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Recordações litorâneas em Sargaços

publicado: 08/10/2025 08h54, última modificação: 08/10/2025 10h09
Rosilda Sá inaugura amanhã exposição no Espaço Cultural, com um alerta sobre a poluição das praias
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Foto: Divulgação/Cácio Murilo de Vasconcelos

por Esmejoano Lincol*

Algumas das primeiras memórias de Rosilda Sá remontam à orla do bairro de Manaíra, onde moravam seus avós; aos passeios na areia, naquele pedaço de praia; e às algas que ficavam depositadas junto ao mar, pelo vaivém das ondas. Vem dessas lembranças o título da nova exposição que a artista plástica pessoense inaugura amanhã, às 19h: Sargaços, a ser disponibilizada na Galeria de Arte Archidy Picado, no  Espaço Cultural (Tambauzinho, João Pessoa). 

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Foto: Divulgação/Cácio Murilo de Vasconcelos

Após o vernissage, aberta ao público, a mostra permanecerá disponível para visitação, gratuita, até o dia 14 de novembro — de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h30, e nos fins de semana, das 9h às 17h.

Sargaços foi selecionada por meio de edital de ocupação e reúne 25 peças, compostas ao longo de dois anos, entre bordados, esculturas e instalações, sob curadoria de Amanda Tavares. O nome popular das algas que inspiraram Rosilda nesse projeto refere-se a essas lembranças de infância e aos cuidados com o meio ambiente.

“Criei as instalações com objetos têxteis costurados e justapostos, que reverberam a ideia de movimento, própria dessa espécie de vegetação marinha, discutindo a possibilidade de utilização sustentável desse material”, afirma.

Rosilda Sá celebra 45 anos de trajetória artística

Rosilda assevera que todas as peças são importantes no contexto da mostra, mas destaca a instalação “Balanço do mar” como uma das mais relevantes – uma rede de dormir forrada por sacos e objetos têxteis, sob areia contaminada com resíduos plásticos.

“A obra sintetiza visualmente não mais o mar idílico, a paisagem regeneradora, a água salgada límpida que toca nossos corpos. Concretiza a realidade global contemporânea, conforme profetizou o [indígena estadunidense] Cacique Seattle em 1855: ‘Tudo está entrelaçado’”, declara.

A propósito das intersecções possíveis entre Sargaços e outras expressões da arte e da cultura, Rosilda cita a relação que a curadora estabeleceu entre as peças e o poema “Mar absoluto”, de Cecília Meireles: “E recordo minha herança de cordas e âncoras / e encontro tudo sobre-humano / E este mar visível levanta para mim / uma face espantosa”, evocam os versos da autora.

“Não é apenas a invocação de uma paisagem, mas um cruzamento simbólico” entre ancestralidade, memória e mística de presente e futuro, diz Amanda Tavares.

Em 2025, Rosilda Sá celebra 45 anos de trajetória nas artes plásticas: nesse começo expondo inicialmente nas mostras coletivas e, depois de pouco tempo, nas individuais, sempre trabalhando com técnicas e materiais mistos. Atua como docente na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desde 1990.

“No caso particular da cerâmica, por exemplo, proponho dilatar os limites definidos pelas nascentes dessa linguagem, criando possibilidades de contaminações e impurezas próprias da arte contemporânea, associando materiais diversos”, aponta.  

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 08 de Outubro de 2025.