O contato com a natureza faz bem à saúde. Pelo menos é o que diz um estudo publicado na revista Ecopsychology, o qual aponta que passar pelo menos 10 min em locais como acampamentos — principalmente próximo a fontes de água como rios, lagos e oceanos — e praticar jardinagem, por exemplo, reduz o estresse e melhora o humor. Quem não tem os recursos para essas atividades, porém, pode ficar tranquilo. É possível obter benefícios semelhantes fazendo um passeio por praças e parques bem arborizados.
O servidor público Francisco Barbosa não abre mão de suas atividades ao ar livre e com muita natureza envolvida. Ele contou que para isso costuma fazer passeios e viagens, e que gosta de acampar durante as férias ou feriados prolongados. No dia a dia, ele incorpora a natureza na rotina ao pedalar na orla marítima, nos fins de semana, ou fazer uma trilha no Jardim Botânico Benjamin Maranhão, em João Pessoa.
- Atividades em grupo, como caminhadas e trilhas, são uma boa forma de interagir com a natureza | Foto: Rafael Nascimento/Arquivo pessoal
“Para mim são atividades bem importantes, que funcionam como uma válvula de escape da rotina de trabalho e das obrigações da vida adulta e também me inspiram e me deixam mais calmo e contemplativo”, avaliou.
A dona de casa Maria José Sobral faz questão de seu contato diário com a natureza. Apaixonada por jardinagem, ela mantém em casa o que chama de urban jungle (do inglês floresta urbana), e também demonstra grande amor pelos animais. “Tem uma história que diz: ‘planta teu jardim que as borboletas vêm’. Não só as borboletas, mas também vem abelha, camaleão, sagui, maribondos. E eu cuido muito e respeito. Porque, ultimamente, as pessoas só pensam em matar. ‘Se tem um maribondo ali, vamos matar’. Não. Aquilo ali serve de polinizador”, explicou.
Para ela, cuidar das plantas funciona como uma terapia. “Eu tenho 61 anos e não tomo nenhum comprimido. Aliás, ninguém aqui em casa toma. Isso aqui traz felicidade, porque a partir do momento em que você está cultivando, você esquece de tudo. É tipo uma terapia mesmo. Eu falo que é uma ioga, porque você está ali, concentrado. A ioga não são só aqueles movimentos, é a concentração. Se você ficar ali concentrado, mexendo nas plantas, você não pensa em nada, sua cabeça zera. Então, isso só traz benefícios para a gente, de não se estressar, de estar de bem com a vida”, avaliou.
O que diz a psicologia
O contato com a natureza é uma necessidade humana essencial e não apenas uma forma de lazer. Nosso corpo, nossos ritmos biológicos, sentidos, mente e emoções foram moldados em relação com o ambiente natural, pois a espécie humana desenvolveu-se em interação direta com seus ciclos e elementos — como a luz solar, o vento, a chuva e os terrenos irregulares. Ou seja, o corpo humano evoluiu adaptando-se à natureza e não a ambientes artificiais ou sedentários. É o que diz a psicóloga Aretha Paiva.
“Estar em contato com o mundo natural traz inúmeros benefícios para a saúde física e mental. Fortalece o sistema imunológico, melhora o sono e a respiração, reduz o estresse e a ansiedade, regula a pressão arterial e aumenta a energia vital. Também favorece a coordenação motora, a concentração, a criatividade e a autorregulação emocional. Ao estar em ambientes naturais, o corpo desacelera, a mente se acalma e a pessoa reencontra o equilíbrio entre movimento e repouso, presença e escuta — promovendo bem-estar integral e sensação de pertencimento à vida”, afirmou.
Ela destacou que várias pesquisas científicas indicam que pequenos períodos diários (10 a 20 min) de conexão consciente com a natureza já são capazes de produzir efeitos significativos em termos de melhora do humor e redução de estresse. “E quando esse tempo consegue atingir cerca de duas horas ao longo da semana, os benefícios são ainda mais consistentes, em termos de qualidade de vida, equilíbrio emocional e sensação de bem-estar”, completou.
