O livro de memórias da escritora Maria Christina Lins do Rego Veras ostenta, no título, um adjetivo que define o modo como os relatos aparecem em sua cabeça. Mas essa palavra não qualifica, nem de longe, sua capacidade prodigiosa de rememorar fatos ocorridos em seus 92 anos de vida — estes, consolidados, não dão sinais de que irão embora de sua mente. A filha de José Lins do Rego traz a público Lembranças Passageiras, da Editora A União, num lançamento hoje, às 18h30, na Livraria Argumento, no Rio de Janeiro. Em breve, a obra deve ganhar evento similar em João Pessoa.
A obra começou a ser produzida durante a pandemia e está dividida em sete capítulos, que conduzem o leitor por momentos--chaves da vida de Maria Christina, de forma detalhada. O primeiro deles, também chamado de “Lembranças passageiras”, precipita um caminho não linear, ora pelos “verdes anos” da autora, ora por viagens que ela fez, já adulta, além dos encontros com entes queridos. Já “Quênia” e “Jamaica” debruçam-se sobre estadias curta e longa, como embaixatriz, nesses países; Maria Christina foi casada com o embaixador Carlos dos Santos Veras.
Mas nem todas essas “lembranças passageiras” são agradáveis. Maria Christina compartilha com pesar uma grosseria do embaixador sergipano Gilberto Amado, admirado por Zé Lins e com quem se encontrou num evento oficial.
“Eu estava grávida e tinha acabado de perder meu pai. Então, eu fui apresentar”, conta, em conversa com A União. “‘Meu pai falava tanto no senhor’. As lágrimas começaram a correr e fui me afastando. Depois, alguém contou para meu marido o que ele teria dito. ‘Coitadinha. Pensa que é filha de um homem importante’”.
Ao mesmo tempo, José Lins do Rêgo desponta como personagem principal de muitas das memórias de Maria Christina, que nasceu e mora, atualmente, na capital fluminense,. Não à toa, o autor de Fogo Morto estampa a capa da obra, numa foto ao lado da filha.
“Eu comecei a ir à Paraíba com oito anos de idade, com minha mãe. Conheci a praia e o famoso Engenho Corredor. Voltei depois com meu filho, para fazer uma exposição”, sinaliza. “Quando se está com muita idade, às vezes você está sentada e a sua vida vai passando assim, ‘aos pedaços’. Não é uma sequência de como começou. E assim eu fui escrevendo”, resumiu assim o livro.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 02 de Outubro de 2025.