Notícias

teatro

Estrangeiro de Mim fala de pessoas e territórios

publicado: 18/11/2025 08h48, última modificação: 18/11/2025 08h48
Peça será apresentada hoje e amanhã, em Santa Luzia, e depois em João Pessoa
FOTO 2.jpg

Espetáculo é montagem do coletivo de teatro Andarilho | Foto: Divulgação/Las Palozas

por Esmejoano Lincol*

Os deslocamentos urbanos e a relação do indivíduo com o território são o tema principal de Estrangeiro de Mim, espetáculo que o coletivo de teatro Andarilho apresenta hoje e amanhã (19), sempre a partir das 19h30, no Café Cultura em Santa Luzia. Nesta semana, a peça também será encenada em João Pessoa — quinta e sexta (20 e 21), também às 19h30, na Sala Vladimir Carvalho da Usina Cultural Energisa. O grupo ofertará, ainda, duas oficinas de dramaturgia. Toda a programação tem entrada franca.

Lançado em 2023, com direção de Cris Diniz e texto do coletivo, Estrangeiro de Mim põe em cena os atores Marcelo Teixeira e Tomaz Mota, num diálogo com o público. No limiar entre realidade e ficção, a dupla compartilha suas experiências no êxodo da Paraíba e da Bahia rumo a São Paulo. 

“No Sudeste, eles são vistos como ‘os de fora’, carregando estigmas e enfrentando preconceitos; ao retornar à Paraíba ou à Bahia, passam a ser percebidos como aqueles que já não pertencem totalmente ao lugar de onde vieram. Entre esses dois territórios, instala-se uma sensação constante de desenraizamento”, explica Marcelo.

Essa circulação gratuita conta com recursos do Fundo Municipal de Cultura da capital (FMC). Além das sessões da peça, a dupla apresenta duas oficinas, nos mesmos locais das apresentações, das 8h às 11h – amanhã, em Santa Luzia, Marcelo Teixeira ministra “Corpo andarilho”; na sexta-feira (21), em João Pessoa, Tomaz Mota fala sobre o “Som da cena”. O link para as inscrições está disponível no perfil @corpo.andarilho, no Instagram

“Estimulamos o contato direto com os processos que sustentam o espetáculo. As oficinas são destinadas a participantes a partir de 16 anos e concedem certificação ao final”, informa.

O coletivo é formado por artistas radicados ou nascidos na Paraíba, que trazem na bagagem seus próprios deslocamentos. Marcelo revela que essas viagens, na maior parte das vezes, tiveram por objetivo buscar melhores condições de vida; as estradas que ele e Tomaz percorreram Brasil afora também pavimentam Estrangeiro de Mim. 

“Essas vivências atravessam diretamente a criação. Essa condição de estar sempre entre dois mundos — nunca completamente aqui, nem inteiramente lá — compõe a base afetiva e política da peça, transformando o espetáculo em um gesto de resistência, pertencimento e escuta”, justifica.

Marcelo opta por não definir pragmaticamente como “personagens” os entes que ele e Tomaz perfazem nos palcos, já que boa parte do roteiro foi construído por meio de auto-ficção, ou seja, há algo de autobiográfico em seus diálogos. A propósito dessa fluidez, Cris Diniz, artista não-binário, adicionou ao texto a discussão identitária dá mais escopo à empreitada. 

“Sendo de outro contexto cultural, Cris conseguiu enxergar nossos materiais a partir de um lugar de distanciamento. Esse olhar de fora ajudou a reorganizar a dramaturgia, evidenciar camadas simbólicas que às vezes nós mesmos não percebíamos”, sustenta.  

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de novembro de 2025.