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Bastidores do poder

publicado: 25/08/2025 08h13, última modificação: 25/08/2025 08h13
Livro reúne análises de Agnaldo Almeida sobre os conflitos históricos e convergências do PMDB na Paraíba
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Agnaldo Almeida analisou a trajetória do PMDB e de outros partidos na política paraibana | Foto: Olenildo Nascimento/Arquivo A União

por Daniel Abath*

“Um partido só cresce quando está inteiro”. O título sugestivo parte de uma das inúmeras e acuradas reflexões políticas do jornalista Agnaldo Almeida (1950-2024), e dá nome ao livro que será lançado na próxima segunda (25), às 19h30, na Livraria A União, no Espaço Cultural, em Tambauzinho. PMDB – Um Partido Só Cresce Quando Está Inteiro (Editora A União, 74 páginas) reúne, entre outros textos, o ensaio de Agnaldo que venceu o concurso “PMDB/Paraíba — Edição 2000, Prêmio Senador Humberto Lucena e Prêmio José Fernandes de Lima”, da Fundação Ulysses Guimarães (PB), em 2000, além de outras quatro colunas do autor relacionadas à temática.

Organizado pela jornalista e diretora--presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Naná Garcez, o livro lança luz sobre a trajetória do PMDB na Paraíba, passando por disputas internas, articulações eleitorais e momentos de ruptura, mas sempre tendo como fio condutor a importância da unidade partidária. 

Foto: Divulgação/Editora A União

De acordo com Naná, a ideia de resgatar o texto partiu da relevância da análise política desenvolvida por Agnaldo. “O que me levou a retomar esse texto é a riqueza da pesquisa, que enfatiza o lado do jornalismo praticado por Agnaldo, que era especificamente o jornalismo político”, explica.

No prefácio, o jornalista Nonato Guedes, contemporâneo de Agnaldo Almeida, atesta a importância da obra: “É leitura obrigatória o ensaio, por ser elo da narrativa de pedaços importantes da história da Paraíba e, também, por enaltecer o talento de um dos mais completos profissionais de imprensa dos últimos tempos na Paraíba”. Quem assina a apresentação da obra é Iraê Lucena, filha de Humberto Lucena e que também teve passagem pela política como deputada estadual.

Humberto Lucena

A organizadora relembra o contexto da Ditadura Militar, quando a legislação restringiu o número de partidos. O então PSD, extinto em 1965, fora substituído pelo MDB, e, na Paraíba, nomes como Humberto Lucena permaneceram no movimento, acompanhando as mudanças impostas pelo regime. “Na época, não se podia ter nome de partido. Ficou Movimento Democrático Brasileiro. Humberto não saiu do partido. O que houve foram alterações determinadas pelo governo militar”, relatou Naná.

Trata-se de uma leitura acerca da decisiva manutenção da unidade do PMDB em diversos momentos de sua história, focada, sobretudo, em um paraibano dotado de exemplar diplomacia e espírito partidário. “O tema principal era Humberto Lucena. O que fez Agnaldo? Mostrou ao longo da pesquisa como Humberto foi fundamental para manter o partido unido em várias fases e disputas”, detalha Naná. “O partido só ganhava as eleições quando estava inteiramente unido. O elemento fundamental dessa união era Humberto Lucena”, acrescenta.

A análise percorre desde o Golpe de 1964 até a consolidação do partido como força política no estado, abrangendo também a projeção de lideranças nacionais. Para o concurso, Agnaldo adotou um pseudônimo: Ulysses Coutinho — o primeiro, de Ulysses Guimarães, e o segundo, de Humberto Coutinho de Lucena. A comissão avaliadora foi formada por Iveraldo Lucena (1935-2020), à época presidente da Fundação Ulysses Guimarães (PB), o historiador José Octávio de Arruda Mello e Wellington Lucena.

Outros textos

O livro reúne mais quatro colunas publicadas por Agnaldo Almeida no jornal O Momento e na revista A Carta, em 1989, nas quais disserta a respeito do rompimento do então governador Tarcísio Burity com o PMDB, liderado por Humberto. Agnaldo descreve todo o processo de ruptura.

“Ele mostrou como, mesmo diante das mudanças que ocorreram dentro do partido, três pessoas que queriam ser governadores, e que eram do PMDB — [Antônio] Mariz, Humberto e Ronaldo [Cunha Lima] — ao longo do percurso ficaram juntas”, Naná detalha.

Dos três, apenas Humberto Lucena não chegou ao governo do estado. Seu nome chegou a ser citado para aderir à candidatura do governo em duas ocasiões, mas o político abriu mão de lançar-se como candidato em favor da unidade partidária.

“Chegou a eleição e o lema era: no dia 3, vote nos três”, recorda a organizadora. A estratégia resultou na eleição de Antônio Mariz como governador, enquanto Ronaldo Cunha Lima e Humberto Lucena foram eleitos como senadores.

Ao longo de mais de 50 anos de trajetória, Agnaldo Brito Almeida — formado em Farmácia e Bioquímica, em 1976, na UFPB, mas que optou gradualmente pelo jornalismo — dedicou-se intensamente à análise política, em passagens como colunista pelos jornais Correio da Paraíba, O Norte, O Momento e as revistas semanais A Carta e A Semana. Muitas das colunas de Agnaldo foram veiculadas em A União, dos anos de 2012 a 2016. Foi secretário de Comunicação Social do Governo do Estado na gestão de Ronaldo Cunha Lima, em 1990, além de colaborar ativamente com a Associação Paraibana de Imprensa (API) e o Sindicato dos Jornalistas.

Para Naná, a obra reflete uma marca indelével do autor: o rigor investigativo. “A característica dele era checar, checar, checar. Conferir todas as informações antes de escrever e relatar o que sabe, o que viu e o que ouviu”, afirma. Outra convicção forte, em salvaguarda dos princípios deontológicos vislumbrados por um jornalismo ético, quer sejam a imparcialidade e a isenção, era a de que o jornalista nunca deveria se filiar a qualquer partido.

Embora elaborado em específico para um concurso do início dos anos 2000, o ensaio permanece atual pelo retrato histórico que apresenta. “Continua sendo um material importante para entender a trajetória do PMDB na Paraíba e no país”, observa ela. Para além da análise partidária, a publicação busca resgatar um modelo de jornalismo que valorizava o texto analítico e a investigação minuciosa.

“Minha intenção foi mostrar esse outro lado da capacidade jornalística de Agnaldo. Os dados são bem criteriosos, a análise que ele faz sobre as pessoas, sobre as circunstâncias à época. Cuidei de apresentar de modo a preservar a forma como Agnaldo entendia o fazer jornalístico: com clareza, apuração rigorosa e análise política fundamentada”, concluiu Naná.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de agosto de 2025.