Reverenciar uma mítica região brasileira e afastá-la dos estereótipos sobre aridez e sobre pobreza. Essa é a premissa do espetáculo que o Quinteto Violado apresenta gratuitamente, amanhã, em Campina Grande — um show que celebrará os 161 anos da cidade: Sertão, que adiciona ao repertório selecionado elementos do teatro e da literatura de cordel, trará a público clássicos da MPB, a exemplo de “Disparada” (de Jair Rodrigues) e “Notícias do Brasil” (de Milton Nascimento). O conjunto subirá ao palco às 20h, no Parque Evaldo Cruz (o popular Açude Novo), Centro da Rainha da Borborema.
Em conversa com A União, Dudu Alves, tecladista e diretor musical do Quinteto, assevera que o roteiro do show foi concebido com base nas vivências dos artistas pelos sertões do país, e que parte dos “causos” ouvidos nessas viagens são contados entre faixas como “Asa branca” e “Assum preto”, ambas de Luiz Gonzaga.
“Montamos o espetáculo para valorizar esse lado bonito e emocionante do Sertão, que nem sempre é colocado, né? Se pensa muito na seca. E a nossa culinária, por exemplo, é muito forte e específica. A gente tem mostrado exatamente esse outro universo, que é a beleza, o sorriso, a alegria do sertanejo”, sustenta.
Dudu é filho de Toinho Alves, um dos fundadores do conjunto pernambucano, falecido há 17 anos. Ao longo das cinco décadas do grupo, ele acompanhou as colaborações com artistas paraibanos, como Geraldo Vandré; a obra do pessoense serviu de base para o disco Quinteto Canta Vandré, de 1997.
“Biliu de Campina trabalhava como radialista e pôs para tocar ‘Parto de Sá Juvita’, faixa nossa com 12 minutos. Depois que terminou, um ouvinte ligou para ele e disse, ‘Rapaz, eu gostei muito, mas a música é muito longa. Você pode repetir alguma? E Biliu: ‘Não tem problema, eu vou repetir ela inteira agora’”, lembra o tecladista.
Marcelo Melo, outro pioneiro, também é campinense. Dudu recorda que no final dos anos 1970, aquele e outros artistas convidaram Elba Ramalho para participar, como atriz, de uma das turnês do conjunto, no Sudeste: “Encerrada a temporada, eles perguntaram se Elba ficaria por lá se ela iria voltar para o Nordeste. Ela tomou a decisão certa de ficar pelo Rio de Janeiro”.
O instrumentista assevera, por fim, a importância do Quinteto para a música brasileira e para a carreira dos membros que passaram pela empreitada: “Um grupo que transcende todo o universo do que a gente hoje está vivenciando”, resume Dudu.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de Outubro de 2025.