mais recente, A Índole dos Cactos (Editora Caos e Letras): será no dia 2, às 13h, no coletivo Casa Gueto. O literato picuiense celebra sua ida à Paraty.
“É a primeira vez que vou com uma agenda. Das duas outras vezes eu participei como leitor e como finalista do concurso Off Flip, em 2014, quando também acompanhei Débora Ferraz, minha companheira, que havia acabado de ganhar o Prêmio Sesc de Literatura. Para mim é um marco, estou realizando um sonho”, aponta.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de julho de 2025.