Basta aproximar-se de uma passarela para perceber um hábito perigoso: muitas pessoas continuam preferindo atravessar as rodovias correndo, entre os carros, a subir alguns degraus para chegar ao outro lado em segurança. Essa escolha, no entanto, custou caro para os 22 pedestres que perderam a vida, em João Pessoa, do início do mês de janeiro até ontem, ao tentar atravessar a BR sem usar a passarela. Nesse mesmo período, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 65 sinistros, com 68 pessoas feridas, índice diretamente relacionado com o comportamento arriscado dos pedestres.
Enquanto a equipe do jornal A União acompanhava o movimento na passarela da Gauchinha, por exemplo, um homem não só optou por atravessar pela rodovia como decidiu aguardar “uma brecha no trânsito” em pé no canteiro central, ignorando a passarela localizada a poucos metros de onde estava.
Enquanto alguns pedestres recusam-se a utilizar a passarela, motociclistas utilizam-na irregularmente. Durante a reportagem, motos foram observadas percorrendo o caminho, legalmente exclusivo para pedestres, atitude que oferece insegurança para aqueles que usam a estrutura para atravessar de um lado a outro da rodovia.
Moradoras do Bairro das Indústrias, Maria Célia e Dioneia Augusta relatam que evitam acessar as passarelas para ir ao outro lado do bairro. “Quando preciso, vou de carro de aplicativo. A BR é perigosa, mas já fui quase atropelada na própria passarela, porque uma moto passou em alta velocidade”, contou Maria Célia. Dioneia complementou: “Não tenho coragem de andar ali. Sempre tem alguém assaltando”.
Mesmo diante dessas críticas, há quem não abra mão de usar o recurso de passagem. Esse é o caso de Aluísio Estevão, também morador do Bairro das Indústrias. “Eu sei que tem risco de assalto, mas na BR temos o perigo de morrer atropelado. Avaliando os riscos, a passarela é infinitamente melhor. Eu uso sempre e nunca tive problemas”, afirmou.
Travessia Segura
Para enfrentar esse desafio, a PRF lançou o projeto Travessia Segura, com o objetivo de conscientizar pedestres sobre a importância de utilizar passarelas e faixas de pedestres. A iniciativa busca mostrar que atravessar a pista de forma indevida não apenas expõe a riscos, mas também pode ser mais demorado, já que é necessário esperar longos intervalos até que o fluxo de veículos permita a travessia.
As ações, que começaram ontem, concentram-se em pontos estratégicos de João Pessoa, onde há maior fluxo de pedestres. Ontem, a mobilização aconteceu na passarela da Gauchinha, na BR-101 (Km 90), das 7h às 10h e das 16h às 18h. Hoje, será a vez da passarela do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), na BR-230 (Km 23), nos mesmos horários.
De acordo com a PRF, a meta é reforçar que a vida deve estar sempre em primeiro lugar. O pequeno esforço de usar a passarela pode representar a diferença entre chegar ao destino em segurança ou entrar para as estatísticas de sinistros. “Um pequeno desvio pode ser o passo mais importante para uma travessia segura”, ressaltou a instituição.
Saiba mais
Transitar com motocicleta em passarela é uma infração gravíssima, conforme o artigo nº 193 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Esse espaço é exclusivo para pedestres e representa um ambiente de segurança para travessia. Ao invadir esse local com um veículo (moto), o condutor coloca vidas em risco e desrespeita o direito de ir e vir com proteção. A penalidade é severa: multa triplicada no valor de R$ 880,41 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 30 de setembro de 2025.