Na última semana, cinco filmes produzidos na Paraíba foram selecionados ou exibidos em festivais em cidades do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e até na Europa. A lista inclui: Corpo da Paz, de Torquato Joel, e O Nordeste sob a Caravana Farkas, de Arthur Lins e André Moura Lopes, ambos selecionados para o 58o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro; Quando Sair Lá Fora Serei Ana, de Jamila Facury e Edson Lemos, no 36o Festival Internacional de Curtas de São Paulo (Kinoforum); Mistério no Seridó, de Carlos Mello, parte da programação do Festival Internacional Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM); e Malaika, de André Morais, que estréia no 34o Festival de Cinema de Biarritz, ao sul da França.
Corpo da Paz é ambientado no interior da Paraíba, no contexto da ditadura militar. A chegada de um pesquisador norte-americano transforma a paisagem de uma pacata cidade nordestina. O filme é inspirado num dado de fora da ficção: a vinda de agentes estadunidenses para o interior do país, com intuito de “fiscalizar” a suposta ação de Cuba no país.
“A gente ouviu recentemente um secretário de Donald Trump comentar que, ainda hoje, a América Latina é o quintal dos Estados Unidos, na mentalidade de que pertencemos a eles. Esse filme é uma discussão sobre território — primeiro como país e sua soberania. Segundo, território enquanto corpo — pessoal e intransferível. O nosso templo” explica Torquato.
O Nordeste sob a Caravana Farkas remonta a passagem do artista visual Thomaz Farkas, húngaro radicado no Brasil, pelos rincões do nosso país em busca de registros de paisagens inéditas. Os realizadores reencontram muitos dos locais que estiveram sob as lentes do fotógrafo nos anos 1960, tecendo pontes entre as imagens captadas naquela ocasião e aquilo que encontraram agora, no século 21.
O projeto foi concebido inicialmente como uma série documental, que ganhou um corte de 102 minutos para essa projeção em Brasília. A iniciativa de Arthur Lins e do cearense André Moura Lopes faz parte do segmento de sessões especiais. O festival começa dia 12 de setembro.
Em Quando Sair Lá Fora Serei Ana, Jamila Facury, também diretora e roteirista, empresta corpo e voz para Kelly, personagem que, para fugir da perseguição do ex-companheiro, pede apoio ao Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita), assumindo nova identidade.
“Essa mulher tenta retomar a sua vida, mas essa violência reverbera nos caminhos dela e em sua subjetividade, como no simples fato de limpar a casa e colocar o lixo na rua. O filme fala sobre ser possível nos reestruturar apesar de tudo isso, por meio desse programa”, assinala a protagonista. O curta foi exibido no último dia 24, em São Paulo, mas o Kinoforum segue até domingo (31).
Mistério no Seridó também foi concebido, inicialmente, como uma minissérie, que ganhou edição em longa-metragem este ano. Baseada em um livro homônimo, também escrito por Carlos Mello, a comédia com ares policiais retrata a investigação do assassinato do coronel Tenório (Erivan Lima), durante um jantar em sua casa.
“Esse reconhecimento nos deixa muito satisfeitos. Sou médico, mas também sou cinéfilo, mantenho esse encanto pela sétima arte. Mesmo sabendo que é difícil ganharmos algum prêmio, ser aprovado para concorrer com o Mercosul inteiro é motivo de orgulho”, assevera Carlos. O filme será exibido em 5 de setembro dentro do segmento Work in Progress (WIP), no festival em Florianópolis.
Malaika, conta a história da adolescente de mesmo nome, interpretada por Vitória Bianco. Nascida albina, ela enfrenta os desafios de uma sociedade pouco aberta às minorias. André Morais foi inspirado por uma exposição do fotógrafo Gustavo Lacerda, com fotos de pessoas com essa condição e, principalmente, pela solidão aparente que muitas delas.
“Estamos com uma filmografia emergente nos longas de ficção. A continuidade das políticas públicas voltadas para produção, desenvolvimento, e distribuição é fundamental para que as narrativas ganhem força e possam conquistar os espaços no mercado internacional”, conclui o diretor. Malaika ganha janela de exibição em Biarritz a partir de 20 de setembro.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de agosto de 2025.