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Seu Cavalcanti tem sessão no Bangüê

publicado: 20/11/2025 08h38, última modificação: 20/11/2025 08h38
Diretor Leonardo Lacca conversa amanhã com a plateia sobre o documentário em que filmou o próprio avô
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Filmado por 20 anos, seu Cavalcanti, falecido em 2016, agora conquista plateias | Foto: Divulgação

por Daniel Abath*

Um roteiro construído na ilha de edição. No cartaz, um senhor está sentado no Cinema São Luiz de Recife, sozinho, e nos encara altivo, como quem guarda as melhores histórias do longo filme da vida. É Seu Cavalcanti (2024, classificação livre, 78 min.), filme do recifense Leonardo Lacca que mistura as tintas ficcionais com as documentais, em exibição amanhã, às 19h, no Cine Bangüê do Espaço Cultural, em Tambauzinho – ingressos na bilheteria a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), em espécie ou via PIx. Após a sessão, o diretor tecerá comentários junto ao público, com mediação de Gian Orsini, diretor e curador do cinema.

Segundo longa-metragem de Leonardo – quebrando jejum de 10 anos desde Permanência (2014) – o filme estreou em festivais pelo país afora no ano passado. Visto primeiro em Recife, encantou também o público de Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba e Salvador.

Leonardo começou a rodar Seu Cavalcanti há mais de 20 anos, despretensiosamente, já que à epoca ainda não possuía câmera. Cursava Comunicação Social e por ocasião do empréstimo de equipamento para a execução de atividades das disciplinas regulares passou a fazer takes do patriarca à guisa de exercício criativo.

“Eu filmava sem entender exatamente o porquê. E aí, alguns anos depois, eu fui convidado pra fazer uma vinheta do Janela de Cinema, festival que acontece em Recife”, conta Lacca. “Comecei com a vinheta da imagem que eu tinha feito do meu avô. A olhar para aquele material, e ele virou a cara do festival. A partir dali, eu disse, ‘pô, eu quero fazer um filme’, porque a presença dele era muito interessante na imagem – uma coisa misteriosa; engraçada também”.

As cenas do longa, tido como um fechamento de ciclo para Leonardo, passaram a ocupar um lugar de maior consciência; criava situações e intercalava as atuações espontâneas do dia a dia do avô com ideias ficcionais que surgiam. “Eu comecei a fazer cinema praticamente filmando meu avô quase como se contasse minha história também, de certa forma, porque é um filme que tem imagens de vários anos da vida dele, colocadas de um jeito narrativo, pra criar uma história”.

No elenco, brilham nomes como Maeve Jinkings e Tânia Maria, conhecida por seus trabalhos em Bacurau (2019) e o recente O Agente Secreto (2025), ambos capitaneados por Kleber Mendonça Filho. A propósito, Leonardo Lacca trabalha junto aos filmes de Kleber desde O Som ao Redor (2012), fazendo preparação de elenco e assinou, em Bacurau, como diretor assistente – seu avô aparece, inclusive, em Retratos Fantasmas (2023), penúltima obra de Mendonça Filho. “A gente tem uma colaboração e amizade artística já muito longa e frutífera e ele também faz parte do filme como produtor”, pontua.

Seu Cavalcanti faleceu em 2016, mas a partida do avô não arrefeceu a vontade fílmica do neto. “Eu continuo filmando de alguma forma a ausência e as outras coisas da família; outras cenas”, diz ele, que sempre teve em mente rodar um filme universal, não circunscrito apenas a experiências pessoais. “Não queria fazer um filme pra dentro, assim, em si mesmo. E ao mesmo tempo queria que fosse uma carta de amor pro meu avô através do cinema”.

Com boas expectativas para o debate, Lacca celebra o prazer de encontrar o público local. “Como trabalho com elenco, gosto muito dos atores paraibanos”. No próximo ano, o diretor deve rodar seu terceiro filme.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 20 de novembro de 2025.