Foi preciso demolir para reconstruir. Nos anos 1980, a Rádio Tabajara viu sua sede original, um ícone da arquitetura moderna paraibana, ser derrubada para dar lugar ao atual Fórum Cível de João Pessoa. Ali, onde os ecos da era de ouro do rádio se misturavam ao vozeirão de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Ângela Maria, só restou o silêncio. “Arrancadas suas raízes num Estado que aprendeu a não respeitar suas origens”, como escreveu o jornalista e cineasta Linduarte Noronha, que dirigiu a emissora na década de 1970. A declaração foi veiculada na publicação “Rádio Tabajara 50 anos: 1937–1987”, organizada por José Octávio de Arruda Melo e Nilton Tavares, e lançada em 1987 pela Editora A União.
A antiga sede, projetada pelo engenheiro-arquiteto Clodoaldo Gouveia, era conhecida como o Palácio do Rádio. Ficava na Rua Rodrigues de Aquino, no Centro, e foi uma das primeiras construções no Brasil projetadas exclusivamente para emissoras, ao lado das rádios Nacional (RJ), Cultura (SP), Farroupilha (RS) e Clube (PE). Apesar de tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), o prédio da então PRI-4 — prefixo pelo qual a rádio ficou conhecida — foi demolido.
Mas a história não terminou ali. Em 9 de agosto de 1985, um novo capítulo foi inaugurado. A emissora ganhava sede própria na Avenida Dom Pedro II, no bairro da Torre, em João Pessoa, em um terreno com quase 13 mil m2, onde antes funcionavam os transmissores da rádio. O prédio foi inaugurado pelo então governador Wilson Braga, com a promessa de oferecer uma estrutura moderna e definitiva, após anos de instabilidade entre diferentes endereços, como a Praça João Pessoa e a Avenida João Machado.
Hoje, a rádio completa 40 anos. Mas será nesta segunda-feira (11) que uma festa simbólica reunirá os funcionários da casa para celebrar as quatro décadas de permanência, reinvenção e resistência. Na ocasião, serão homenageadas sete pessoas que fazem parte da história e do crescimento da empresa e da sede atual: o governador João Azevêdo, Manoel Raposo, Sulivan de Lima Calado, Carlos Pereira de Carvalho e Silva, Joabson Nogueira de Carvalho, Expedito Arruda Pires e José Edson Uchoa de Morais.
A história da sede da Rádio Tabajara, construída sobre ruínas e sustentada por vozes que não se calaram, é também a história da radiodifusão pública da Paraíba. “Eu ingressei na rádio em janeiro de 1989, quando a sede ainda era bem nova, com quatro anos. Tinha uma boa estrutura, muitos ambientes e um terreno arborizado. É raro uma emissora de rádio ter essa estrutura”, recorda o jornalista e radialista Josélio Carneiro, que passou 28 anos na emissora e é autor dos livros “Tabajara 65 anos — a Rádio da Paraíba” e “Rádio Tabajara — Patrimônio Cultural da Paraíba”.
O registro oficial em cartório, no entanto, só veio em 2014, com escritura lavrada no Cartório Carlos Ulysses. A aquisição formal encerrava um ciclo de insegurança jurídica sobre a posse da sede, consolidando definitivamente o espaço como patrimônio público.
Desde 2019, a Rádio Tabajara passou a integrar a Empresa Paraibana de Comunicação (EPC). “Com essa sede própria, você consegue ter mais estabilidade e fazer investimentos. Foi possível concentrar toda a estrutura em um só lugar. Isso tornou a gestão mais integrada, mais eficiente”, afirma a diretora-presidente da EPC, Naná Garcez.
Equipamentos modernos e programação diversa são marcas
A atual sede da Rádio Tabajara foi concebida para atender às necessidades específicas da radiodifusão, com espaços amplos, estúdios isolados acusticamente e boa ventilação natural. Mesmo décadas após sua inauguração, continua sendo uma estrutura funcional e perfeitamente adaptada às exigências da comunicação moderna. “Essa sede foi planejada para abrigar uma emissora de televisão. E, com o crescimento da EPC, ela se adequa perfeitamente a duas emissoras e ao Museu do Rádio”, reforça Naná Garcez.
A estrutura passou por diversas modernizações nas últimas décadas. Desde o nascimento da Rádio Tabajara FM 105.5 MHz até a recente migração da AM para FM, em 2023, os estúdios foram atualizados para receber novos equipamentos, linguagens e formatos de produção. “Nesses 40 anos, ela acompanhou a modernização da comunicação radiofônica, tanto nos avanços de seus equipamentos eletrônicos quanto na dinâmica da sua programação diversificada”, afirma Rui Leitão, superintendente da rádio na época da criação da FM e atual diretor de Rádio e TV da EPC.
Inaugurada em 5 de agosto de 1999, durante solenidade na Praça do Povo do Espaço Cultural José Lins do Rêgo, em João Pessoa, a Tabajara FM é, hoje, uma referência na valorização da Música Popular Brasileira e dos talentos locais. Emissora oficial do Estado, mantém uma grade culturalmente diversa, com programas como Trilha Sonora, Domingo Sinfônico, Jardim Elétrico e 105 Especial MPB. “É a única rádio do estado que coloca na programação artistas da terra com esse nível de destaque”, destaca Rui Leitão. E complementa: “Eu sempre tive um amor e um apreço muito grande pela Rádio Tabajara, e vê-la ganhando audiência e sendo modernizada com o trabalho eficiente da EPC me deixa muito feliz. É muito bom ver um filho crescer e prosperar”.
Prédio abriga museu voltado à história da radiodifusão estadual
Depois de 40 anos da inauguração da sede atual, a Rádio Tabajara é muito mais do que uma emissora: tornou-se um complexo vivo da comunicação pública paraibana. Em 2023, a antiga Tabajara AM completou sua transição para a FM e passou a se chamar Parahyba FM (103.9 MHz).
“A mudança de AM para FM representou uma virada histórica. Foi mais um passo da emissora rumo à modernização”, recorda Rui Leitão. Atualmente, as duas emissoras, agora integradas à Empresa Paraibana de Comunicação, ocupam posições de destaque na radiofonia estadual. “Cultura, entretenimento e informação são tratados com extrema responsabilidade e apurado senso de profissionalismo, honrando a tradição da Tabajara AM, ícone do radialismo paraibano. Tenho muito orgulho de fazer parte da sua história”, ressalta o diretor de Rádio e TV.
Hoje, o prédio abriga a Parahyba FM, a Tabajara FM e o Museu do Rádio Paraibano — três frentes de um mesmo legado que resiste ao tempo e às transformações do meio. Naná Garcez destaca o valor simbólico desse crescimento: “Hoje, temos aqui não só duas emissoras modernas, mas também o Museu do Rádio Paraibano, com uma linha do tempo da expansão da radiodifusão na Paraíba. É um espaço de memória e pertencimento”.
Parte essencial dessa história está nas mãos do técnico Edson Uchoa, há mais de duas décadas na emissora. Em sua oficina, ele cuida de antigos equipamentos, como rádios, transmissores e fitas de rolo — alguns já integrados ao acervo do museu. “Tudo isso faz parte da nossa história. É memória viva, que precisa ser preservada”, diz.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 9 de agosto de 2025.