O trio musical Guiss Guiss Bou Bess, formado em 2016, reúne integrantes de Senegal e da França, reconstituindo uma antiga relação entre os dois países, marcada, inicialmente, por processos traumáticos de colonização. Atualmente, com novos tons, Mara Seck, Stéphane Costantini e Aba Diopa apresentam o seu projeto que mistura as percussões africanas com as batidas eletrônicas europeias. O grupo faz show amanhã, a partir das 20h, na Vila do Porto, no Varadouro, em João Pessoa. Eles apresentam-se com Chico Corrêa, e quem abre a noite é o conjunto Berra Boi. Os ingressos estão disponíveis no site Shotgun, a partir de R$ 20.
A turnê do Guiss Guiss Bou Bess no país é promovida em parceria com a instituição Aliança Francesa, como parte das comemorações dos 200 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e a França. No repertório, canções autorais que mesclam duas expressões musicais senegalesas: a tradição do sabar, como são chamados instrumentos de percussões típicos, e a contemporaneidade do mbalax, nome dado a um ritmo popular naquela nação africana, com raízes em ritos originários, mas que carrega tintas do jazz, do soul e do funk.
Em entrevista à Tabajara FM, na terça-feira (15), os membros do Guiss Guiss Bou Bess, Chico Corrêa e o atual diretor da Aliança Francesa em João Pessoa, David Seve, detalharam a agenda dessa iniciativa, que começou ontem, na Aliança, com uma conferência da qual participaram Mara, Stéphane e Aba. Eles explicaram a origem do nome do conjunto: “nova visão”, em tradução aproximada do dialeto uólofe (o mais falado em Senegal) para o português.
Chico Corrêa esclareceu que essa parceria com Guiss Guiss, para o show da capital, nasceu de contato anterior com o produtor do conjunto, o francês Valentin Langlois, que sempre lhe apresentava os novos artistas com quem começava a trabalhar. “Acabou que o primeiro disco deles foi mixado aqui, na Paraíba. Eu fiz junto com o Marcelo Macedo, que falou: ‘Você quer mixar?’. Eu acho que eu fiz uma espécie de teste e passei, porque vocês deixaram o mix. Após o disco, a gente continuou o diálogo”, comentou.
Single com Chico Corrêa
Mara atua no conjunto como dançarino-percussionista, além de compartilhar os vocais com Aba, que também toca percussão. Stéphane cuida das bases eletrônicas e de sua interseção com os tambores. O compacto mais recente do grupo chama-se “Jolof Bass music” e foi lançado em 2023. A colaboração com Corrêa, baiano radicado na Paraíba, rendeu um single, a ser lançado em breve: SenéBrasil.
“Os meninos gravaram o vocal e percussões. A Jéssica Caitano (cantora pernambucana) participou também”, detalha.
Antes do show de amanhã eles rumam para Pernambuco, mas retornam à Paraíba onde permanecem até o próximo fim de semana, oportunidade em que realizarão novas atividades junto a Aliança Francesa, além de outro espetáculo gratuito. No sábado (19), eles viajam ao município de Princesa Isabel, no Sertão, onde serão atrações do Festival Território Livre, com Chico Corrêa e Luana Flores: eles encontram o público no Palacete dos Pereiras, a partir das 19h30.
As relações institucionais entre os países citados são celebradas com base num acontecimento marcante: em agosto de 1825, três anos após o famoso “grito do Ipiranga”, a França reconheceu a independência do Brasil. As relações diplomáticas puderam ser consolidadas meses depois com a assinatura do Tratado de Amizade.
Ao longo de 2025, diversas ações culturais têm marcado ambas as nações, a exemplo da participação de realizadores brasileiro no Festival de Cannes. O filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, foi laureado com os prêmios de melhor diretor e melhor ator — este para Wagner Moura.
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*Matéria publicada originalmente na edição impressa do 17 de julho de 2025.