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Dias de concerto

publicado: 11/07/2025 08h56, última modificação: 11/07/2025 08h56
Festival Internacional de Música de Campina Grande começa hoje, com apresentação do “Réquiem” de Mozart
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O “Réquiem” foi apresentado pela Orquestra Sinfônica da UFPB e pelos coros de Câmara de CG e Villa-Lobos no dia 4 | Foto: Diego Almeida/Divulgação

por Daniel Abath*

A 16ª edição do Festival Internacional de Música de Campina Grande (Fimus) começa hoje, mas quem quiser anotar na agenda as datas de edições futuras — precisamente até 2029 — já pode fazê-lo na home do site (fimus.art.br), tamanhos o empenho e respeito despendidos pela organização junto ao festival. Não é para menos: são exatos nove dias de completa imersão no universo da música regional, nacional e internacional. Este ano, a programação do Fimus (que engloba a nona edição do Fimus Jazz) vai até o dia 20 de julho, com a presença de músicos dos Estados Unidos, México e Honduras, e é inteiramente grátis.

As atrações estão divididas em quatro séries. Na “Master”, apresentam-se docentes e convidados no Teatro Municipal Severino Cabral, enquanto “Músicas do Mundo” prioriza as práticas tradicionais, com apresentações das bandas Avuô e Mateus e o Bando do Norte, dia 19, às 16h, no distrito de São José da Mata. A série “Jovens Talentos” reúne uma seleção de grupos que se apresentam em datas espaçadas, durante todo o segundo semestre, e o segmento “Música para Todos” conta com ações musicais em diferentes pontos da cidade — a exemplo da Orquestra Jovem e de Câmara da UFCG, no domingo (13), às 15h, no Mosteiro Santa Clara.

Homenagens

A edição de 2025 presta homenagem a duas figuras ilustres da música brasileira: a pianista e compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935), cujo falecimento completa 90 anos, e o maestro argentino José Alberto Kaplan (1935-2009), que completaria 90 anos de nascimento.

Segundo o professor e maestro Vladimir Silva, idealizador do evento, a escolha da homenageada se deve à sua relevância histórica e cultural. “Ela rompeu com muitas barreiras e deixou contribuições, conquistando um espaço muito difícil para as mulheres de modo geral”, afirma. Ao longo da programação, diferentes formações apresentarão obras de Chiquinha, com destaque para arranjos inéditos e interpretações de músicos convidados. “Vamos ter vários recitais com obras dela e músicos convidados que vão mostrar a versatilidade e a grandeza de Chiquinha Gonzaga”, acrescenta Vladimir.

Paralelamente, o festival inaugura um novo formato de ação com o primeiro simpósio acadêmico de sua história. O evento ocorrerá no domingo (13), das 8h às 18h, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), e tem como foco o legado do maestro José Alberto Kaplan, detentor de trajetória marcante no ensino e na prática musical na Paraíba.

“Kaplan é um personagem importantíssimo na história da música na Paraíba. Trabalhou em Campina Grande durante alguns anos, depois foi para João Pessoa e deixou esse legado enorme como professor e maestro, sobretudo no âmbito da UFPB”, observa Silva. A proposta do simpósio é se tornar uma ação anual, sempre dedicada à memória de músicos paraibanos ou radicados na Paraíba.

Réquiem de Mozart

Outra atividade de destaque será o concerto de abertura, hoje, às 20h, no Teatro Municipal Severino Cabral. A exemplo de edições anteriores, a apresentação reunirá orquestra e coros, com a participação de alunos e professores. A obra escolhida para este ano é o Réquiem, de Mozart, em parceria com a Orquestra Sinfônica da UFPB, repetindo colaboração iniciada em 2024.

“É uma obra inacabada, que Mozart não conseguiu concluir. Quem concluiu foi um dos alunos dele”, explica o maestro. “Apesar de ser um réquiem, ela tem momentos de lirismo e poesia, mas também momentos dramáticos. É uma obra que nunca perdeu a sua validade, embora escrita há mais de três séculos”.

Série Master e Fimus Jazz

Sempre às 20h, no Teatro Municipal, as atrações internacionais da Série Master também marcam presença. Entre os convidados estão a cantora mexicana, radicada nos EUA, Paulina Villarreal (dia 16), a flautista Julie Koidin (17), o professor de regência vietnamita norte-americano Francis Cathlina e a regente instrumental Wendy Moy (ambos no dia 18), entre outros.

Duo Sertão (no dia 13), Quinteto da Paraíba (19) e o pianista Uaná Barreto fazem as vezes da terra no segmento da música universal. O contrabaixista Xisto Medeiros, que já tocou em outras edições do Fimus, aponta as participações de Uaná e do sanfoneiro Helinho Medeiros junto ao Quinteto.

“O festival é maravilhoso. Traz uma programação extensa e diversificada com grandes artistas do cenário nacional e internacional. É sempre uma honra e um prazer muito grande poder tocar no Fimus”, atesta Xisto.

Uaná Barreto esteve no festival pela primeira vez em 2022 e agora retorna em recital de composições autorais e de grandes nomes da música brasileira. “Estarei participando com um repertório de arranjos escritos especialmente para piano e quinteto de cordas, junto ao Quinteto da Paraíba”, detalha ele.

Seu quarteto de música instrumental, o Alamiré, também se apresenta, mas em data futura (14 de novembro, às 19h30, na UFCG), vinculado ao segmento “Jovens Talentos”. “É uma alegria muito grande poder participar desse festival, que é uma vitrine da música instrumental brasileira”, declara.

A cantora Indiana Nomma, filha de pais brasileiros e nascida em Honduras, com trajetória no canto erudito, piano e música popular, fará o show de encerramento no dia 20, dentro do Fimus Jazz, braço do festival dedicado às sonoridades populares e improvisadas. “Há nove anos abrimos essa versão do jazz. Dividimos dois fins de semana entre o jazz e a música de concerto, mas sempre misturando”, conta o idealizador.

Com público crescente, o festival tem mesmo apostado em planejamento de longo prazo. Segundo Silva, isso se justifica pela necessidade de agendamento com antecedência de professores estrangeiros e pela consolidação institucional do evento.

“Eu tenho pessoas que dizem: ‘Gostaria de ir para o festival, mas somente em 2027’. Então a gente precisa desse planejamento”, explica. “Independentemente da política nacional, de quem está ou não no poder, precisamos criar um calendário com datas fixas para que as pessoas se programem e entendam que aquele evento não vai deixar de existir”.

Ao rememorar episódios marcantes da trajetória do Fimus, Silva menciona a homenagem ao trombonista Radegundis Feitosa, em 2011, quando a lotação do teatro gerou uma aglomeração inusitada. “Havia tanta gente tentando entrar no teatro que foi preciso acionar a polícia. Eu disse: ‘é a primeira vez que vejo, na cidade do maior São João do mundo, o povo querendo entrar no teatro para assistir música de concerto’. As pessoas só precisam ter uma oportunidade de ouvir um produto diferenciado. O público responde”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de julho de 2025.