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Mata atlântica

Bioma está em 17 estados brasileiros

publicado: 26/05/2025 09h32, última modificação: 26/05/2025 09h32
Território paraibano tem 9% de cobertura vegetal original, encontrada, em maioria, na Zona Rural de 45 municípios
jardim botanico © roberto guedes (44).JPG

Oito unidades de preservação na PB são estaduais | Foto: Roberto Guedes

por Carolina Oliveira*

Para conscientizar sobre conservação, recuperação e uso sustentável do bioma presente em 17 estados brasileiros, o Dia Nacional da Mata Atlântica, celebrado na próxima terça-feira (27),  foi definido em alusão à data em que, em 1560, foi assinada a Carta de São Vicente, documento que descreveu pela primeira vez a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, restam 9% da cobertura vegetal do bioma no território original do estado da Paraíba.

Os fragmentos florestais são encontrados, principalmente, na Zona Rural de 45 municípios. “Na Paraíba, o bioma ocupa uma área reduzida, concentrada no Litoral e em algumas regiões mais altas do brejo, como os municípios de Bananeiras e Areia”, ressaltou o gerente-executivo de Áreas Protegidas, Biodiversidade e Gestão Costeira da Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade da Paraíba (Semas), Thiago Silva.

Com florestas densas, clima quente e úmido, e ecossistemas como manguezais e restingas, a preservação desse bioma é essencial para a manutenção ecossistêmica. “Ele ajuda a manter o clima equilibrado, limpa a água, protege o solo e abriga grande parte da nossa biodiversidade, além de também ser essencial no combate ao aquecimento global. As principais ameaças ao bioma são o desmatamento, o uso desordenado do solo, a poluição e a exploração excessiva dos recursos naturais.”, destacou Thiago.

Hoje, restam cerca de 24% da cobertura original da floresta no Brasil, espalhada em áreas isoladas, de acordo com informações da ONG SOS Mata Atlântica. “Para preservar o que ainda resta, foram criadas Unidades de Conservação e programas de educação ambiental, como o Agente Jovem Ambiental, que ensina jovens da rede pública sobre meio ambiente e os prepara para atuar na proteção da natureza”, afirmou o representante da Semas.

Outro destaque é o Programa Paraíba Mais Verde, da Semas, que possui cinco projetos, incluindo o Viveiros Parahyba do Futuro, voltado para a produção e distribuição de mudas para reflorestamento. O projeto também apoia agricultores familiares na regularização de áreas de preservação em suas propriedades.

Biodiversidade

A mata abriga mais de 20 mil espécies de plantas e milhares de espécies de animais, incluindo mamíferos, aves, anfíbios e insetos. “Na Paraíba, espécies como o pintor- -verdadeiro (Tangara fastuosa) e o macaco-prego-galego (Sapajus flavius) estão entre os animais ameaçados de extinção. Entre as plantas, espécies como o pau-brasil (Paubrasilia echinata) também enfrentam riscos devido à exploração e perda de hábitat”, apontou Thiago Silva.

O engenheiro florestal Paulo Corrêa destaca, entre as preocupações relacionadas à Mata Atlântica, à fragmentação e ao isolamento dos remanescentes florestais. “Dificultam o fluxo gênico e comprometem a sobrevivência de diversas espécies”. Também atua neste contexto, a pressão antrópica, com o avanço da monocultura, da caça e da pesca predatórias, já que espécies ameaçadas de extinção dependem, diretamente, desses ambientes preservados para sobreviver.

Mudanças climáticas podem alterar o regime de chuvas e reduzir a disponibilidade hídrica das regiões. “Se impõem também, riscos à segurança hídrica, uma vez que a floresta exerce um papel essencial na proteção de nascentes e cursos d’água”, ressaltou Paulo.

Desmatamento

De acordo com informações da Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Paraíba, dos 66 autos de infração de flora no território paraibano, durante o período de 2024 a 2025, 40% correspondiam a porções de Mata Atlântica. Foram 54 hectares de área de desmatamento do bioma fiscalizadas e embargadas pelo Ibama no estado. “Principalmente em Marcação,  Rio Tinto e Baía da Traição, nas terras indígenas do povo Potiguara”, apontou o superintendente Geandro Guerreiro.

Dados do Atlas da Mata Atlântica e do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD), divulgados pela SOS Mata Atlântica apontam que, em 2024, a área total desmatada no bioma caiu 14%. A perda das matas maduras, que possuem maior biodiversidade e estoque de carbono, teve, por outro lado, redução de apenas 2%. A redução registrada nos monitoramentos é considerada pequena diante do objetivo de desmatamento zero.

