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Integrantes relembram como surgiu o Led Zeppelin em bom documentário

publicado: 10/06/2025 08h55, última modificação: 10/06/2025 08h55
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Jones, Plant, Boham e Page: anos iniciais do Led Zeppelin são contados pelos integrantes | Foto: Divulgação - Foto: Chris Walter

por André Cananéa*

Becoming Led Zeppelin — ignorado nos cinemas de João Pessoa e agora disponível para locação e venda digitais — não deixa de ser um documentário curioso. Muito se viu, se ouviu e se leu a respeito do quarteto inglês que injetou peso e distorção no blues, criando as bases para o hard rock e outros derivados barulhentos do gênero, além de ter deixado um legado de canções robustas.

A novidade é que agora os três remanescentes — Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones —, beirando os 80 anos de idade, resolveram olhar para o início da sua história e contar como se tornaram o Led Zeppelin, como alude o título do filme de duas horas de duração. Dessa forma, o recorte parte das influências individuais de cada integrante, passa pelo momento em que eles resolveram formar um grupo (de rock) e termina com o lançamento do Led Zeppelin II, cobrindo aí um período que vai de 1967 até o início de 1970.

O diretor Bernard MacMahon, que tem no currículo um documentário sobre como a música rural dos EUA foi registrada em disco (The Big Bang, de 2017), se vale de imagens raras de apresentações do Zeppelin, mostrando-as aos três integrantes a fim de arrancar-lhes lembranças que fujam do lugar comum. Uma boa surpresa é uma gravação em áudio raríssima do falecido baterista, John Bonham, que era avesso a entrevistas. Ele morreu tragicamente em 1980, aos 32 anos de idade (o grupo terminou três meses depois).

Então, a gente fica sabendo que Jimmy Page, um garoto-prodígio da guitarra, e o baixista John Paul Jones trabalharam juntos como músicos de estúdio, desses que gravam o que aparece pela frente. Para ilustrar, o filme saca a conhecida participação da dupla na gravação de Shirley Bassey para a música tema do filme 007 contra Goldfinger, de 1964.

O filme mostra um Page curioso, desses que aproveitavam as folgas das sessões de gravação para conversar com técnicos e engenheiros de som e aprender as possibilidades do estúdio, sobretudo quando acompanhou o célebre Donovan (é dele a guitarra, por exemplo, do álbum Sunshine Superman, de 1966, quando Page tinha apenas 22 anos).

Fã de Little Richards e da música norte-americana naqueles efervescentes anos 1960, Robert Plant acabou encontrando John Bonham no grupo folk Band of Joy, que surgiu no ano que Sunshine Superman saiu.

A dissolução dos Yardbirds — que chegou a ter Eric Clapton e Jeff Beck na formação — é a chave para a entrada em cena do Led Zeppelin. Jimmy Page fazia parte da formação em 1968, quando a banda acabou. Mas havia um contrato em aberto para o supergrupo fazer uma turnê na Escandinávia dali a alguns meses e, com a ajuda do empresário Peter Grant (que também seria o manager do Led), Page recrutou uma formação para não perder a viagem. A formação? Page, Plant, Paul Jones e Boham.

É aqui que o filme Becoming Led Zeppelin fica meio embananado. A história conta que nessa fase pré-Led, o grupo viajou sob a alcunha de The New Yardbirds. Na edição, o filme emplaca o grupo apresentando “How many more times” no que parece ser um programa de TV, começando por Plant apresentando o grupo para a plateia. O filme dá a entender que o número faz parte dessa turnê de 1968, mas na verdade é em 1969 e, se você assistir a todo o set (disponível no YouTube), verá que o filme omite justamente a parte que o vocalista anuncia: “Somos o Led Zeppelin!”.

Há outros equívocos de edição ao longo do filme. E é bom que o fã mais ardoroso saiba que, sim, o documentário é chapa-branca. Os polêmicos plágios são ignorados, como quando o quarteto regravou “Babe, I’m gonna leave you”, ignorando a autoria de Anne Bredon para a canção folk lançada originalmente no fim dos anos 1950 (e famosa na voz de Joan Baez, através de quem o quarteto conheceu a música). E, como aconteceria ao longo da carreira, Bredon (que morreu em 2019) conseguiu na Justiça que seu nome fosse creditado junto ao de Page e Plant a partir dos anos 1990.

Os excessos também são apropriadamente deixados de lado (apenas Robert Plant soltando um vago “havia drogas...”), mas até essas mal traçadas linhas não tiram o brilho e (sobretudo) a vontade de ver a gênese de um dos grupos mais intensos da história do rock, ilustrado com muito material raro e performances incríveis. E, fica a dica, procure também Led Zeppelin – A Biografia, do tarimbado Bob Spitz, lançada no Brasil, no ano passado.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de junho de 2025.