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Amor pós-Trump: com cotovelada

publicado: 25/07/2025 08h44, última modificação: 25/07/2025 08h44
É assim que Totonho define seu novo disco com Os Cabra, que chega hoje às plataformas digitais
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Músico está no combate, apontando o dedo | Foto: Natália Di Lorenzo/Divulgação

por Emerson da Cunha*

O espírito brincante e, ao mesmo tempo, comprometido com palavras, linguagem e questões políticas de Totonho e os Cabra ganha mais uma camada a partir de hoje, com o lançamento do novo álbum Ai Dentu – Funk de Embolada e Hip Hop do Mato, produzido pela Toroh Música & Cultura e disponível em todas as plataformas de áudio. O conjunto de 11 faixas inéditas autorais promove cutucadas políticas a partir da releitura da cultura de improviso tanto nas musicalidades tradicionais nordestinas, como coco e embolada, como ritmos de contextos urbanos, como hip-hop e funk.

O trabalho tem como produtores musicais André Abujamra, Renato Oliveira, Marcelo Macedo, Furmiga Dub e Rica Amabis, além de participações especiais de Bixarte, os irmãos Paulo Ró e Pedro Osmar, do Jaguaribe Carne, Ruanna Gonçalves, Helinho Medeiros, entre outras.

“A ideia do álbum foi mudando desde o início do projeto. Eu ia fazer um disco freestyle, mas dos freestyles todos que eu tinha feito, só gostei mesmo de um. É que eu não queria um hip hop de freestyle comum. Eu queria um disco discurso. E acabou dando certo”, comenta o músico. 

“Aí Dentu – Funk de Embolada e Hip Hop do Mato” traz 11 novas canções autorais de Totonho | Foto: Divulgação/Toroh

Totonho, então, passou para a construção de um disco afro-tupi, com algumas músicas que ele já tinha. “Só faltava melhorar a letra. O que aconteceu foi isso: eu saí mudando letra, mas fui chegando na coisa do afro-tupi, alguma coisa que falasse de índios com pretos e da sociedade brasileira como um todo. Os assuntos que incomodam a gente”, conta.

Os bordões, refrões e brincadeiras com as sílabas e palavras feitos por Totonho são reforçados no trabalho e remetem ao poder de síntese buscado pelo músico, expressado, costumeiramente, pelo uso da linguagem de memes. “Eu tenho feito isso em jingle de campanha, por exemplo. Ninguém liga mais para o discurso puro em si. Nesse caso aí, eu já tenho uma prática há muito tempo, eu tenho que dar uma ‘totonhada’ na letra”, explica.

Ele compara com beliscões que vai dando aos pouquinhos. “Uma das músicas tinha umas duas páginas, eu a resumi em duas frases. É hora de síntese também. Não adianta ficar falando, falando, falando. Composição é isso, precisa mastigar para saber se é aquele gosto mesmo que você queria”, diz.

Segundo ele, o álbum aponta o dedo para a questão popular brasileira e dialoga com uma postura recorrente na sua música, a provocação. “Música tem que ter quina, que é para os caras se estreparem. Eu não gosto de música lixadinha, passada verniz em cima. O madeireiro aqui é meio doido”, comenta. “Tem coisas que você acha que as pessoas vão entender, tem coisas que as pessoas acham que você não vai entender. E então acaba sendo isso”.

Para ele, esse disco é uma ação provocativa. “É uma mãozada no pé do ouvido. O disco é todo sobre amor, à terra, à floresta. Não tem aquele pegar no peitinho do outro, bitoca. Mas é o amor pós-Trump, com cotovelada e carrinho por trás”.

Através deste link, ouça o novo disco de Totonho e os Cabra

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de julho de 2025.