O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, ontem, em entrevista à Record TV, que o Governo Federal vai enviar uma reclamação oficial à Organização Mundial do Comércio (OMC), para tentar reverter as tarifas de 50% sobre exportações de produtos comerciais aos Estados Unidos, anunciada, na quarta-feira (9), por Donald Trump. Caso não haja sucesso, no entanto, o país adotará retaliações proporcionais, garantiu o presidente brasileiro.
A ideia de Lula é que o recurso à OMC seja articulado com outros países que também estão sendo taxados pelos Estados Unidos (EUA). “Não tenha dúvida de que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, reforçou o presidente.
A lei brasileira citada pelo presidente foi sancionada em abril e estabelece critérios para a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em resposta a medidas unilaterais adotadas por país ou bloco econômico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira.
O presidente prometeu apoiar o setor empresarial e se empenhar para fazer com que as mercadorias do Brasil que deixarão de ir aos EUA sejam compradas por outros países. “Vamos ter que proteger [o setor produtivo] e procurar outros parceiros para comprar nossos produtos. O comércio do Brasil com os EUA representa 1,7% do PIB [Produto Interno Bruto]. Não é essa coisa de que a gente não pode sobreviver sem os EUA. Obviamente que nós queremos vender”, frisou.
Respeito e soberania
Em um trecho da entrevista, Lula voltou a cobrar respeito de Trump e criticou a forma como a carta foi divulgada. “Achei que a carta do presidente Trump era um material apócrifo. Não é costume você ficar mandando correspondência para outro presidente através do site do presidente da República”, criticou.
Lula lembrou a bicentenária relação diplomática entre Brasil e EUA e destacou ter se dado bem com todos os demais líderes norte-americanos com quem se relacionou nas últimas duas décadas. Sobre os termos da carta de Trump, o presidente brasileiro voltou a rebater a alegação de que há algum tipo de disparidade comercial entre os países, já que os EUA obtêm superávits comerciais há, pelo menos, 15 anos.
Quanto à exigência de Trump de impedir que o ex--presidente Jair Bolsonaro seja julgado pelo crime de tentativa de golpe de Estado, Lula disse que o Judiciário é independente. “Eu não me meto no Poder Judiciário, porque aqui ele é autônomo”, ressaltou. “O que não pode é Trump pensar que foi eleito para ser xerife no mundo. Ele pode fazer o que ele quiser dentro dos EUA. Aqui, no Brasil, quem manda somos nós, brasileiros”, continuou.
Poder Legislativo
A decisão de Donald Trump também encontrou reação nos líderes do Poder Legislativo. Em nota assinada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, os parlamentares afirmaram que o tarifaço deve ser respondido “com diálogo nos campos diplomático e comercial”.
“O Congresso Nacional acompanhará de perto os desdobramentos. Com muita responsabilidade, este Parlamento aprovou a Lei da Reciprocidade Econômica. Um mecanismo que dá condições ao nosso pais, ao nosso povo, de proteger a nossa soberania. Estaremos prontos para agir com equilíbrio e firmeza em defesa da nossa economia, do nosso setor produtivo e da proteção dos empregos dos brasileiros”, declararam Motta e Alcolumbre.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 11 de julho de 2025.