Registros do Atlas da Mata Atlântica apontaram que a perda na vegetação passou de 14.697 hectares, em 2023 para 14.366 hectares, em 2024, o que representa uma redução de 2% na área desmatada. Esse nível de desmatamento representa, porém, a emissão de cerca de 6,87 milhões de toneladas de CO2 equivalente, valor comparável às emissões anuais de Camarões ou do Distrito Federal brasileiro, conforme divulgou a SOS Mata Atlântica.

Piauí e Bahia lideram o desmatamento no país, com respectivamente, 26.030 e 23.218 hectares desmatados, de acordo com o SAD Mata Atlântica. A expansão da agropecuária em áreas privadas é, ainda, o principal vetor do desmatamento do bioma, conforme apontam os levantamentos. Em 2024, mais de 70% das áreas desmatadas estavam em terras privadas ou em sem registro fundiário formal.

Áreas de Conservação protegem recursos

As Unidades de Conservação formam o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e são geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no âmbito federal, e pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), no âmbito estadual. São categorizadas em dois grupos, de acordo com seus objetivos. Unidades de proteção integral, cujo foco principal é a preservação da natureza, com uso restrito dos recursos naturais. E, as unidades de uso sustentável que conciliam conservação e uso sustentável dos recursos naturais, beneficiando, inclusive, populações e comunidades tradicionais.

No território paraibano, existem oito unidades estaduais do bioma, sendo cinco de proteção integral e três de uso sustentável, totalizando uma área de 19.640,3 hectares. As unidades de proteção integral são o Parque Estadual Mata do Pau Ferro; Parque Estadual Mata do Xém-Xém; Parque Estadual das Trilhas; Refúgio de Vida Silvestre da Mata do Buraquinho e a Estação Ecológica do Pau-Brasil. A APA Tambaba, APA Roncador, e a ARIE Goiamunduba são de uso sustentável.

Na Paraíba, são cinco unidades de conservação federais. A APA da Barra do Rio Mamanguape; a ARIE da Foz do Rio Mamanguape; a RESEX Acaú-Goiana, com parte de sua área localizada no território paraibano; e a Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo; são de uso sustentável. As unidades de proteção integral são o Parque Nacional da Serra do Teixeira e a Reserva Biológica (REBIO) Guaribas.

Mediante legislação são definidos os critérios, os objetivos e as diretrizes para a criação, implantação e gestão das UCs, visando a proteção do patrimônio natural e a promoção do desenvolvimento socioambiental sustentável. Protegem remanescentes de Mata Atlântica, hábitats de espécies ameaçadas e endêmicas, e ecossistemas costeiros.

Na Paraíba, abrigam uma biodiversidade ameaçada, como o guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul) e o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus). De acordo com o engenheiro florestal, analista ambiental do ICMBio e chefe do NGI Mamanguape, Paulo Roberto Corrêa, as unidades desempenham papel essencial na manutenção de serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima, proteção de nascentes e mananciais hídricos, estabilidade do solo, controle de erosão e estoque de carbono.

Também permitem o uso sustentável dos recursos naturais por populações locais e comunidades tradicionais, e servem como espaços para estudos científicos e atividades educativas. “O monitoramento das UCs é feito por meio de programas e ferramentas como o Manejo Integrado do Fogo, o Monitoramento da Biodiversidade, os planos de manejo, a vigilância e a fiscalização ambiental. Também são realizados levantamentos de fauna e flora, análise de dados de sensoriamento remoto e ações de educação ambiental”, acrescentou Paulo.

Jardim Botânico é um refúgio verde na cidade

O Jardim Botânico Benjamin Maranhão (JBBM), está situado no RVS Mata do Buraquinho, Unidade de Conservação de Proteção Integral, com 512,933 hectares. “Destaca-se como um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica, em perímetro urbano do país, possuindo grande extensão e importância ecológica”, apontou a bióloga Juliana Coutinho.

Abriga espécies importantes e ameaçadas, promove regulação microclimática, e contribui para o equilíbrio ambiental e qualidade de vida na cidade. “Ao passo que se intensificam a expansão urbana desordenada e a fragmentação dos hábitats naturais, a supressão de áreas verdes nos centros urbanos tende a comprometer, drasticamente, e exaurir a funcionalidade das florestas”, explica Juliana Coutinho.

“Ao longo do tempo, a área passou por diferentes representações e usos. Foi somente a partir da valorização do seu potencial, como fornecedora de água, e da consciência ecológica emergente, que a Mata do Buraquinho passou a ser vista sob uma nova ótica”.

Os esforços de preservação incluem ações educativas, fiscalização ambiental, recuperação de áreas degradadas e projetos de pesquisa científica, além da articulação entre a Sudema, comunidade local, instituições de ensino e sociedade civil organizada. “As atividades realizadas buscam traduzir o saber científico para a linguagem do público em geral. Com oficinas, trilhas e eventos que proporcionam experiências diretas com a natureza, buscando despertar o entendimento do ambiente natural e a sensibilização ambiental”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de maio de 2025.