O título faz menção ao piloto de guerra alemão Manfred von Richthofen, abatido na Primeira Guerra Mundial. Definido por Aguiar como um romance histórico, a obra acompanha Paulina, que partiu, há muitos anos, de seu vilarejo natal, Jerimum.
Ela decide voltar quando recebe um telegrama avisando sobre a morte de Otaviano, amigo que zelava pelos bens da família. Nesse retorno, ela encara as lembranças pouco agradáveis da infância, materializadas em um antigo casarão, que é cuidado, no presente, por Juliana.
“É uma travessia para dentro de si mesmo, sobre como os lugares e objetos carregam a memória dos que os habitaram e de como, às vezes, o maior confronto que temos é com a própria lembrança”, resume o editor.
Com 206 páginas o romance foi concluído entre 2008 e 2009. A idéia de trazê-lo a público foi uma iniciativa do próprio Aguiar, que soube do romance arquivado em conversa com Maria Valéria Rezende, escritora convidada para mediar o evento de lançamento e que também esteve na gênese de Clube do Conto.
O processo de edição foi tranqüilo, segundo o responsável pela Dromedário. “A capa do romance também foi um prazer pra gente, a cargo do fotógrafo Adriano Franco, que trabalhou a partir de um objeto afetivo (um avião de madeira) numa janela de Olinda (PE). O projeto gráfico foi de Luyse Costa. Na orelha, temos textos de Hildeberto Barbosa Filho, Antonio Mariano e Maria Valéria”, detalha.
A intenção da editora e dos familiares de Maciel é fazer reimpressões de outros livros do autor, natural de Nova Palmeira, situada na Borborema — são quatro romances e três reuniões de contos. A maioria está fora de catálogo e alguns são raros em sebos.
Dentre os temas explorados com freqüência pelo escritor está o retrato de vidas marcadas por conflitos. “(Os textos são ambientados) Nas pequenas cidades, nas gerações que atravessam os anos, nas estruturas sociais do nosso país, pela vida concreta de personagens individuais. Ao mesmo tempo, subjaz também um rico arsenal de tipos marcantes e algumas histórias em que o cômico, o cotidiano e até um certo tom fabuloso, apareciam também”, assinala.
Começo aos 43 anos
Quando Geraldo Maciel nasceu, Nova Palmeira ainda era um distrito da cidade de Picuí. Na infância, rumou para Catolé do Rocha e em seguida para João Pessoa, onde cursou Engenharia Civil, na UFPB. Enveredou pela pós-graduação e trabalhou, mais tarde, como professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, por fim, na própria UFPB.
Começou na literatura aos 43 anos e logo na estréia, foi premiado como escritor revelação pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult). No período em atividade, oscilou entre narrativas curtas, como O Inventário de Pequenas Paixões (2000), e longas, a exemplo de Peccata Mundi (2008). Também nos anos 2000, foi criador da editora Manufatura.
Recordando os primórdios do Clube do Conto, André Ricardo Aguiar rememora também a importância de Maciel na constituição desse coletivo. A cada final de semana, os membros reúnem-se para um exercício de escrita criativa, pautados por temas específicos. No encontro seguinte, eles lêem o que escreveram na rodada anterior e pensam no próximo desafio.
“Ele chegou lá com o que já sabíamos, que era um excelente contador de histórias. Ele deu substância ao Clube, mas também colaborou muito, nos palpites, no pragmatismo em editar revistas do conto, as atas, e claro, na sua generosidade como pessoa, que sabia se relacionar muito bem. Eram sessões de muito afeto e camaradagem”, sinaliza.
Prestes a completar dois anos, a Dromedário foi responsável por editar alguns dos textos do coletivo, como em Sábado (coletivo) e Toda Palavra Dá Samba (“voo solo” de Maria Valéria Rezende). À Espera do Barão Vermelho é o primeiro romance no catálogo da editora — será vendido numa primeira etapa por um preço promocional, R$ 50.
“E, claro, é importante também por ser de um grande escritor, cuja obra merece ser mais conhecida. O seu legado continua, pois sua literatura é feita de histórias que emocionam e trazem um maior conhecimento sobre o mundo que vivemos, seja na aldeia, no interior ou em qualquer lugar”, pontua.
Fátima Araújo, professora aposentada do Departamento de Ciências Sociais da UFPB é viúva de Geraldo Maciel. Remontando a trajetória do marido, que adjetiva como generoso, ela esclarece que também é natural de Nova Palmeira e que o conheceu na infância. O casamento de 40 anos rendeu, como frutos, três filhos e um neto, que ele lamentavelmente não chegou a conhecer.
“Os meus livros prediletos são Aquelas Criaturas Tão Estranhas, seu primeiro livro de contos, de 1995, e o próprio À Espera do Barão Vermelho, que lançaremos hoje e que era o único a permanecer inédito. Para a família, apesar da emoção que está causando, achamos importante que os amigos e leitores conheçam a sua última obra”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de julho de 2025.