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Em João Pessoa

Causas de crimes estão em debate

publicado: 31/10/2025 09h13, última modificação: 31/10/2025 09h13
Curso promovido pela Polícia Militar abordou o tema da prevenção criminal pelo design do ambiente
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Participantes trabalham fundamentos das ciências comportamentais aplicadas e estratégias clássicas da CPTED | Foto: Evandro Pereira

por Bárbara Wanderley*

A iluminação, a presença de mobiliários de uso comum e manutenção dos ambientes públicos são alguns fatores que podem influenciar para que o local se torne mais ou menos favorável à prática de crimes. Esse foi o tema do 2º Curso Multiplicador em Prevenção Criminal pelo Design do Ambiente (CPTED), promovido pela Polícia Militar da Paraíba (PMPB), em parceria com o Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste, que teve início na última segunda-feira (27) e termina hoje, em João Pessoa.

“Nós trabalhamos com uma metodologia chamada ‘Prevenção Criminal pelo Design Ambiental’. ‘CPTED’ é a sigla internacional para ‘Crime Prevention Through Environmental Design’. Essa metodologia existe desde a década de 60, mas ela não era conhecida no Brasil. Nós trouxemos essa metodologia pelo Brasil e ela parte da seguinte premissa: por meio da gestão qualificada dos espaços públicos, sejam eles urbanos, rurais, construídos ou naturais, nós conseguimos três objetivos: prevenir o crime; reduzir o medo do crime, ou seja, promover sensação de segurança; e promover mais qualidade de vida e bem--estar para a população”, explicou o tenente-coronel Isângelo Senna, da Polícia Militar do Distrito Federal, instrutor do curso.

De acordo com a PMPB, mais do que repassar técnicas, a iniciativa convoca população e Poder Público a decidir juntos onde e como agir para transformar praças, ruas e equipamentos urbanos — com foco em pertencimento, convivência e qualidade de vida.

Nessa edição, o curso formou multiplicadores entre policiais militares da Paraíba, Maranhão, Rio Grande do Norte e Pernambuco, além de guardas municipais de João Pessoa e Bayeux; arquitetos dos institutos de proteção ao patrimônio histórico; equipes da Secretaria de Participação Popular; da Secretaria de Segurança de João Pessoa; e representantes da sociedade civil organizada. O curso contou com o apoio da Secretaria de Segurança do Distrito Federal, da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) e da Loteria do Estado da Paraíba (Lotep).

No programa, os participantes trabalham fundamentos das ciências comportamentais aplicadas e estratégias clássicas da CPTED, como manutenção, vigilância natural, controle de acesso, territorialidade e participação popular, para orientar intervenções de baixo custo e alto impacto. Ao fim do curso, os participantes dividiram-se em cinco grupos para avaliar diferentes pontos da cidade e apresentar sugestões de melhorias em cada um deles. Os relatórios com as sugestões serão apresentados hoje na ALPB.

Ações práticas

A major Dayana Cruz Pereira, coordenadora de Integração Comunitária e Direitos Humanos da PMPB, contou que, desde 2024, a instituição vem trabalhando com ações de forma conectada. “Os projetos sociais, que antes aconteciam de modo dissociado, hoje estão alinhados. Existe um porquê daquele projeto social acontecer dentro daquela estrutura. No primeiro batalhão, por exemplo, a gente tem caratê, nós temos alunos que estão com a gente desde 2023. Nós tínhamos xadrez, violão, treino funcional através do programa Caminhar, na Praça Pedro Américo. Então todas essas ações tinham o objetivo de a gente conhecer melhor a comunidade e a comunidade também conhecer a nossa unidade. O batalhão abriu as portas para que essas pessoas entrassem, conhecessem. Hoje elas fazem parte da nossa rotina”, disse.

Ela citou ainda a rede Comércio Seguro, na qual há uma reunião mensal com os comerciantes da região do Centro de João Pessoa, onde fica o Primeiro Batalhão, para que eles falem sobre suas reclamações e demandas. “Dentro daquilo que eles nos trazem como prioridade, a gente vai buscar o ente que seja responsável para discutir isso dentro das estratégias da CPTED. Visibilidade, territorialidade, manutenção, participação popular, controle de acesso”, listou a major Dayana.

“A última pauta que eles nos trouxeram foi a Zona Azul. Então a gente trouxe o responsável pela Zona Azul, a gente está construindo ali um discurso com eles. Até um blogueiro entrou na pauta, fez um vídeo ensinando a população a usar a Zona Azul. Nós já falamos sobre a questão do patrimônio histórico, trouxemos os órgãos de patrimônio histórico para discutir com eles, eles aprenderam a dar entrada na isenção do IPTU, melhoraram a iluminação das suas lojas. Então hoje eles sabem que segurança pública é algo extremamente multifatorial, que não depende só da presença policial”, destacou a major.

Ela contou ainda que, recentemente, foi criada a rede Escola Segura, que no momento tem 11 escolas parceiras. “A Secretaria da Educação do Estado vem para fortalecer esse diálogo, para que a gente possa levar essa sensação de segurança, mitigando o medo do crime nos espaços escolares. E diversas outras ações, que eu posso citar o Caminhos da Fé, o novo Museu da História da Paraíba, onde a gente trabalha pertencimento, territorialidade com moradores, com crianças, com escolas”, citou ela.

O que cada cidadão pode fazer

Para o tenente-coronel Senna, cuidar dos espaços públicos é o primeiro passo para a prevenção de crimes, e a população pode contribuir. “É muito natural, na nossa cultura brasileira, a gente cuidar do nosso espaço privado, mas o espaço público é como se fosse terra de ninguém. Mas é justamente no espaço público que geralmente os crimes de oportunidade acontecem”, comentou.

Uma estratégia, segundo ele, é a vigilância natural. “Quanto mais o ambiente permite que a pessoa possa ver e ser vista, mais esse ambiente ele transfere o risco da potencial vítima para o agressor. Porque o agressor vai pensar se alguém está vendo, se pode ser impedido, se alguém pode chegar, a polícia pode de repente estar passando. Então ele vai pensar duas vezes antes de cometer um crime”, disse.

Outra estratégia é a manutenção, que é evitar que o equipamento público se deteriore e acabe sendo usado para outros fins. Ele usou o exemplo de uma quadra de esportes que, sem a devida manutenção, pode acabar se tornando um ponto de uso de drogas e prostituição. “O papel de identificar esse problema e tentar achar a solução não é só da polícia, é principalmente do usuário, da comunidade, que acha que não tem nada a ver com isso, mas tem. Porque ela pode buscar o Poder Público, ou a própria comunidade, ali, no mutirão, por exemplo, pode fazer a limpeza do ambiente. Ou seja, a territorialidade é se apropriar dos espaços públicos, tornando o espaço público como um território meu, como cidadão”, explicou.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 31 de outubro de 2025.