Aretha destacou que mesmo quem mora em apartamento pode usufruir desses benefícios. “O segredo é incluir o natural na rotina, de forma simples e constante. Abrir a janela para o sol entrar, cuidar de uma planta, caminhar ao ar livre, colocar os pés na terra, observar o céu ou ouvir o som da chuva — tudo isso já ajuda o corpo e a mente a desacelerarem. Também vale aproveitar os momentos de exercício físico em ambientes naturais, como caminhadas, corridas, alongamentos ou ioga ao ar livre. Além de melhorar a saúde, o contato com o sol, o vento e o verde amplia a sensação de vitalidade. Aproveitar momentos de lazer com família e amigos em parques ou praias são estratégias para tornar cotidiana a nossa relação com a natureza”, aconselhou.
Afastamento nocivo
Aretha Paiva lembrou que o afastamento da natureza traz impactos importantes para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, especialmente na infância. “Quando as crianças passam muito tempo em ambientes fechados, com estímulos artificiais e pouca vivência corporal, perdem oportunidades fundamentais de experimentar o mundo real com o corpo e os sentidos. Isso pode gerar aumento da ansiedade, dificuldades para dormir, menor tolerância à espera e menor capacidade de autorregulação emocional”, explicou.
Ela enfatizou que a natureza também é um espaço de aprendizagem. “Ao correr, subir, equilibrar-se e explorar, a criança desenvolve coordenação motora, autonomia, capacidade de avaliar riscos e confiança no próprio corpo. Essas experiências fortalecem também a autoconfiança e a percepção de competência”, explicou.
Além disso, ela contou que o brincar heurístico — aquele em que a criança explora elementos simples e naturais, como pedras, galhos, sementes, tecidos ou conchas — amplia a criatividade, o foco e o encantamento, favorecendo uma relação mais saudável com o tempo e com o próprio corpo. “Quando o contato com a natureza é reduzido, perde-se também essa conexão essencial entre corpo, mente e mundo”, afirmou.
Respeito ao meio ambiente gera conforto até dentro das cidades
O arquiteto e urbanista Ricardo Vidal explicou que a natureza é levada em consideração nos planejamento das cidades e mesmo de projetos menores, como condomínios, sendo parte essencial da própria arquitetura e do urbanismo. “Quando a gente respeita e integra o meio ambiente desde o começo, o resultado é sempre mais equilibrado, tanto no conforto térmico, quanto na drenagem e até no bem-estar das pessoas. E a vegetação funciona como um sistema natural de climatização. Ela reduz a temperatura, melhora a qualidade do ar e ajuda a manter a umidade também. Já as áreas verdes e o solo permeável evitam alagamentos e aliviam o sistema urbano. Cidade boa é aquela que tem sombra, praça, jardim acessível, não é aquela cheia de concreto e calor”, disse.
Opções
Algumas opções de lazer que envolvem a natureza são os passeios pelas praias, praças e parques espalhados pela cidade. Para quem mora em João Pessoa, a Bica costuma agradar particularmente as crianças. Ainda na capital paraibana, é possível fazer trilhas no Jardim Botânico, de terça a sábado, às 9h e às 14h. É preciso apenas chegar ao local com antecedência, usando calça comprida e sapato fechado. Não é necessário agendamento, exceto para grandes grupos.
Há diversas alternativas também no interior do estado. Uma delas está no município de Cruz do Espírito Santo, onde são realizadas diversas trilhas. “O município possui ainda uma boa área da reserva da Mata Atlântica. Porém, essas áreas de matas ainda são propriedades privadas das usinas e engenhos. A usina São João, a usina Miriri, o Engenho São Paulo. E também tem uma área que é de preservação ambiental do assentamento Santa Helena III, que é entre Cruz Espírito Santo e Sapé. Então, aqui, ainda tem essa riqueza natural de águas cristalinas, fontes nascentes, águas potáveis, e esse restinho de Mata Atlântica, na área de preservação. É nesses locais em que a gente tem desenvolvido o trabalho de trilhas, que aos poucos veio crescendo e se tornando um movimento importante aqui no município”, revelou o guia Rafael do Nascimento.
Ele contou que já são mais de 17 trilhas catalogadas aqui no município de Cruz do Espírito Santo e também na parte vizinha, que faz divisa com o município de Sapé. Para agendar um passeio, basta entrar em contato pelo Instagram @jovens_eco_pb. Rafael explicou que no agendamento é possível definir se a pessoa prefere uma trilha fácil, moderada ou difícil, e também se ela quer ter acesso a banho, refeições, visitar igrejas, etc.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 19 de Outubro de 2025.