O mundo como conhecemos hoje talvez não fosse tão colorido se não fosse por Andy Warhol. Artista criativo, cunhou o termo “pop art” nas galerias de todo o mundo. Explorou temas como consumismo, fama e cultura de massa, processando esses assuntos em obras repletas de cor, ousadia e criatividade. Visionário, é conhecido pela célebre frase “No futuro, todos serão mundialmente famosos por 15 minutos”.
Em uma rápida passagem por São Paulo, tirei um tempinho para conferir a maior exposição sobre Andy Warhol já realizada no Brasil. Em cartaz em duas salas no Museu de Arte Brasileira (MAB/Faap) desde o dia 1º de maio (fica até 30 de junho), Andy Warhol: Pop Art! reúne mais de 600 trabalhos trazidos diretamente do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh (cidade natal do artista).
A exposição mostra o quanto é grande o raio de atuação de Warhol. Engana-se quem pensa que o legado do artista se resume a telas coloridas de Marylin Monroe ou latas empilhadas de sopas Campbell. Há serigrafias, colagens, fotografias e filmes, além de pinturas e instalações.
Em um dos salões, o destaque é para a relação do artista com a música pop. E lá estão os retratos de Michael Jackson e Liza Minnelli, recriados com frisos coloridos. Aliás, em menor ou maior escala, fosse com a pegada pop art ou pelas lentes da máquina fotográfica que acompanhava o artista, ele retratou ainda a cantora Debbie Harry, o compositor Beethoven, o cineasta Alfred Hitchcock e até nosso Pelé, trabalhos que pude ver de perto.
A relação de Andy Warhol com a música, entretanto, data dos anos 1960, quando ele conheceu Lou Reed e John Cale e se envolveu diretamente com The Velvet Underground, grupo de rock que ensaiava no Factory, ateliê e escritório do multiartista. Ele chegou a empresariar a banda em 1965 e foi a partir dali que Warhol passou a atuar como mecenas e produtor musical, desempenhando um papel fundamental na cena roqueira dos EUA.
Andy Warhol também chegou a criar a antológica “capa da banana” para o disco The Velvet Underground & Nico, lançado em 1967, em que era possível “descascar” a banana. Ele também criou a capas de Sticky Fingers (com um zíper de verdade), dos Rolling Stones, e ilustrou, com seus famosos frisos neon, as capas de Love You Live (também dos Stones), Menlove Ave. (John Lennon), Aretha (Aretha Franklin) e Silk Electric (Diana Ross).
Também está na mostra a série em que ele retrata Mao Tsé-Tung. O líder da revolução comunista ganhou notoriedade após a visita de Nixon à China em 1971. “Warhol achava intrigante a ideia de que americanos, imersos na lógica capitalista de consumo, pudessem adquirir uma obra dessa série, colocando Mao como um ícone em suas casas”, registra um dos textos da mostra. O sucesso das telas de Mao levou Warhol a criar Myths, uma série de gravuras retratando de Drácula a Mickey Mouse (essas, não vi por lá).
Suas telas inspiradas na cena queer nova iorquina, instalações em vídeo e uma enorme coleção de fotos polaroides (retratando gente famosa e anônima) também compõem a mostra, incluindo sua contribuição à moda. “A moda e o estilo sempre exerceram grande fascínio sobre Warhol, especialmente por seu papel na criação da aura enigmática que envolve celebridades”, li em outro texto da exposição.
Pouco conhecida do grande público, as telas abstratas do artista também marcam presença, como uma obra gigantesca que faz referência a manchas de Rorschach. A mostra também traz a série Oxidations, iniciada em 1977. No processo de composição dessas obras, Warhol pediu a amigos para urinar sobre telas cobertas de tintas metálicas, para causar oxidação e obter tons coloridos.
E, claro, há os clássicos. Estão lá Elvis e Marilyn Monroe, a “Mona Lisa” de Warhol. Destaque para a série Campbell’s Soup Cans (“latas de sopa Campbell”, em tradução livre). A ideia surgiu quando um amigo sugeriu ao artista que pintasse algo reconhecível e banal. Warhol criou diferentes representações da lata (amassada, com tampa aberta etc.) e, anos depois, ao voltar à ideia, apresentou as latas simplesmente como eram dispostas no supermercado.
Essa sacada aparentemente simples foi revolucionária na época, e se tornou um dos marcos da carreira de um artista em que a multiplicidade foi tão importante quanto seu talento e sua criatividade, cujas ideias não saem de moda, e seguem inspiradoras até
os dias hoje.
*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de maio de 2025.