Músicas do brasileiro Heitor Villa-Lobos e de compositores argentinos, com destaque para Astor Piazolla, vão tornar ainda mais especial o concerto da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB) amanhã. O Concerto Binacional Brasil–Argentina será em comemoração ao 215o aniversário da Revolução de Maio de 1810, que marcou o início do processo de independência da Argentina em relação à Espanha, e em homenagem ao professor Afonso Pereira, um dos fundadores da Orquestra Sinfônica da Paraíba.
Regido pelo maestro Gustavo de Paco de Gea, o concerto terá três participações especiais como solistas: a soprano paraibana Izadora de França, e as argentinas Analía Goldeberg, no piano, e Sofía Calvet, no bandoneon.
A apresentação comemorativa começa às 20h30, na Sala de Concertos Maestro José Siqueira, no Espaço Cultural, em João Pessoa. A entrada é gratuita, mas com distribuição de ingressos, a partir das 19h, na bilheteria da rampa 4, com o limite de dois por pessoa.
Um dos homenageados da noite, o maestro Afonso Pereira, é um nome importante da criação da Orquestra Sinfônica da Paraíba. A homenagem contará com a presença do professor e acadêmico Francisco de Sales Gaudêncio, autor do livro “Uma Vida por Escrito — Estudo biográfico de Afonso Pereira da Silva (1917–2008)”, que será lançado nesta sexta-feira (30), às 18h, também na Sala José Siqueira.
O concerto começará com a execução dos Hinos Nacionais Brasileiro e Argentino. Em seguida, a cantora lírica Izadora França vai subir ao palco para cantar, junto à orquestra, duas composições de Villa-Lobos: “Ária das Bachianas Brasileiras no 5 (Cantilena)” e “Quatro Canções da Floresta do Amazonas” (Veleiros, Cair da Tarde, Canção de Amor e Melodia Sentimental).
A partir daí, tem início a execução de músicas argentinas, todas com as solistas Analía Goldeberg e Sofía Calvet. A primeira será “A Fuego Lento”, clássico do compositor e maestro Horacio Salgán, um dos pioneiros do tango de vanguarda.
O concerto seguirá com “La Yumba”, de Osvaldo Pugliese; “Emancipación”, de Alfredo Bevilaqua; “Derecho Viejo”, de Eduardo Arolas; “Morena”, de Julián Plaza; e “Moreguita”, de Analía Goldeberg.
Para encerrar a noite de homenagens, uma sequência de quatro composições de Astor Piazolla: “Decaríssimo”, “Adiós Nonino”, “Libertango” e “Tristeza de um Doble A”.
“Vai ser um concerto binacional, procurando mais uma vez a irmandade das nações vizinhas, Brasil e Argentina, e isso especificamente pela comemoração da liberdade na Argentina”, disse o maestro Gustavo de Paco.
“O concerto vai começar com uma homenagem para uma pessoa de muita importância na cultura da Paraíba, que foi um dos criadores da primeira Orquestra Sinfônica da Paraíba, que é Afonso Pereira. Depois dessa homenagem, teremos a execução dos dois hinos nacionais”.
O maestro explicou que o concerto vai ser dividido em duas partes, a parte do Brasil e a parte da Argentina. “Na parte do Brasil, teremos cinco canções de Villa-Lobos, sempre com a solista Izadora França. Na parte que representa a Argentina, temos duas grandes solistas femininas, no piano e no bandoneon, quando começa uma sucessão de tangos, muitos deles extremamente famosos”. Gustavo de Paco destacou que haverá também uma peça da própria solista pianista, Analía Goldeberg, “Moreguita”, também um tango.
Para a cônsul-geral da Argentina no Brasil, Julieta Grande, “a celebração dos 40 anos da amizade Brasil–Argentina é um marco muito importante”. “Queremos destacar no calendário cultural e justamente fortalecer os laços de amizade entre o Nordeste e a Argentina, que é o norte das atividades que o Consulado desenvolve nos sete estados sob nossa jurisdição no Nordeste, especialmente por meio das parcerias culturais. Estamos felizes por, mais um ano, celebrar a Data Nacional Argentina em parceria com as instituições culturais mais relevantes da Paraíba, trazendo o melhor da música argentina e da música nordestina”, ressaltou.
