Dani Fechine
O algodão colorido, cuja cadeia de produção está instalada na Paraíba, desde a produção pelo agricultor, o beneficiamento, a fiação, até a confecção do fio e das roupas, tem ganhado destaque na Paraíba. Como uma grande produtora de algodão colorido, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mantém as suas pesquisas na área de forma intensa. Para os próximos dez anos, a expectativa do pesquisador da Embrapa, Valdinei Sofiatti, é de crescimento. “A cadeia produtiva está conseguindo se organizar por meio de um trabalho de Arranjo Produtivo Local coordenado por diversas instituições. Se estas ações continuarem avançando, espera-se um aumento significativo na Paraíba”, destacou o pesquisador.
De início visto apenas como símbolo regional em lojas de artigos para turistas, o algodão colorido paraibano alcançou o status de peças de luxo em várias feiras internacionais. Em anos anteriores, coleções de roupas já foram exportadas para a França, Itália, Espanha, Alemanha, Japão, Estados Unidos e países escandinavos. Por exemplo, em abril de 2015, o algodão colorido produzido no Semiárido da Paraíba estava presente na feira “1.618 Luxo Sustentável”, em Paris, evento seleciona as melhores iniciativas voltadas para o consumo sustentável ao redor do mundo.
Ivanilda França tem 62 anos, mas há 11 anos é apaixonada pelo algodão colorido e utiliza o trabalho como fonte de inspiração e relaxamento. Orgulhosa, conta que um dos vestidos exibidos na entrada do Salão de Artesanato foi feito por ela. Sua satisfação é ver um produto do algodão colorido: “A minha história com o algodão é simples: eu me apaixonei pelo algodão colorido. Hoje eu não trabalho com outra coisa a não ser o algodão”, disse. Infelizmente, a renda ainda não é suficiente para sobreviver. Ivanilda, assim como outros artesãos, usam o trabalho manual como uma renda complementar. “Quando tem feira, conseguimos chegar a uma renda de, mais ou menos, em R$ 1.000, mas não dá pra viver do algodão colorido”, detalhou.
A regionalidade do algodão colorido é o grande motivo de tantas pessoas decidirem utilizá-lo como um produto de fabricação de roupas, bonecas e peças do dia a dia. “Decidi trabalhar com isso porque era uma coisa da nossa terra, e quando eu vi não acreditava que as sementes eram verdadeiras. Então comecei a me apaixonar e agora sempre trago o pé do algodão para comprovar a qualidade do meu produto. Hoje eu não quero trabalhar se não for com esse material”, enfatiza dona Ivaldina França.
A produção do algodão colorido é diferenciada e também impressiona quem vê. As cores neutras chamam a atenção pela riqueza de detalhes e por fugir do convencional. Dona Ivanilda França encontra no trabalho a felicidade em criar. “Eu não copio, eu crio”, enfatiza. Quando soube que o Salão de Artesanato traria como tema o fruto do seu trabalho ficou muito feliz, já que nas outras edições a feira ainda não havia feito essa homenagem. Maria José Bendito, de 69 anos, concorda. “Foi muito especial e algo muito bom na minha vida. Amei”.
Dona Maria José divide com Ivanilda a paixão pelo trabalho. Há mais ou menos 13 anos, ela escolheu o algodão colorido para completar a sua renda e o seu orgulho pelo que faz. Quando entrou no Salão de Artesanato utilizava, em princípio, o macramê, uma técnica de tecer fios que não utiliza nenhum tipo de maquinaria ou ferramenta. “Eu pensei que o macramê com o algodão iria dar certo, então comecei a trabalhar com o algodão”, conta. Decidiu usar justamente o algodão colorido porque é natural da Paraíba. “Cada dia mais o algodão colorido dá mais valor à Paraíba, valoriza ainda mais o nosso Estado”, declara.
Dona Maria José é aposentada e encontra no algodão colorido a nova satisfação do trabalho. “Eu me sinto muito feliz produzindo essas peças. Comecei minha vida agora. Criei meus filhos todos, agora é minha vez de viver”, fala satisfeita. “Primeiro, eu coloco Deus na minha vida, em segundo lugar é o algodão colorido e o meu trabalho. Eu amo meu trabalho, eu faço meu trabalho com carinho”, finaliza.
Já Gorete Cordeiro é novata no assunto, mas feliz com o que faz. Conheceu o algodão colorido através de uma amiga há quatro anos e, desde então, fabrica pequenas peças com o material. “Eu gosto muito de fazer artesanato e o algodão colorido foi uma forma de impulsionar o que eu já gostava de fazer. Eu acho lindo, o algodão colorido tem umas cores muito bonitas”, destaca. Além de artesã, Gorete é professora. O artesanato é uma forma de relaxar, é uma terapia para a mulher de 51 anos que encontrou no algodão colorido uma forma de desenvolver a criatividade. “O tema do Salão de Artesanato deu destaque ao algodão colorido tanto em espaço como valorizando nosso trabalho. O algodão colorido é matéria-prima do nosso Estado, a gente fica orgulhosa com isso”, conclui.
