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Encontro discute políticas de religiões

publicado: 28/11/2025 09h03, última modificação: 28/11/2025 09h03
Evento reforça o compromisso com a cidadania plena e a valorização da herança cultural africana no Brasil
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Mãe Renilda destaca que o momenmto conecta pessoas e comunidades de religiões de matriz africana com as outras instituições | Foto: Carlos Rodrigo

por Carolina Oliveira*

Estabelecendo um espaço de articulação política e religiosa, no encerramento do Mês da Consciência Negra, o 19º Encontro das Religiões dos Orixás (ERO) será realizado amanhã. Reunindo lideranças, praticantes e apoiadores das religiões de matriz africana, o evento reforça o compromisso das comunidades de terreiro com a cidadania plena e a valorização da herança cultural africana no Brasil. Realizado pela Federação Independente dos Cultos Afro-brasileiros (Ficab), o 19º ERO ocorrerá na Escola do Serviço Público do Estado da Paraíba (Espep), situada na Rua Desportista João Apóstolo de Souza, s/n, Mangabeira VII.

O objetivo do encontro é fortalecer a presença e garantir os direitos dessas comunidades no cenário social e político. “Eventos deste tipo são muito relevantes, justamente porque podem gerar impactos positivos na vida de uma parcela da população que já foi, historicamente, muito desrespeitada e afetada pela intolerância e pelo racismo religioso. Neste movimento, trazemos dignidade para este povo, que se sente abraçado, e se vê sendo representado”, afirma a presidente da Ficab, a ialorixá Mãe Renilda Albuquerque.

Mãe Renilda destaca que o encontro conecta pessoas e comunidades de religiões de matriz africana com as instituições e com o acesso à reivindicação e ao exercício de direitos fundamentais, além de fomentar o empreendedorismo e empoderamento. “É um evento que mobiliza diferentes setores e contará com representações do Ministério Público Federal, da Secretaria da Mulher e Diversidade Humana, Centro João Balula e Universidade Federal da Paraíba, por exemplo. Neste contexto, os terreiros passam a se sentir amparados”, avalia.

Tendo foco nas discussões e encaminhamentos de pedidos para implementação de políticas públicas, de acordo com a ialorixá Joyce Gomes, o encontro acontece na Paraíba desde os anos 1990. A ideia é possibilitar a horizontalidade das informações e dos diálogos, para que mais pessoas adeptas às religiões dos orixás, como Jurema, Umbanda, ou Candomblé, tenham acesso e estejam a par do desenvolvimento das ações em curso no âmbito nacional. “Para que, com isso, possamos lutar pelas políticas públicas direcionadas, também aqui na Paraíba, construindo uma agenda de reivindicações, não só pelo nosso segmento, mas por outros, como as comunidades tradicionais por exemplo”, descreve Joyce.

A ialorixá ressalta que também serão discutidos o plano nacional de desenvolvimento sustentável para povos e comunidades tradicionais e o plano de ação da política nacional para povos e comunidades tradicionais de terreiro e de matriz africana. “Se desenrolam em ministérios diferentes: Ministério da Igualdade Racial e Ministério do Meio Ambiente. Afetam diretamente a nossa vida, nosso desenvolvimento enquanto comunidade tradicional de terreiro, e aquilo que é construído por nós, e para nós, pelo governo e pela sociedade civil organizada”, explica.

O evento insere-se na agenda das religiões de matriz africana da Paraíba, na medida em que, conforme avalia a ialorixá Joyce, busca oxigenar as ações e esforços coletivos, transpondo as pautas de âmbito nacional para o contexto local. “São articulações que impactam o nosso acesso a direitos, o desenvolvimento econômico das nossas comunidades, e a possibilidade de manutenção das nossas tradições”, afirma.

Programação

Com início na manhã de amanhã, às 8h30, com a recepção e o credenciamento, o 19º ERO terá abertura às 9h30. A Mesa 1 — “Mecanismos de combate ao racismo religioso e a intolerância religiosa”— começará às 10h30, e a Mesa 2 — “Políticas públicas para povos e comunidades tradicionais de terreiro e matriz africana” —, às 11h30. Durante a tarde, a programação retornará às 13h30, com o debate “Perspectivas e caminhos para a Ficab”.

O Encontro abordará a proteção e o reconhecimento das comunidades de terreiro, o combate à intolerância religiosa — trazendo discussões fundamentais sobre medidas e estratégias para a proteção dos templos e praticantes — e o enfrentamento de todas as formas de preconceito, discriminação e violência contra as religiões de matriz africana.

Terão centralidade as estratégias e ações de enfrentamento ao racismo religioso e institucional, visando a plena equidade de direitos e o respeito às tradições. Além disso, será debatida a importância do sagrado e da preservação dos elementos naturais nas práticas religiosas e o papel das comunidades na sustentabilidade ambiental.

Um outro ponto importante será a análise das necessidades específicas das comunidades de terreiro, por meio do fortalecimento de canais de diálogo com o Poder Público. “Nessas mesas, vamos falar sobre a garantia dos nossos direitos: como chegar até o judiciário, se for preciso, quando eles são violados. Com esse propósito, estaremos mostrando aos gestores do país e do nosso estado também o que mais nos afeta e quais são as nossas necessidades. Nós temos terreiro em todo o estado da Paraíba e cada gestor precisa se responsabilizar por fazer valer a legislação constitucional”, conclui Mãe Renilda.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de novembro de 2025.