Há quase uma década, o boxeador Marcos Paulino fundou o projeto social CT das Trincheiras e, desde então, a vida de inúmeros pessoenses, sobretudo crianças e adolescentes, vêm sendo transformadas por meio desse esporte. De segunda-feira a sábado, o espaço localizado no Centro da capital paraibana é o ponto de encontro dos interessados em competir nos ringues.
“Como a gente trabalha com crianças e adolescentes, eu geralmente não cobro para nenhum, porque minha ideia era essa, não cobrar. Só que as crianças chegam aqui e a gente tem um preparo, que é um treinamento totalmente diferente, tem que ter paciência, cautela, para poder ensinar. Já os adultos, a gente já treina com mais força, com mais vontade, pois só o prazer de treinar que nos faz chegar lá”, explica Marcos.
Apesar dos avanços do projeto social, a falta de recursos ainda é um obstáculo constante. Segundo o responsável pela iniciativa, essa realidade, no entanto, não diminui o compromisso com os jovens atendidos. “A maior dificuldade que a gente tem aqui na Paraíba é conseguir apoio; esse é o mais difícil. Mas, como a força de vontade é maior, poder formar atletas é o orgulho que eu tenho nessa parte aí. Mesmo não tendo apoio, a gente tem a força humana, que é o mais importante, a força de vontade de ajudar o próximo”, revela Marcos.
Dentro da metodologia adotada pelo projeto, a disciplina é apontada pelo coordenador como um fator determinante para o desenvolvimento do atleta. Para ele, o rendimento no boxe está diretamente ligado à capacidade do praticante de manter constância, atenção e comprometimento durante as sessões de treino.
“O que faz ser um bom atleta de boxe é ele ter disciplina. Ser uma pessoa que queira treinar, que tenha vontade de treinar, porque não adianta a gente chegar aqui e dizer ‘eu vou treinar boxe’, mas, ao chegar aqui, não treinar direito, não prestar atenção nos treinos. Esse aí, ele não vai chegar a lugar nenhum. Mas, quando é um atleta disciplinado, que chega, alonga, aquece, treina com vontade, aí sim; esse aí tem 100% de chance de chegar ao topo”, assegura Marcos.
Competições
Alecsandro Oliveira (categoria -60 kg) e Márcio Júlio (categoria -70 kg), atletas integrantes do CT das Trincheiras, estão se preparando para o Campeonato Paraibano e Jogos Abertos, ambos a serem realizados nas próximas semanas.
O primeiro treina no projeto desde a sua fundação. “Eu comecei por causa do meu pai, que já treinava junto com o Boca, como Marcos também é chamado. Eu vinha para a academia desde pequeno, vi eles treinando e comecei a participar também. Tinha meus nove anos quando o Boca montou, desde então fomos crescendo juntos, eu e os outros que começaram junto comigo; uns pararam, depois voltaram, e chegou um tempo que só ficou eu e o Boca. Ele sempre me ajudou, principalmente como material humano, porque não tinha gente para treinar comigo e ele acabava sendo minha dupla de treino”, relembra Alecsandro.
“A preparação de treino tem sido intensa porque o Boca vem se especializando muito nesse tempo, fazendo cursos com pessoas de renome no boxe, como o atual técnico da Seleção, entre outros, e ele vem se especializando nisso justamente para proporcionar o melhor para nós, que somos alunos dele”, acrescenta o jovem.
Já Márcio Júlio chegou ao projeto por um caminho diferente. Mesmo iniciando tardiamente na modalidade, ele encontrou na iniciativa o apoio necessário para se desenvolver dentro dos ringues.
“Eu comecei no boxe já aos 22 anos, não porque eu não quis, mas porque onde eu moro não tinha academia como essa, que dá a oportunidade que eu queria, que é de lutar, de competir mesmo. Mas, assim que eu descobri, eu já vim treinar aqui; todos me receberam de braços abertos mesmo e, de lá pra cá, tenho notado só progresso”, inicia ele.
“O que eu acho mais interessante aqui é o esforço do professor; se ele ver que você está se dedicando e se esforçando, ele prepara você, de verdade, faz tudo pra você ser um bom atleta, e era isso que eu queria”, finaliza o esportista.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 4 de dezembro de 2025.