Na manhã de ontem (12), representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reuniram-se para anunciar uma série de iniciativas voltadas à conservação do patrimônio cultural da Paraíba, incluindo mais de R$ 18 milhões injetados, no estado, pelo Governo Federal, voltados para os cuidados de restauração e preservação dos bens históricos.
O evento, que aconteceu no Centro Cultural São Francisco, em João Pessoa, formalizou a posse do novo superintendente do instituto na Paraíba, o historiador Jivago Correia Barbosa, que revelou alguns projetos para sua gestão, direcionados à promoção do turismo e educação patrimonial.
“Além de dar continuidade ao trabalho do meu antecessor, Emanuel Braga, a ideia, agora, é a criação de dois dicionários, voltados para os patrimônios materiais e imateriais da Paraíba, em parceria com a Fundação Casa de José Américo (FCJA)”, Jivago explica. “Queremos, também, montar um livro que contenha todas as iconografias das igrejas e esperamos que esses materiais se tornem referência para o Ensino Superior e Médio do estado”. Ainda, com o apoio do padre Marcondes Menezes, diretor do Centro Cultural São Francisco, o Iphan prevê a criação de um aplicativo de roteiro, “para que turistas e paraibanos, como um todo, tenham fácil acesso a uma rota turística, com foco no patrimônio e no geoturismo”, completa o superintendente.
Após a cerimônia de posse, o padre Marcondes e técnicos do Iphan conduziram uma vistoria às obras de restauração da azulejaria do adro do Conjunto Franciscano, a fim de mostrar o trabalho realizado e detalhar as ações futuras para a equipe que veio da sede do instituto, localizada em Brasília. A restauração do complexo religioso teve início em 2023, com a reforma do cruzeiro do Centro Cultural São Francisco, a partir de uma iniciativa do padre, que lançou o projeto Caminhos da Fé Paraíba. As reformas foram acompanhadas de perto pela arquiteta e urbanista da Divisão Técnica do Iphan-PB, Ana Luiza.
De acordo com Ana, a maior parte do trabalho no complexo de São Francisco já foi feita e, agora, o foco está na revitalização da torre da igreja. “Esse é um trabalho de restauro que é enorme, delicado e muito detalhado, mas acredito que deve estar sendo entregue para a população no primeiro semestre de 2026”, conta ela. Para além da torre e do cruzeiro da igreja, houve, ainda, uma intervenção em 780 azulejos figurativos e na fachada do complexo, que foram entregues, oficialmente, durante a solenidade de ontem. “Essas estruturas tão complexas ganharam um outro ar. Aquilo que estava coberto de lodo, escondendo fissuras, foi reconstruído, com atenção minuciosa, e devolvido à comunidade”, diz Jivago Correia.
Segundo o padre Marcondes, o objetivo do Caminhos da Fé, elaborado pela Arquidiocese Paraibana, é restaurar diversas igrejas do estado. “Selecionamos igrejas coloniais e, em cada uma delas, tem sido feito um amplo diagnóstico para a revitalização. O São Francisco, este amplo complexo barroco, é nosso ponto de partida. Mas, daqui, estenderemos as obras para outros locais que contam um pedaço da história do nosso estado e da fundação da cidade de João Pessoa”, conta. Os outros locais que passarão por reformas são a Catedral Basílica Nossa Senhora das Neves, o Mosteiro de São Bento, e as Igrejas do Carmo, da Nossa Misericórdia e de São Frei Pedro Gonçalves.
Presidente nacional marcou presença no evento
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Leandro Grass, esteve presente no evento, para conhecer de perto o projeto de restauração desenvolvido na Paraíba e prestigiar a posse do novo superintendente. “Hoje, realizamos mais uma entrega do governo do presidente Lula, de extrema importância para o patrimônio cultural paraibano, que é o restauro dos azulejos do Conjunto São Francisco”, ele conta, ressaltando que “esse é um projeto que integra o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com obras viabilizadas pela Lei Rouanet, de incentivo à cultura. Estamos anunciando, também, uma série de outras ações para o Centro Histórico de João Pessoa”.
- Leandro Grass visitou as obras do Conjunto Franciscano
De acordo com Leandro, todas as intervenções que serão realizadas agregam o PAC, que permitiu um investimento de mais de R$ 740 milhões de reais em todo o Brasil. “É esse o tipo de patrimônio que nos garante memória, que não nos deixa esquecer de onde viemos, o que aconteceu no passado e a importância de todos aqueles que ajudaram a construir o país”, elucida Leandro. “Mas, também, o patrimônio é um ativo, uma ferramenta de desenvolvimento. Ele atrai turistas, cria senso de pertencimento na comunidade, aumenta a autoestima das pessoas, o orgulho de pertencer ao local. Um patrimônio preservado é, também, desenvolvimento para o país”, conclui o presidente.
Para o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Deyvesson Gusmão, o instituto entende que um patrimônio, seja material ou imaterial, só faz sentido porque é querido pelas pessoas que o detém. “Então os processos de restauração, devolver para a sociedade essas edificações e as obras de arte integradas a elas, é o que dá sentido ao nosso trabalho. O Iphan existe para isso, para devolver para as pessoas aquilo que é estimado por elas”, relata Deyvesson.
O padre Marcondes, que não só deu início ao projeto Caminhos da Fé Paraíba, como também segue acompanhando de perto o trabalho de restauração, fala que “é uma alegria imensa acolher todos esses investimentos, porque é um resgate que fazemos para a sociedade”. Ele comenta, ainda, que todo o trabalho de intervenção realizado na azulejaria, cantaria e nas edificações do Centro Cultural, bem como as demais obras que serão restauradas, visam trazer de volta a memória e a história do povo paraibano.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 13 de dezembro de 2025.