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Dia da Alimentação

Acesso saudável ganha centralidade

publicado: 16/10/2025 08h53, última modificação: 16/10/2025 08h53
Proposta da campanha de conscientização deste ano é reunir esforços em torno de um futuro pacífico e sustentável
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Data estabelecida pela ONU sugere mais atenção para o consumo de produtos saudáveis, a exemplo das frutas e verduras, comuns, principalmente, nos mercados públicos | Fotos: Carlos Rodrigo

por Carolina Oliveira*

Parte da vida diária e expressão da cultura e do modo de vida, o alimento promove a socialização humana por meio das refeições e dos sabores, mas principalmente, é a substância de sustento do corpo, e um direito de todos. Desde 1981, 16 de outubro marca o Dia Mundial da Alimentação. Intitulada “De mãos dadas por uma alimentação melhor e um futuro melhor”, a campanha de 2025 convoca todas as pessoas à contribuição para “um futuro pacífico, sustentável, próspero e com segurança alimentar”.

A data estabelecida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) evidencia a importância dos alimentos, do combate à fome e da garantia da segurança alimentar às populações. “Mais do que apenas encher o estômago, a alimentação é o alicerce da nossa saúde, uma ferramenta poderosa em todas as fases da vida”, opina Ramon Barbosa, médico membro da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. 

O papel desempenhado pelos alimentos no corpo humano começa com a introdução alimentar, processo que envolve os pais e as crianças, e que apresenta aos bebês, isoladamente, o mundo dos alimentos e suas características. Desse ponto em diante, a escolha do que ingerimos dia após dia é relevante. “Desde a infância, ter uma alimentação saudável é crucial para o desenvolvimento físico e cognitivo, além de contribuir para o suporte ao sistema imunológico”, afirma a nutricionista Maria Agnes Soares.

Barbosa destaca que, se, na infância, uma dieta nutritiva molda o crescimento e a capacidade de aprendizado, na adolescência, a nutrição correta fornece suporte energético para o ritmo acelerado das transformações típicas da puberdade, e para as demandas diárias dessa fase. “Já na vida adulta, uma alimentação balanceada ajuda a prevenir doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade, além de manter a energia e a produtividade”, acrescenta o médico de família.

Entre as pessoas de idade mais avançada, a preocupação com a nutrição adequada atua na preservação da saúde física, chegando a evitar o desenvolvimento ou piora de algumas doenças. Moderar o consumo de sódio, alimentos gordurosos, e ultraprocessados — o que é recomendado também para os adultos mais jovens, crianças e adolescentes — torna-se ainda mais importante nessa fase, seja para a saúde cardíaca, seja para o controle de taxas, entre outros fatores. “Para os idosos, a manutenção de uma dieta equilibrada ajuda a preservar a massa muscular, a saúde óssea e a função imunológica, garantindo mais autonomia e qualidade de vida”, ressalta Maria Agnes.

Apesar de a alimentação ser um direito humano, o acesso aos alimentos acontece de forma desigual. A nutricionista avalia que o consumo dos alimentos frescos e mais nutritivos, principalmente para famílias de baixa renda, enfrenta a barreira do custo, que tende a ser mais elevado. O tempo de higiene e preparo com eles também costuma ser maior, o que torna esses hábitos alimentares mais distantes da realidade de trabalhadores que dispõem de menos tempo livre. “Estas pessoas acabam se alimentando com os ultraprocessados, por exemplo, que são mais acessíveis, porém pobres em nutrientes, contribuindo para o aumento de doenças relacionadas à má alimentação”.

Insegurança alimentar diminuiu na Paraíba e em todo o país

A insegurança alimentar ocorre quando uma pessoa não tem acesso físico ou financeiro, de forma regular e permanente, a alimentos seguros e nutritivos, em quantidades suficientes para atender às suas necessidades dietéticas. “Isso leva a um ciclo vicioso de má nutrição e problemas de saúde que afetam a capacidade de trabalho e estudo, perpetuando a pobreza”, ressalta o médico de família e comunidade.

