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Ambiente vai muito além das vendas

publicado: 02/06/2025 09h41, última modificação: 02/06/2025 09h43
Espaço resgata a tradição do povo por meio dos inúmeros produtos artesanais, da culinária e da música
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Dia a dia do Mercado Central engloba o comércio de alimentos, utensílios tipicamente nordestinos e até apresentações culturais | Fotos: Roberto Guedes
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por Bárbara Wanderley*

“Fumo de rolo, arreio de cangalha, eu tenho pra vender, quem quer comprar? Bolo de milho, broa e cocada, eu tenho pra vender, quem quer comprar?”. A canção “Feira de Mangaio”, de Sivuca e Glorinha Gadelha, poderia muito bem estar falando sobre o Mercado Central de João Pessoa. No local, além das frutas, verduras e hortaliças que já são esperadas em qualquer feira livre, é possível comprar plantas, panelas, roupas, utensílios domésticos, brinquedos, chapéu de palha, além de itens de artesanato e outros ligados à cultura popular.

Também há a possibilidade de encontrar aquele “sanfoneiro no canto da rua” citado na canção. Na verdade, uma banda de forró completa, que tocava em um barzinho, onde alguns clientes aproveitavam para apreciar uma cachaça numa manhã de sexta-feira, quando a reportagem visitou o local.

Mesmo com a propagação de supermercados, atacadistas, shoppings centers e todos os tipos de lojas espalhadas pelos bairros da cidade, a tradição da feira livre permanece, e pode tornar-se uma experiência gastronômica e cultural para quem se interessar.

A comerciante Maria Lins da Silva, que é conhecida como Irmã da Goma, vende tapioca no mercado há 25 anos. Ela contou que chega ao Mercado Central às 4h30 da manhã e, às 5h, já está vendendo tapioca com café aos primeiros clientes que aparecem para comer, antes de seguirem para o trabalho. Ela também vende aos clientes o coco ralado e a goma, massa branca extraída da mandioca. Os produtos, usados para fazer a tapioca são opções para quem prefere fazer o preparo em casa.

Goma de tapioca também é a especialidade de Dona Odaísa que, em agosto, completa 42 anos trabalhando no mercado. Diferentemente das outras massas de fazer tapioca encontradas nos supermercados, geralmente em pacotes de 500 gramas, ela garante que seu produto não tem conservantes e também pode ser comprado em grandes quantidades, já que é vendido a granel. Com isso, a comerciante atrai não só donas de casa, mas também empreendedores que precisam comprar os ingredientes em grande quantidade para fazer tapiocas para vender.

Já a loja de Danusa Ribeiro é a verdadeira representação de um mangaio, com uma variedade de produtos que vai de xaropes naturais, conhecidos como “lambedores”, até armadilhas para ratos e coleiras de couro para cães. Segundo ela, os chás, os temperos e as raízes são os itens mais procurados pelos clientes. Com a aproximação das festas juninas, os chapéus de palha, colheres de pau, e as peneiras de palha também chamadas de “arupembas” fazem sucesso. “Já começou a venda. Temos algumas peneiras decoradas e tem o chapéu que vem com trança também”, contou.

A cozinheira Lúcia de Andrade estava visitando o mercado pela primeira vez em busca de um coador de café e achou a experiência muito boa. Ela contou que foi por indicação da amiga Maria Rita, que já é uma cliente fiel. “Eu venho, principalmente, para comprar cestas e baús, porque trabalho cesta de café da manhã”, explicou Maria Rita.

Na loja em que ela estava comprando, o Box da Rita, o trabalho com palha e vime ganha destaque em cestas, chapéus, peneiras, esteiras e peças decorativas de artesanato. Panelas de barro e moringas de diversos tipos e tamanhos também estão disponíveis no local. São produtos tradicionais, que não são encontrados em supermercados.

Um dos proprietários da loja, que é um negócio de família, o senhor Arlindo Freire contou que há 30 anos trabalha com o comércio de produtos regionais no Mercado Central. “Sempre com produto regional, a gente não pode deixar isso aqui morrer”, comentou. Ele acredita, porém, que são necessárias melhoras na infraestrutura do mercado para que o local consiga atrair mais turistas que valorizem os produtos artesanais.

Na Torre, praça de alimentação atrai turistas e paraibanos

Outro mercado bastante tradicional em João Pessoa é o que fica localizado no bairro da Torre, famoso, principalmente, pela praça de alimentação. No local, comerciantes como Roberto Alexandre, responsável pelo restaurante Fogão da Joselia, chegam cedinho para servir o café da manhã a trabalhadores que começam cedo na labuta, e também aos festeiros que só encerram a noite ao amanhecer. “O pessoal vem da PH tomar café aqui”, contou Roberto, referindo-se à boate localizada no bairro de Mandacaru.

“O café da manhã daqui do mercado é famoso e é ‘top de linha’. Os cafés de todos os comerciantes aqui são bons. A diferença é o atendimento, mas toda comida do pessoal aqui é boa. Tanto que aqui é lotado. Você chega aqui de sábado para o domingo, 2h, 3h da manhã, tem gente comendo. Durante a semana, a gente chega de 4h30, 5h. Aí no fim de semana, a gente chega de 2h30, 3h da manhã”, explicou Roberto.

Além do café da manhã, ele também serve almoço e jantar e afirma que abre todos os dias, inclusive nos feriados. “O pessoal de empresas, que trabalha aqui por perto, vem almoçar aqui. A gente fornece muita quentinha também para o pessoal de obra”, disse ele, que estima vender em torno de 250 refeições por dia.

O comerciante observou ainda que, embora receba clientes fiéis, que visitam o estabelecimento com frequência, aparecem pessoas novas todos os dias. “O mais interessante é isso, todo dia é gente diferente”, comentou. Para Roberto, isso acontece porque a praça de alimentação já se tornou referência para os turistas. “Aqui está cheio de gringos todo dia, pessoas da Argentina, Colômbia, Bolívia. Vêm provar o nosso rubacão, nosso feijão verde, feijão preto, fava. Tudo aqui no mercado da Torre tem. Variedade grande”, salientou.

Já o comerciante Dó, do restaurante do Dó, contou que serve cerca de 350 refeições por dia, e que já é famoso entre os turistas por causa da divulgação que ele, e também alguns influenciadores, fazem nas redes sociais. “Muita gente já chega aqui me procurando porque viu no Youtube”, afirmou.

A médica Cecília Pegado contou que tem o hábito de sair do bairro de Manaíra, onde mora, para comer no Mercado da Torre. “Eu venho mais para almoçar e também tomar café no domingo. Meu marido também adora. Acho que, por ele, a gente viria todo dia”, observou. A médica explicou que, além de a comida ser boa, seu pai trabalhou na feira por um tempo, por isso ela acabou criando uma relação afetiva com o local.

 *Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 1º de junho de 2025.