O encontro entre a Orquestra Sinfônica titular e a Orquestra Sinfônica Jovem da Universidade Federal da Paraíba (OSUFPB e OSJUFPB, respectivamente) promoverá, hoje, um intercâmbio que irá além das trocas entre gerações de instrumentistas falantes do português. No comando de ambos os conjuntos e atuando, também, como solista, estará o maestro e professor estadunidense David Korevaar — que visita o estado pela sétima vez em uma década. O concerto O Piano de Mozart será realizado às 20h, na Sala Radegundis Feitosa, no Departamento de Música (Demus) do Campus I da UFPB (no bairro do Castelo Branco, João Pessoa).
A entrada é franca e os lugares são limitados à lotação do local (distribuídos uma hora antes do concerto). Essa apresentação reunirá, no palco, 40 músicos, a cargo dos concertos para piano e orquestra “K.451” e “K.503”, dois dos 27 compostos de Mozart, austríaco e autor de mais de 600 peças.
A “ponte” entre David e o Brasil foi firmada graças à docente Luciana Noda, vinculada ao Demus. Ao tornar-se bolsista do Programa Fullbright, nos Estados Unidos, ela foi orientada pelo norte-americano em uma pesquisa de pós-doutorado.
“Fui professora visitante na Universidade do Colorado, na cidade de Boulder, onde David trabalha. Comecei a trazê-lo porque ele sempre teve interesse de vir para cá, mas sempre pagando tudo com o dinheiro dele”, explica.
Antes do concerto de hoje, o artista internacional ministrou uma aula magna e uma masterclass de música de câmara para os estudantes da UFPB, nos dias 20 e 21 de maio, respectivamente, programação similar à das outras ocasiões em que visitou a Paraíba. Luciana afirma que David já está habituado aos músicos locais, interagindo bem com os alunos, os membros da orquestra adulta e o ambiente.
“Nas vezes anteriores, as masterclasses eram de piano. Agora, ele quis mudar para música de câmera, que é a disciplina que eu leciono aqui. Ele às vezes fala do nosso clima, que é muito quente. Mas acho que ele gosta, já que fez outras seis viagens até aqui”, revela.
A presença de David junto às orquestras acadêmicas eleva o nível das atividades que elas realizam em conjunto, de acordo com Luciana, mas não apenas pela oportunidade de absorver novos conhecimentos técnicos. O instrumentista costuma trazer à baila obras menos conhecidas de compositores famosos, como no caso do evento de hoje. “Sobre o ‘K.451’ e o ‘K.503’, as pessoas tocam pouco porque, além da orquestração numerosa, é uma peça muito difícil para piano. David vai tocar e reger e tocar. São dois concertos muito raros de se ouvir em público, tanto aqui no Brasil, quanto lá fora. Então o público vai ter uma oportunidade também muito rara de conhecê-los”, antecipa.
Passeios inspiradores
- O pianista e maestro irá comandar interpretações de duas obras de Mozart | Foto: Manfred Fuß/ Divulgação
Em mais de quatro décadas de carreira, o hoje acadêmico David Korevaar manteve um laço constante com a trajetória nos estúdios e nos palcos. Tem mais de 50 discos lançados e acumula apresentações solo e em parceria com outros conjuntos, a exemplo do quarteto Takács. Mas todo esse caminho teve início aos oito anos de idade, quando, seguindo no rastro dos irmãos, partiu para as aulas de piano.
“Eu era bastante competitivo, então, quando meu irmão, três anos mais velho, começou, insisti para começar também. Amei desde o início, mas o mais importante aconteceu quando comecei a estudar com o grande e virtuoso músico Earl Wild, aos 12. Foi então que soube que era isso o que eu precisava fazer”, rememora, em entrevista para A União.
A carreira docente, na idade adulta, também surgiu por influência dos pais, professores na área de ciências exatas. Ele atesta que não “poderia escapar do mundo universitário”, mesmo que tentasse. Aos 35 anos, voltou à Juilliard School, em Nova York, onde concluiu o doutorado em Artes Musicais.
“Estava empolgado em aprender mais sobre pesquisa e explorar a música mais profundamente. Tive a sorte de conseguir meu primeiro cargo universitário em uma excelente instituição — a Universidade do Colorado — e estou lá há 25 anos. Adoro a combinação entre o ensino e o trabalho criativo que a universidade me permite desenvolver”, sustenta.
Além de João Pessoa, ele viajou a Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo, colaborando, nessas outras cidades, com orquestras jovens e profissionais. Apesar de admitir ter pouca experiência com a música de câmara brasileira, ele diz que se entusiasma a cada volta ao país e, especificamente, à Paraíba. Assume, na apresentação de hoje, a posição como maestro pela primeira vez no estado.
“Acredito que esta é minha quarta vez tocando com a OSUFPB. Já toquei e regi Mozart aqui antes. É um repertório que se encaixa muito bem com essa orquestra e nos oferece a oportunidade de trabalhar com os músicos de sopro da OSJUFPB. É uma alegria”, define.
Nas horas em que não está ao piano, ele mantém um hobby bucólico — caminhar, ao lado da esposa, Kim, admirando a natureza do estado do Colorado. Mas, mesmo nesses momentos de folga, ele não deixa de usar os passeios e a observação de seu entorno como inspiração para tocar e compor.
David dá um conselho para os estudantes de música com quem interage com frequência, ou para os jovens que desejam enveredar por esse segmento, nos palcos ou na academia. “É preciso amar a música. É preciso ser generoso. É preciso trabalhar muito e se dedicar ao ofício e à arte. E, depois disso, é necessário encontrar oportunidades — e ter um pouco de sorte!”, finaliza.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de maio de 2025.