De amanhã até o próximo domingo (23), o Festival Paraibano de Coros (Fepac) reunirá dezenas de conjuntos vocais com uma programação gratuita e uma homenagem ao regente João Alberto Gurgel. Todas as atrações desta 23ª edição terão como palco a Sala de Concertos Maestro José Siqueira, situada no Espaço Cultural, em João Pessoa (Tambauzinho). A abertura, nesta segunda-feira (17), às 20h, será com a ópera Orfeu e Eurídice, peça escrita pelo alemão Christoph Willibald Gluck, no século 18. O texto utiliza como base o mito grego de mesmo nome. Participam desse número o Coro de Câmara Villa-Lobos, da capital, e a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Paraíba (OSUFPB), sob a regência de Carlos Anísio.
O Fepac é coordenado por Eduardo Nóbrega. Ele rememora que o festival nasceu com o objetivo de remontar a história do segmento na cidade: até a década de 1970, os grupos vocais eram maioria em relação às orquestras, situação que se inverteu com o passar dos anos, segundo o maestro. A partir de seu ingresso como professor na UFPB, ele pôde dar vazão ao projeto.
“O primeiro festival era só da cidade de João Pessoa. O segundo tornou-se estadual. O quarto, eu abri nacional. E, do sexto para lá, ele tornou-se internacional. Fomos dando uma ‘injeção’ de ânimo nos maestros e corais. Tanto que, antes desse evento, não tínhamos quase nenhum grupo no interior. Hoje temos uns 10, em Patos, Uiraúna, Bananeiras...”, afirma.
A estimativa de Eduardo é que a capital conte com cerca de 70 corais, com atividade regular — boa parte deles ligados a igrejas evangélicas. Expandindo para todo o estado, esse número, segundo o maestro, ultrapassa os 100 grupos. Uma falha que impede uma conta mais “fechada” é a atuação retraída de alguns grupos circunscritos a bairros e instituições.
“Você tem coral em hospital, em escola. Quer dizer, eles estão na comunidade, mesmo que não os vejamos. Mas, com o Fepac, a Paraíba passa a ser o cenário do canto coral no Brasil. E essa troca de experiências entre os outros coros é importante, porque o Nordeste passa a ter uma noção de como anda essa área. Tudo acontece no Sul e no Sudeste”, sustenta.
Além dos coros que apresentam-se em sequência — de sete a 10, a cada noite —, shows de abertura marcarão a programação do festival. Na terça-feira (18), às 18h, o Noites Boêmias, de Eliza Leão e Clara Bione, passeia pelo repertório de cantoras de sucesso. Na quarta-feira (19), será a vez da Orquestra Armorial do Colégio Marista Pio 10.
“Já na quinta, teremos Felipe Reznik, músico do Rio de Janeiro que vai fazer um concerto com a panela de mão, um tipo de instrumento. Na sexta, o Diamond, grupo de música popular. No sábado, a Orquestra Filarmônica do Centro de Formação Educativo Comunitário [Cefec], da cidade de Santa Rita. E, no domingo, o Quarteto Auros”, elenca.
Quem encerra a programação no último dia é o grupo Trança, coletivo de dança vinculado ao Teatro Ribeiro Conceição, de Portugal — a apresentação começa às 18h. A diversidade encontrada no Fepac, a propósito, é um dos trunfos do evento, atesta Eduardo Nóbrega. Essa amplitude, neste ano, foi propiciada pela abertura irrestrita de participação.
“A voz é um instrumento democrático. Você tem corais de Minas, da Bahia, do Maranhão, do Pará... E você tem conjuntos de penitenciárias masculinas, femininas, de grupos de idosos. Tem até de pessoas traqueostomizadas, pacientes que tratam o câncer na garganta”, detalha.
Para os interessados em ingressar em um coral, de maneira profissional ou amadora, o maestro Eduardo não faz mistério: qualquer um pode participar. Ele ressalta que, para os conjuntos mais consolidados, como o que ele coordena na UFPB, pode haver uma avaliação prévia e que isso demanda o candidato ser afinado.
“É preciso que tenha certo potencial de voz. Saber música não é um pré-requisito. Mas, aqui em João Pessoa, você tem o coral do Sindifisco. Lá não se faz teste. Quem quiser participar, entra. Porque o instrumento já está dentro de você. É só ter a vontade e o tempo disponível”, finaliza.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de novembro de 2025.