O escritor Francisco de Sales Gaudêncio falou sobre a importância do maestro Afonso Pereira, um dos homenageados da noite, para a música na Paraíba. “Em outubro de 1945, um grande passo foi dado para a consolidação da música erudita no estado, quando, por iniciativa da Sociedade de Cultura Musical da Paraíba, presidida pelo professor Afonso Pereira, veio a João Pessoa a Orquestra Sinfônica de Pernambuco para apresentação de dois concertos no Cine Teatro Plaza”, contou.
“Foi o suficiente para que os maestros Francisco Picado, Camilo Ribeiro e Joaquim Pereira, entre outros músicos e amantes da música erudita, se juntassem para a criação da Orquestra Sinfônica da Paraíba, em 4 de outubro de 1945, apresentando seu primeiro concerto em 29 de maio de 1946, sob a regência do maestro Francisco Picado”, explicou o professor Sales.
“Na sua extensiva e voluntária dedicação à causa pública na educação e na cultura, a presença de Afonso Pereira deixou na OSPB uma parte da sua contribuição, que, se juntando a de outros abnegados nesta causa, possibilitou a continuação de um sonho concretizado em poesia sonora que nunca cessa”, finalizou.
A cantora lírica Izadora França disse ser uma grande alegria e honra ser solista neste concerto com a Orquestra Sinfônica da Paraíba, sob a regência do maestro Gustavo de Gea, com quem teve o privilégio de trabalhar por muitos anos. “Essa parceria torna o momento ainda mais especial, assim como a oportunidade de interpretar obras tão marcantes de Heitor Villa-Lobos”, contou.
Ela destacou ainda a importância da OSPB para a sua vida. “A parceria com a Orquestra Sinfônica da Paraíba, que tem décadas de um trabalho artístico tão relevante na Paraíba e no Brasil, tem um significado enorme para mim enquanto artista paraibana, pois a Orquestra faz parte da minha história. Cresci assistindo aos seus concertos, participei como violinista bolsista e foi em um concurso da OSPB, onde fui uma das ganhadoras, que tive a primeira oportunidade de solar com uma orquestra profissional”, relembrou.
A pianista argentina Analía Goldberg, também solista da noite, enfatizou a alegria de participar deste concerto comemorativo. “Tenho muito orgulho de representar o tango e minha pátria no querido Brasil, junto às maravilhosas orquestras de Recife e da Paraíba. Estou muito contente por trazer a vocês minha música e a música de Buenos Aires, o tango, ao lado da minha querida colega e mestra do bandoneon, Sofía Calvet. Agradeço especialmente ao Consulado Argentino e a todos que trabalharam para tornar este evento possível”.
Satisfação compartilhada também com a bandoneonista Sofía Calvet. “Estou muito feliz por poder realizar esta minha primeira turnê pelo Nordeste do Brasil, uma turnê que representa um grande abraço cultural, pois são concertos sinfônicos em comemoração à Revolução de Maio de 1810”, destacou.
“Acredito sinceramente que será uma experiência única e muito valiosa o fato de compartilhar com músicos e musicistas do Brasil, por quem tenho uma grande admiração, já que sou apaixonada pela música folclórica brasileira. Muito feliz e muito grata por poder fazer essa viagem, por levar o tango ao Brasil, por aprender com a cultura brasileira e por estar ao lado da minha companheira Analía Goldberg, grande mestra e parceira. Estou realmente muito feliz e agradecida, também ao Consulado Argentino em Recife”, comemorou.
O regente
Natural de Buenos Aires, Gustavo de Paco de Gea formou-se no Conservatório Juan José Castro. Atuou como flautista e docente em orquestras argentinas até 1978, quando passou a lecionar Flauta Transversal na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Fundou o Quinteto Latinoamericano de Sopros da UFPB, com apresentações no Brasil e no exterior.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de maio de 2025.