Número de domicílios com algum grau de irregularidade alimentar caiu em 9,9%, no estado

O módulo de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2024, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira (10), apontou que 2,2 milhões de unidades domiciliares deixaram de vivenciar a insegurança alimentar no país, em 2023 e 2024.

Na Paraíba, o número de domicílios com algum grau de insegurança alimentar caiu em 9,9%, o que corresponde a 53 mil lares a menos nessa condição. A maior redução ocorreu naqueles em situação grave, com uma queda de 34,8%, representando 31 mil unidades domiciliares a menos.

A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) avalia a experiência vivenciada nos domicílios e classifica-os de acordo com os graus de severidade com que o fenômeno ocorre. A insegurança alimentar leve se dá quando há incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro. Ocorre modificação na qualidade dos alimentos entre os moradores do domicílio.

Nos lares com insegurança alimentar moderada,  tem-se  redução qualitativa de alimentos entre os adultos, podendo também haver redução ou ruptura nos padrões de alimentação, resultante da falta de alimentos, entre os adultos. Quando a insegurança alimentar é grave, há redução qualitativa e quantitativa de alimentos entre adultos e também crianças. Nessa situação, pode haver a experiência de fome entre os moradores do domicílio.

Vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Humano (Sedh), o Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea-PB) é formado por representações de entidades, sociedade civil, do Poder Público estadual e de órgãos federais. “O papel do Conselho é muito importante: ele assessora o Governo do Estado da Paraíba, propondo e construindo políticas públicas que garantam o direito à alimentação, em quantidade, regularidade e com qualidade”, explica o presidente do Consea-PB, Arimatéia França.

O Consea-PB tem por finalidade propor políticas, programas e ações que tornem efetivo, no estado da Paraíba, o direito humano à alimentação adequada. Compete ao Conselho articular áreas do Governo Federal e do Estadual, com organizações da sociedade civil, para a implementação de ações locais voltadas ao combate das causas da miséria e da fome.

No estado, os esforços dos entes públicos que constituem o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) são engajados, segundo Arimatéia, por meio da Câmara Intersecretarial de Segurança Alimentar (Caisan) ou do próprio Conselho, que recentemente lançou o 3o Plano Estadual de Segurança Alimentar da Paraíba. “Na Paraíba, as conquistas e avanços na segurança alimentar se deram pelo planejamento e pelos investimentos articulados do Governo Federal com o Governo Estadual em políticas estruturantes, articulados com a sociedade civil organizada, através dos fóruns de participação social. Mesmo com os avanços, sabemos que ainda há muito a fazer”.

O presidente do Consea na Paraíba destaca a necessidade de criar condições para a geração de emprego no campo, para a sustentabilidade dos produtores e para facilitar o acesso das pessoas a uma comida com custo justo. “Então, temos, sim, o que comemorar, por ter tirado o Brasil do Mapa da Fome. Mas o nosso grande desafio continua: zerar, acabar de verdade com a fome no nosso país”, afirma.

Nesse sentido, o Consea-PB e a Caisan-PB realizam, até este sábado (18), a Semana Mundial da Alimentação. “Com a programação, daremos ênfase especial ao Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Os eventos terão como foco a divulgação das ações que os governos Estadual e Federal vêm realizando, que contribuíram para que o país saísse novamente do Mapa da Fome. As atividades potencializam e incentivam a mobilização pela garantia do acesso à alimentação de qualidade, em quantidade suficiente e com regularidade na Paraíba”, conta Arimateia.

Na última terça-feira (14), aconteceu o 1º Fórum de Segurança Alimentar, organizado pelo Consea de João Pessoa. O município de Mari sediou a Conferência Territorial da Zona da Mata Norte. Hoje, a programação na capital inclui, no Parque Solon de Lucena, a partir das 8h, um ato, exposição das ações de Segurança Alimentar e Nutricional, feira e distribuição de alimentos. Já em Campina Grande, até as 11h, acontece a Feira Regional Agroecológica, na Praça do Coreto, no bairro do Catolé. Para o sábado (18), às 16h, na Comunidade São Geraldo, bairro do Cristo, em João Pessoa, está marcado o Ato e Celebração da Conquista da Comunidade, e distribuição de produtos alimentícios aos moradores.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de Outubro de 2025.