Produção valoriza sustentabilidade
A importância do algodão colorido ultrapassa a comercialização e o sucesso que as peças e confecções vêm alcançando no mercado externo. As fibras coloridas do algodão nascem na natureza. Não há necessidade de tingir fios ou tecidos fabricados com elas. No entanto, o tecido do algodão colorido não tem corante, é hipoalergênico, o que significa dizer que as roupas fabricadas com esse tecido são ideais para o uso por pessoas alérgicas. O mercado externo quer produtos ecologicamente corretos e o algodão que já nasce colorido e tem sustentabilidade, porque economiza 87,5% da água normalmente utilizada no processamento têxtil.
De acordo com Valdinei Sofiatti, pesquisador da Embrapa Algodão, o algodão colorido é produzido da mesma forma que se produz o algodão branco, apenas utilizando as variedades que foram desenvolvidas pela Embrapa e que foram selecionadas para gerar as fibras com cores naturais. “Não é preciso qualquer mudança na forma de cultivar para que o algodão ganhe as tonalidades diferentes do algodão branco convencional”, explica o pesquisador.
Uma característica da fibra de algodão naturalmente colorido é que é tão resistente à chama quanto a lã. E ainda, no Brasil e em todo o mundo, o valor mais importante inerente às roupas e artefatos feitos com o fio têxtil naturalmente colorido é o da saúde do consumidor, já que é uma tecnologia ideal para pessoas alérgicas aos produtos químicos do tingimento artificial e para a proteção da pele sensível dos bebês.
Embora seja um produto regional e de expressividade na Paraíba, o impacto na economia paraibana ainda é muito reduzido. “Considerando o tamanho que esta produção poderia alcançar se houvesse maior organização e adoção de melhor tecnologia de produção pelos agricultores, ainda temos um destaque pequeno”, analisa Valdinei Sofiatti. Com a seca natural o cultivo muitas vezes foi inviabilizado nas áreas sertanejas em quatro anos (2010 a 2014), o que se cultivou nesse período se concentrou nos municípios de Remígio, Juarez Távora, Ingá e Caiçara.
Grande potencial de mercado
Valdinei Sofiatti explica que o algodão colorido da Paraíba tem grande potencial de mercado no Brasil e no mundo. As peças feitas com este algodão são muito procuradas por turistas que visitam o Estado e pela população local, criando grande interesse quando são expostas no exterior. No entanto, a cadeia produtiva desse tipo de algodão ainda não conseguiu se organizar o suficiente para crescer de forma sustentável e atender a este grande mercado.
“É preciso organizar-se para, por exemplo, melhorar a disponibilidade dos insumos necessários para os produtores e melhorar a comercialização entre os produtores e a indústria”, observa o pesquisador. As atuais linhas de pesquisa da Embrapa incluem a melhoria da qualidade da fibra do algodão colorido, o desenvolvimento de variedades com novas cores e o desenvolvimento de tecnologia de produção que permite aumentar a produtividade, reduzir os custos de produção e aumentar a área cultivada. O mercado já está continuamente demandando maior produção, só é necessário se organizar.
Embora seja somente um nicho se comparado ao algodão branco, esta fibra que não recebe tingimento tem grande apelo pelos consumidores do Brasil e do exterior. “Os produtos são atraentes por serem diferentes para públicos específicos como bebês e pessoas alérgicas aos pigmentos usados no tingimento artificial de tecidos, e para pessoas que desejam consumir produtos com menor impacto ambiental”, ressalta o pesquisador da Embrapa.
Os produtores paraibanos também estão sendo muito eficientes em associar o produto a trabalhos artísticos, artesanato e desenvolvimento de artigos muito além do vestuário, tais como brinquedos, acessórios para decoração de ambientes ou funcionais, bijuteria etc.
Cinco variedades de cores
As peças de algodão colorido são bem conhecidas por suas cores neutras e claras. No entanto, depois de 20 anos de melhoramento genético, a Embrapa conseguiu obter variedades de pluma colorida que podem ser utilizadas na indústria têxtil. Cinco variedades em tonalidades que vão do verde-claro aos marrons claro, escuro e avermelhado, foram lançadas pela Empresa.
Nesse caso, o melhoramento genético acontece através do cruzamento de uma planta com cor interessante com outra de fibra branca de boa qualidade. Depois, várias plantas que nasceram com uma cor bonita e boa produção são selecionadas e analisadas em laboratório. As melhores sementes são guardadas e plantadas em linhas para observar se nascem com características homogêneas, resistência a doenças e boa produção. Todas as variedades lançadas foram obtidas por meio do melhoramento genético convencional, cruzando-se plantas de algodão entre si.
Salão de Artesanato
O ano de 2016 marca a 23ª edição do Salão de Artesanato e com o tema “O algodão colorido é nosso”, a Paraíba reúne com destaque peças produzidas no próprio estado. Espera-se que cerca de 50 mil visitantes passem pelo Espaço Cultural para conferir os estandes. Um total de 400 artesãos está participando desta edição.