Quando algum conterrâneo “ousava” perguntar para onde ia Severino Noé, figura folclórica do município de Brejo do Cruz, Sertão do estado, o homem respondia, de forma jocosa e enigmática: “Nem eu mesmo sei”. Disposto a remontar a trajetória desse paraibano, de origem nebulosa, mas de contribuição seminal para a cultura da cidade, o fotógrafo Aurílio Santos lançará, na próxima sexta--feira (10), o livro Severino Noé, Vida e Imaginário. O evento será gratuito, às 19h, na Casa de Cultura Elpídio Dantas, em Brejo do Cruz.
Além de estrear o registro em texto, Aurílio exibirá, na ocasião, um curta-metragem documental, que traz algumas entrevistas com Noé, coletadas esparsamente. O filme, dirigido pelo autor, foi rodado antes da morte de seu biografado, em 2020. “Era uma figura que andava sem destino, cheio de fantasias. Virou personagem de cordel, em 2012, num ‘encontro virtual’ com Zé Ramalho (também nascido em Brejo do Cruz). O novo livro conta com histórias que as pessoas escutaram dele e que ele mesmo contava, além de ilustrações”, detalha.
Aurílio rememora que os primeiros contatos com ele se deram na infância. Ele não sabe ao certo a partir de que momento Noé tornou-se andarilho, mas assinala que, ao menos na aparência, ele fugia dos estereótipos que conhecemos de pessoas em situação de rua.
“Desde os meus 12 anos eu o via, ele não era maltrapilho, parecia uma figura medieval. Contava que chegou a Brejo do Cruz em cima de uma barra de sabão e que tinha sobrevivido a um naufrágio na Grécia”, afirma.
Os “causos” que mais chamam a atenção de Aurílio são os que envolvem a “prodigiosa” matemática de Noé, que dizia ter uma fórmula supostamente infalível para calcular o peso da fumaça: aferir a lenha, colocá-la para queimar e, por fim, atestar quanto sobrou de cinzas.
“O resto era fumaça”, conta o autor, rindo. “Um deputado lhe perguntou como poderia calcular, do mesmo jeito, o peso de uma serra. Ele respondeu dizendo que era só colocar aquele montante de terra num objeto que coubesse tudo”, relembra.
O livro poderá ser adquirido durante o lançamento por R$ 50. Depois, a obra estará à venda por meio do perfil do escritor no Instagram (@auriliosantoz). A importância do projeto, segundo Aurílio, repousa na possibilidade de darmos voz a esse personagem tão incompreendido.
“Severino Noé, como tantas outras pessoas ditas invisíveis, tem sua posição dentro da sociedade, destacando-se com suas histórias e percepções. Essa figura, digamos, exótica, nos desperta para essa tentativa de unir o real com o imaginário”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de Outubro de 2025.