Os efeitos das mudanças climáticas em escalas global, regional e local são cada vez mais visíveis nos impactos sobre os ambientes naturais e a biodiversidade, no aumento da temperatura e mudança nos padrões das chuvas, com sérias implicações no processo de desenvolvimento econômico e social de nações em desenvolvimento, que vulnerabilizam milhões de pessoas no mundo, em sua maioria pobres e marginalizadas.
Vulnerabilidade essa agravada a partir dos extremos climáticos associados à precipitação pluviométrica que afetam diretamente os recursos hídricos, uma vez que a mudança no padrão de precipitação tem tido impacto direto no ciclo hidrológico, afetando a vida da população, resultando em perdas econômicas, materiais e até vidas humanas.
As projeções futuras dos impactos das mudanças climáticas apontam para alterações da temperatura e dos totais pluviométricos, que poderão causar inundações e secas mais severas e frequentes em inúmeras partes do planeta.
Essas análises levaram pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) a desenvolver um Plano de Ação Climática para municípios do Cariri Ocidental, tendo como meta diminuir a degradação ambiental do solo e da água. O projeto está inserido no Programa de Apoio a Núcleos em Consolidação do Estado da Paraíba, da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) e Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties), e foi contemplado com R$ 94 mil, de um total de investimento de quase R$ 3 milhões.
O projeto prevê ações com base na meta ODS11, que se refere a Cidades e Comunidades Sustentáveis, e ODS13, que se refere à Ação contra a Mudança Global do Clima, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — ONU/2030.
A pesquisa tem como objetivo desenvolver um mapeamento climático como ferramenta de tomada de decisão atrelado ao planejamento e gestões urbana e rural, tendo em vista diminuir a degradação ambiental do solo e da água, e proteger tanto as áreas urbanas como as rurais diante da necessidade do desenvolvimento espacial sustentável.
De acordo com a coordenadora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e coordenadora do Centro de Pesquisa em Desenvolvimento Regional, Big Data e Geoprocessamento (Fapesq/UEPB), a professora Ângela Ramalho, a proposta do Plano de Ação Climática dos municípios de Serra Branca e Cabaceiras já foi concluída. Segundo ela, no município de Serra Branca, foi apresentada e aprovada na Câmara Municipal e deverá ser constituída como projeto de lei.
A ação integra um projeto maior, o de Segurança Hídrica (Seghid) que tem como meta preparar as cidades para os impactos das mudanças climáticas. “Considerando que o mapeamento climático é uma ferramenta importante na tomada de decisão atrelado ao planejamento e gestão urbana e rural, o que demanda adotar medidas de resiliência climática que possam mitigar efeitos e até preveni-los”, enfatizou a professora Ângela.
Para o coordenador do projeto, o professor José Irivaldo Alves Oliveira Silva (CDSA/UFCG), a elaboração de planos é fundamental para que as cidades e zonas rurais sejam mais resilientes. “Mas é preciso colocar em prática as ações planejadas”, enfatizou o pesquisador.
A elaboração dos planos, além da professora Ângela e do professor Irivaldo, contou com a participação de estudantes de graduação vinculados à Iniciação Científica do Curso Estatística (UEPB) e alunos da pós-graduação em Desenvolvimento Regional e do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da UFCG de outros programas.
É importante destacar que o engajamento das comunidades é fundamental para a construção de planos, que terão impacto na vida de cada um, observou Irivaldo. “Ao longo do tempo, foi possível verificar que esse interesse pela decisão coletiva tem se perdido, talvez pela falta de percepção dos resultados. É preciso ressignificar esses espaços e recuperar a confiança dos atores sociais”, alertou.
É possível listar três pilares dessa ação: mobilização comunitária, que reúne diferentes segmentos da sociedade e é fundamental pois permite ouvir diversas vozes e interesses e que as soluções para os problemas locais possam ser construídas; identificação de desafios, que levanta preocupações relacionadas às mudanças climáticas, incluindo a degradação de ecossistemas e os impactos na agricultura e na piscicultura, permite entender os riscos específicos e, assim, priorizar ações eficazes; e a conscientização dos atores locais, que percebe um elevado conhecimento dos atores locais sobre a importância da preservação ambiental e da adoção de práticas sustentáveis entre os participantes.
Outra ação importante que será desenvolvida pelos pesquisadores do projeto Seghid é a realização de oficinas nos diferentes campi da UEPB e da UFCG. O objetivo é apresentar os produtos gerados pela pesquisa, como as Agendas de Políticas Públicas (foram 12 ao total), os livros produzidos, o Guia Educacional Sobre a Água, a plataforma virtual de formação, o documentário sobre a Bacia do Rio Paraíba, o Guia para Gestores Públicos.
Além desses materiais, foram realizadas oficinas, webnários e seminários nacionais e internacionais. Todo esse material está sendo disponibilizado no site do projeto.
O Programa de Apoio a Núcleos em Consolidação do Estado da Paraíba visa apoiar grupos de pesquisa em estágio de consolidação para fortalecer a infraestrutura e expandir a base científica e tecnológica no estado da Paraíba. O programa busca fortalecer a pesquisa, a inovação e a formação de recursos humanos qualificados em diversas áreas do conhecimento.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de agosto de 2025.