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Ideias cinematográficas

publicado: 26/11/2025 09h04, última modificação: 26/11/2025 09h04
André Cananéa reúne artigos sobre a sétima arte em “Luz & Sombra – 32 Pensamentos sobre Cinema”, que será lançado amanhã, no primeiro dia do FliParaíba
2025-01-30 André Cananéa © Carlos Rodrigo (23).JPG

André Cananéa divide com o leitor pensamentos sobre obras como “Tubarão”, os filmes de James Bond ou a série “Cangaço Novo” | Foto: Carlos Rodrigo

por Daniel Abath*

A abertura da primeira videolocadora de João Pessoa, uma foto histórica da estreia do longa de suspense Tubarão (1975) no extinto Cine Plaza ou mesmo uma atípica aparição de alguma estrela de Hollywood. Tudo pode iluminar as sombras dos esboços e servir de roteiro para os textos que o jornalista e gerente- -executivo da Rádio Parahyba FM, André Cananéa, publica semanalmente como colunista do caderno Cultura do jornal A União, ora reunidos no livro Luz & Sombra – 32 Pensamentos sobre Cinema (Editora A União, 140 páginas, R$ 40). A obra será lançada amanhã, às 18h, no primeiro dia da segunda edição do Festival Literário da Paraíba, o FliParaíba 2025, que acontece até sábado (29), no pavilhão do evento, ancorado ao Centro Cultural São Francisco, no Centro da capital. O livro também será lançado no Fest Aruanda, no dia 7 de dezembro, às 17h.

Com prefácio, posfácio e orelhas aos cuidados textuais de três colegas jornalistas muito próximos do autor — em respectivo, Tiago Germano (também colunista do caderno Cultura), Audaci Júnior (editor do suplemento literário Correio das Artes) e William Costa (editor de Mídia Impressa da Empresa Paraibana de Comunicação) —, o livro reúne as mais de três dezenas de textos publicados por Cananéa desde fevereiro de 2019 até então.

Lançando luz sobre cinema, música e comportamento, o autor resolveu fazer uma triagem das reflexões dedicadas apenas à sétima arte — dos mais de 300 textos registrados pelo autor no caderno, os de cinema ultrapassam a casa dos 100. 

David Lynch, Alfred Hitchcock e Walter Carvalho são alguns dos cineastas abordados no livro | Imagem: Divulgação/Editora A União

“E aí eu descobri o seguinte: eu não escrevo só crítica de cinema. Como fazia Barretão [Antônio Barreto Neto (1938–2000)], como fazia Linduarte Noronha [1930–2012]. Eu escrevo pensamentos e curiosidades, mas, principalmente, gosto muito de resgatar memórias”, afirma André.

Dividido por temas, como “Pensamento de crítico”, “Antigamente era melhor (era?)” e “Gente da tela”, o livro perfaz aquilo que o jornalista chama de uma salada de estilos. “Tem até um obituário da Shelley Duvall. E eu geralmente nem escrevo, mas vi uma foto dela que me chamou tanto a atenção que resolvi falar sobre ela — era uma foto dela sem dentes. Acabei incluindo no texto pela curiosidade”, conta ele.

Ao longo do livro, ele também evoca a produção do cinema paraibano em texto de quatro ou cinco anos atrás, reconhecendo o salto qualitativo das realizações do estado. Afeito ao olhar sobre aquele período, percebeu, depois de montada a obra, tratar-se de uma revisão das fotos do tempo; espécie de polaroides refletivas do período pandêmico, no qual André não parou de escrever, imerso na arte de fazer um jornal diário diante das condições mais desafiadoras, quando assumiu o comando deste periódico.

Luz, música, APC

Frente ao objeto de Luz & Sombra, muita gente faz a mesma pergunta: “Por que o livro de André é sobre cinema e não sobre música?”. Quem conhece a trajetória de André Cananéa como jornalista cultural sabe que o escritor sempre cultivou a marca da crítica musical.

“Tem uma coisa que eu acho muito engraçada nisso”, diz ele. “Eu cresci vendo muito filme, tenho um pai que é cinéfilo e eu me tornei cinéfilo graças a ele. É um pai que gosta de cinema e gosta de colecionar filmes — tinha uma coleção em VHS, depois o mundo vai pra DVD e agora mistura DVD com blu-ray. Eu também tenho uma coleção motivada mais pelo material extra, pelos bônus, making-ofs, documentários”.

Colecionador assumido de filmes em mídia física — ele contabiliza em torno de quatro mil títulos —, muito em função dos materiais adicionais agregados ao trabalho em si, deixa entrever essa faceta de sua vida pessoal e profissional em um dos textos do livro. Mas, para além do universo fílmico, sempre ouviu muita música, tendo quebrado antigas amarras de uma tradição familiar afeita à ortodoxia sonora.

“Talvez eu tenha sido o ouvinte mais eclético de música que se tem na família. Isso vem de um tio que gostava muito de rock internacional; vem de uma tia que só ouvia forró; meus pais discutiam muito MPB — meu pai, especificamente, é ‘beatlemaníaco’. Então eu sou a miscelânea”, explica.

Cananéa afirma que a razão de não ter aportado primeiro nas searas do cinema deveu-se ao editor deste caderno, o jornalista e crítico de cinema Renato Félix. Ele lembra que os dois se conheceram na UFPB, mas só vieram a trabalhar juntos no descontinuado impresso Jornal da Paraíba.

“Na configuração que a gente tinha lá, mais enxuta, naturalmente Renato foi escrever sobre cinema e coube a mim a música. Quando Renato saiu do Jornal da Paraíba para o Correio da Paraíba, eu fiquei no vácuo com o cinema. E aí comecei a dividir com Audaci algumas pautas de cinema”.

André fechou seu périplo em A União, quando, enfim, viu se encontrar de vez com a especialidade cultural. “Eu já estava com uma maturidade muito boa em cinema, né? Já estava com alguns anos de estrada rodada, de pesquisa mesmo, de parar pra ler livro e assistir muito documentário. O livro vem de um resultado de um jornalista de cultura que eu fui a vida inteira. Até hoje eu sou um jornalista da área de cultura, mas os textos refletem esse momento da maturidade cinematográfica”.

O autor confessa que boa parte do seu tempo gira em torno do cinema. “Eu vejo filme todo dia. Todo dia mesmo, sem exagero. Aí varia se é no streaming, se é no DVD. Mas todo dia eu tiro um tempinho lá pra assistir alguma coisa, nem que seja um pedaço de um filme”. Não à toa, em julho deste ano, André foi eleito como novo membro da Academia Paraibana de Cinema (APC), ocupando a cadeira 27 da instituição, vaga em função da morte do jornalista Carlos Aranha (1946–2024).

Aos 50 anos de idade e com quase 30 anos de carreira na imprensa, André Cananéa passou pelos quatro principais jornais da Paraíba a partir de 1997: Correio da Paraíba, O Norte, Jornal da Paraíba e A União — neste último, foi editor do caderno Cultura, do Correio das Artes e editor-executivo do periódico, justo durante o período da pandemia de Covid-19.

Atualmente, é gerente-executivo de Programas e Conteúdo da Parahyba FM, emissora que integra, junto com A União e a Rádio Tabajara, a Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), em João Pessoa (PB) —compõem a grade os programas Ouça um Filme, no qual André entrevista cineastas e cinéfilos, além da coluna “Em cartaz”, com dicas e comentários acerca da programação dos cinemas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 26 de novembro de 2025.