Autodidatismo, traços bidimensionais e cores puras. Livre das acomodações das academias de belas artes, museus e galerias, nascia no século 19 a arte naïf. Visto a princípio com olhos de desconfiança por seus contemporâneos, a exemplo do pós-impressionista francês Paul Gauguin, o estilo se mostra cada vez mais forte na atualidade, com grandes representantes no Brasil e no exterior. Para celebrar a beleza que figura à simplicidade artística do gênero, acontece a partir de amanhã, em Guarabira, a sexta edição do Festival Internacional de Arte Naïf (Fian). Entre selecionados e convidados, participam do evento 100 artistas oriundos de 19 estados brasileiros e de 16 países do mundo, em exposição no Casarão da Cultura, no Centro de Guarabira, aberta à visitação pública até 30 de julho.
Hoje, às 19h30, será servido um jantar de boas-vindas aos convidados e participantes. Amanhã a agenda conta com uma visita a espaços culturais da cidade de Guarabira às 10h30 e às 19h, na Câmara Municipal de Guarabira, ocorrerá a cerimônia oficial de abertura do evento, seguido de vernissage da exposição no Casarão da Cultura, às 20h.
Na sexta-feira (30) a programação inclui um tour pelo Brejo, com visitas a espaços culturais de cidades vizinhas, e no sábado (31), também às 10h30, haverá ações culturais pelo município e oficinas de arte. Para o vernissage estão confirmados 54 artistas nacionais, além da argentina Adriana Giancrisostomo e do venezuelano Ramón Maldonado Díaz.
Adriano Dias, coordenador do projeto, explica que o processo de seleção envolveu a submissão de trabalhos pelos candidatos via edital, bem como uma rigorosa seleção das obras inscritas. A curadoria especializada deste ano ficou a cargo de nomes como o da museóloga Jacqueline Finkelstein – que dirigiu por muitos anos o Museu Internacional de Arte Naïf (Mian) do Rio de Janeiro –, o publicitário Pedro Cruz, cofundador do Mini Museu de Arte Naïf de Paraty (Miman) e Jacques Dupont, colaborador do Museu Internacional de Arte Naïf de Magog, no Canadá.
“Feita essa seleção, a gente escolheu 62 artistas brasileiros e 23 internacionais”, conta Adriano. “Essa exposição deste ano tem um diferencial, porque a gente conta com o patrocínio da Caixa Residencial que vai possibilitar, por exemplo, depois de abrir amanhã, aqui em Guarabira, circular com ela por Fortaleza e Brasília”, comenta, destacando a itinerância do evento junto aos espaços da Caixa Cultural de Fortaleza (do dia 12 de agosto a 14 de setembro) e da capital federal (de 7 de outubro a 9 de novembro).
Nesta edição serão ofertadas ainda quatro oficinas – de iniciação à cerâmica, papietagem, mosaico e pintura.
Livre naïf
Pensando na dimensão internacional do festival, os organizadores do sexto Fian decidiram por deixar o tema livre, tal como preconiza a própria estética naïf, garantindo com isso a amplitude da participação dos artistas interessados.
“Podemos observar nos trabalhos uma diversidade. Há temas com questões sociais, com questões religiosas; a temática livre permite essa diversidade. E tem também temas reportando à cidade de Guarabira, com alguns artistas fazendo homenagens à nossa cidade”, atesta Adriano.
O Festival Internacional de Arte Naïf de Guarabira teve sua primeira edição em 2018. Ocorrendo anualmente, precisou suspender as edições presenciais de 2020 e 2021 por conta da pandemia, promovendo, ainda assim, exposições em formato virtual por meio de uma parceria com o Museu do Canadá.
Em 2022, a mostra iniciou um processo de circulação que pintaria o atual caráter itinerante da exposição, chegando a expor para Penápolis, em São Paulo, como relembra o coordenador: “A gente viu que não tinha como uma exposição desse tamanho ficar em Guarabira por 30 dias, e então desmanchamos a exposição naquele ano. Foi quando, em 2023, fizemos uma circulação com ela dentro do estado da Paraíba, levando para Monteiro, para Sousa, e aí deu pra circular um pouco mais por aqui. E agora a gente retoma em 2025 nesse formato de circulação, por Fortaleza e Brasília”.
Além das pinturas, o recorte expográfico do festival inclui bordados – excepcionais na avaliação de Adriano – e xilogravuras. Um desses trabalhos, inclusive, recebeu o Prêmio Aquisição, no valor de R$ 7 mil, dentre os sete prêmios ofertados pelo Fian – são dois prêmios Aquisição e cinco prêmios Reconhecimento, no valor de R$ 2 mil, concedendo-se ainda menção honrosa com certificados aos artistas pelas obras destacadas no processo seletivo.
As duas obras contempladas com o Prêmio Aquisição farão parte do acervo do Museu de Arte Naïf da cidade de Guarabira. “Aqueles premiados com o reconhecimento não deixam suas obras com a cidade, mas recebem ainda o prêmio em espécie”, como diz Adriano.
Com presença marcante no festival, a Paraíba traz cerca de 12 participantes. Dentre os expoentes da pintura da terra, destacam-se o próprio Adriano Dias, Célia Gondim, Analice Uchôa, Gildo Xavier e Val Margarida, bem como os guarabirenses Amanda Rodrigues, Lucas Silva e Clóvis Júnior.
Recém laureado no Rio de Janeiro com a Ordem do Mérito Cultural, Clóvis exporá as pinturas “O namoro” e “Meu anjo da guarda”. Ressaltando sua cidade natal como celeiro da arte naïf, o artista visual enaltece a consolidação do evento junto à rota turística de Guarabira: “É muito gratificante voltar para a minha cidade e poder participar de um evento desse porte. Poder estar lá com os artistas do Brasil, da Paraíba e alguns de fora do país. Hoje Guarabira tem uma rota turística cultural, com galerias de arte, museus e vários espaços criados para a arte”, declara.
Amanhã é dia dos participantes conhecerem os equipamentos culturais da cidade, como o Memorial Frei Damião, o Cruzeiro de Brennand e o Memorial do Cordel. Como afirma o coordenador do Fian, quem vem, por exemplo, de Mato Grosso, não quer passar apenas dois dias no estado, o que acaba contribuindo para o fomento ao turismo local.
“Temos percebido que os artistas vêm para cá, mas não ficam na região; acabam migrando para João Pessoa. Nessa tentativa de fazer com que as pessoas conheçam a nossa região, na sexta-feira faremos um tour com eles, levando para lugares como o Memorial Jackson do Pandeiro, em Alagoa Grande”, ressalta.
A sexta edição do Fian está sendo realizada pelo Ministério da Cultura, em parceria com a Prefeitura de Guarabira e o Ateliê Adriano Dias.
Onde:
- CASARÃO DA CULTURA (R. Sólon de Lucena, n° 246, Centro, Guarabira)
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de maio de 2025.