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Mino Carta foi mestre do jornalismo

publicado: 03/09/2025 09h00, última modificação: 03/09/2025 09h00
Ele fundou e dirigiu revistas importantes como Veja, IstoÉ e Carta Capital
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Carta fundou “Carta Capital” em 1994; foi sua revista que noticiou seu falecimento | Foto: Reprodução/Carta Capital

por Daniel Abath*

Em 11 de setembro de 1968 chegava às bancas de todo o país o primeiro número da revista Veja. Na direção de Redação estava o jornalista Demetrio Carta, mais conhecido como Mino Carta (1933-2025), circunstância que viria a se repetir nos principais veículos de comunicação nacionais nos quais passou a escrever sua história. A confirmação de sua morte na madrugada de ontem, aos 91 anos, partiu da revista Carta Capital, a mais conhecida publicação do jornalista. A publicação informou que o profissional lutava há um ano contra problemas de saúde, passando por constantes internações, a última por duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Ontem, o Palácio do Planalto divulgou nota de pesar, assinada pelo presidente Lula. “Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi — e sempre será — uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras”, afirma o texto, declarando três dias de luto oficial em todo o país.

“Mino Carta, personagem complexo de uma imprensa que não existe mais. Fui da sua equipe quando ele dirigia a IstoÉ”, declarou o jornalista e escritor Mario Sabino, no X (antigo Twitter). Já o jornalista e doutor em Filosofia Política pela USP, Martim Vasques da Cunha lembrou, consternado, das recentes (e irreparáveis) baixas no mundo intelectual: “Jaguar, Veríssimo, Mino Carta — todos estes nomes lendários estão desaparecendo e, o pior, não há quem os substitua”.

Nascido aos seis dias de setembro de 1933, na cidade italiana de Gênova, Mino detinha nacionalidade ítalo-brasileira, já que sua família chegou a São Paulo em agosto de 1946. De acordo com a Carta Capital, a inclinação para criar e dirigir publicações vinha do sangue: seu avô materno, Luigi Becherucci, chegou a dirigir o jornal genovês Caffaro, depois impedido de fazê-lo pelo fascismo na Itália. Mino Carta integrava a terceira geração de jornalistas da família — seu pai, Giannino, também era jornalista.

Mino Carta cursou Direito na USP, mas não concluiu. Retornou à Itália, em 1956, e 10 anos depois voltou de vez para o Brasil. Em sua trajetória, criou e dirigiu algumas das mais influentes revistas do país, a exemplo de Quatro Rodas (1960), Veja (1968), IstoÉ (1976) e a referida Carta Capital (1994). Na época em que dirigia Quatro Rodas, Carta foi convidado pelo jornal O Estado de S. Paulo a assumir o caderno de Esportes como editor, o que lhe conferiu a experiência necessária para fundar o Jornal da Tarde.

Mino Carta foi casado com Maria Angélica Pressoto, falecida em 1996. Seguindo os passos da família, o também jornalista Gianni Carta, um dos filhos de Mino, morreu em 2019, vítima de câncer — ele deixa no mundo uma filha, Manuela Carta. Restam consumadas pela comunidade jornalística as diversas contribuições do profissional para o aperfeiçoamento da imprensa brasileira.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 3 de setembro de 2025.