Acontece hoje, em Campina Grande, a abertura do 8º Festival de Música da Paraíba, promovido pela Empresa Paraibana de Comunicação (EPC) e a Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc). A partir das 20h, serão apresentadas 14 canções na primeira noite de eliminatórias: o evento, gratuito, ocorrerá no Teatro Severino Cabral, no Centro da Rainha da Borborema. Amanhã, nos mesmos horário e local, outras 15 composições virão a público. Sete seguirão para a grande final. As etapas também serão transmitidas, ao vivo, pela Tabajara FM 105.5, pela Parahyba FM 103.9 e pelo canal da Funesc no YouTube. Os homenageados desta edição são os artistas Cassiano e Glorinha Gadelha – ele, campinense; ela, sousense.
O júri convidado pela organização, composto por três profissionais de fora do estado, será responsável por avaliar as canções e escolher, além dos sete finalistas, o cantor ou cantora destaque do ano. São R$ 30 mil em prêmios: o primeiro, o segundo e o terceiro lugares concorrem a, respectivamente, R$ 10 mil, R$ 7 mil e R$ 5 mil. Já o melhor intérprete leva R$ 3 mil. O público que acompanhará a última etapa, no próximo dia 31, poderá eleger a melhor canção por júri popular, em link disponibilizado no fim do mês, na página da Funesc. A final terá como palco o Teatro de Arena do Espaço Cultural, em João Pessoa.
Os shows de encerramento de ambas as eliminatórias ficarão a cargo da banda Funkeria, que dará corpo ao primeiro tributo do festival: o repertório do grupo em Campina contará com sucessos de Cassiano, como compositor e como intérprete, incluindo, na lista, “A lua e eu” e “Coleção” (os maiores êxitos na voz do paraibano), além de “Primavera (Vai chuva)” e “Eu amo você”, imortalizados primeiro por Tim Maia e, depois, por outros cantores. Atualmente, a Funkeria é formada por Matheus Pimenta e Manu Lima nos vocais; Rafa Chaves na guitarra; Danilo Oliveira no baixo; Léo Noronha no teclado; Rivaldo Dias no sax; e Saulo Soares na bateria.
Pimenta afirma que ele e os colegas de conjunto passearão por outras faixas do cancioneiro de Cassiano, menos ou mais conhecidas, a exemplo de “Onda”, extraída de seu LP mais famoso, Cuban Soul – 18 Kilates. Essa canção foi sampleada diversas vezes por artistas nacionais e internacionais, como os Racionais MCs (na música “Da ponte para cá”, de 2002) e pelo duo estadunidense NXWorries (Em “Link up”, de 2016). “Algumas canções se aproximam das gravações originais, mas tentamos imprimir sempre um tempero nosso. Em outras, alteramos algumas coisas, de forma a dar um toque próprio, com nossa própria linguagem e sonoridade”, declara o vocalista, comentando sobre o que público encontrará nos shows.
Comentando sobre o fato de a origem campinense de Cassiano ser pouco conhecida do grande público, mesmo entre os paraibanos, Pimenta afirma que o tributo neste 8º Festival de Música da Paraíba reforça a identidade coletiva e plural da arte local e assevera a influência do conterrâneo do gênero que o consagrou junto aos pares.
“Até mesmo para nós é importante revisitar a obra dele. A gente começa a entender características do que o torna um dos três que são considerados ‘padrinhos’ do soul brasileiro, junto a Tim Maia e Hyldon. Muitas experimentações, muita musicalidade, muito balanço, bem como muito lirismo em suas letras”, sustenta.
Glorinha por elas
Na final, a homenagem Elas Cantam Glória Gadelha, reunirá quatro cantoras paraibanas, que interpretarão clássicos da artista, conhecida pelo trabalho solo e em parceria com Sivuca, seu falecido marido: Jéssica Cardoso, Maria Kamila, Meire Lima e Sandra Belê. Os arranjos do maestro Lucas Carvalho revisitará faixas como “Feira de mangaio”, e “Onça Caetana”. Como revelou em entrevista para a edição deste mês do suplemento literário Correio das Artes, Carvalho aproximou-se de Glorinha há alguns anos, quando a contatou para conduzir sua monografia, apresentada na conclusão do seu curso de Música, na UFPB.
O trabalho acadêmico intitulado Tem uma Sanfoneira no Canto da História: Processos da Aprendizagem Musical de Glória Gadelha Entre as Décadas de 1950 e 1960 foi defendido em 2023. Remonta a trajetória pessoal e profissional da cantora, que nasceu em fevereiro de 1947, em Sousa, desaguando do método que utilizou para aprender a dedilhar o acordeom, criado pelo instrumentista Mário Mascarenhas.
Ela conheceu a música por meio de seus familiares, que a incentivaram no caminho das artes em geral – anos mais tarde, ela publicaria, inclusive, dois livros, compilando contos de sua autoria. Chegou a morar nos Estados Unidos junto com Sivuca, mas reside há algumas décadas em João Pessoa.
Uma das canções que Sandra Belê ensaia para o tributo a Glorinha é “A vida é uma festa”, parceria com Moraes Moreira incluída no disco Tinto e Tropical, lançado por ela em 2004. “Onça Caetana” já faz parte dos shows de Sandra há alguns anos e foi regravada por ela no álbum Cantos de Cá (2020).
“Vou cantar duas músicas e depois a gente canta uma coletivamente, que eu vou deixar no mistério aí”, adianta. “Eu sou muito grata e honrada por fazer parte da turma que vai homenagear essa grande mulher. Mulher forte e uma compositora de mão cheia, algo que a gente já sabe. E instrumentista também. Essa é uma homenagem que já deveria ter acontecido”, conclui.
Para Marcos Thomaz, gerente de jornalismo da Rádio Tabajara e membro da comissão do festival há cinco anos, o momento é de muita expectativa para pôr em prática aquilo que foi planejado por meses pela EPC e pela Funesc, graças a uma equipe de mais de cem profissionais. O evento também funcionará como um prenúncio do São João, segundo o gestor.
“A tradição brasileira é de fazer sempre tributos póstumos, mas eu acho muito relevante que a gente prestigie esses iluminados artistas também em vida. O festival já homenageou Sivuca e agora homenageia, agora, Glorinha Gadelha. Faz-se justiça em dose dupla a essa casa tão iluminada, com obras que ultrapassam as fronteiras nacionais”, conclui.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22 de maio de 2025.