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Resenha

“Memento mori”

publicado: 25/06/2025 08h47, última modificação: 25/06/2025 08h47
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Seria um dos mortos-vivos de “Extermínio: A Evolução” ou um não cinéfilo perdido, sem o seu iPhone? | Foto: Divulgação/Columbia-Sony Pictures

por Audaci Junior*

Quando assisti Extermínio, há 23 anos, as salas de cinema paraibanas estavam começando a se modernizar com uma tecnologia “imersiva”, principalmente no quesito sonoro, nos multiplexes da vida. Independentemente da qualidade duvidosa (para não dizer sucateadas) das redes atuais, na semana passada fui assistir ao terceiro longa-metragem da franquia dos primeiros zumbis velocistas, que contou com a volta do seu diretor e roteirista originais, Danny Boyle e Alex Garland, respectivamente.

Para contextualizar e justificar este texto, a primeira produção tinha o diferencial de ser um dos primeiros filmes de grande orçamento gravado com uma câmera digital portátil, o que facilitou a equipe fazer o seu blitzkrieg diário nos primeiros raios de sol que acordavam o Centro de Londres. Até hoje é impressionante ver o então novato Cillian Murphy vagando pelos cartões--postais da capital inglesa sem uma vivalma por perto.

Em Extermínio: A Evolução, para acompanhar um grupo de sobreviventes isolados em uma ilha, 28 anos depois (que faz valer o título do filme no original), desta vez foi usados iPhones paramentados de tanta parafernália, que faria inveja ao Hulkbuster do Homem de Ferro.

Dito tudo isso, vamos para uma não resenha do filme, meio que imitando algumas expectativas subvertidas no próprio longa.

Impossível não fazer um paralelo do iPhone, ferramenta usada para corporificar o filme em si, com o montante de aparelhos celulares que ganhava vida de instante em instante na mão de um público cada vez mais desinteressado com a narrativa. Sabe as famosas cenas pós-créditos das produções de super-heróis, odiadas por Martin Scorsese (mais conhecido pelo meme “Absolute cinema”*)? Muitas pessoas parecem que vão assistir a um filme apenas por conta disso, como os mortos de fome aguardando o fim dos infindáveis discursos de um determinado evento para satisfazer com a “boquinha livre” no encerramento. “Miolos… miolos…”.

Fora que o cinema também serve de “babá” para jovens marmanjos que tem idade para assistir a um filme de terror, vide o quarteto de garotos que saíram no meio do filme, depois de um ter recebido uma mensagem pelo celular. Por ser a última sessão de cinema (salve, Peter Bogdanovich!), é só somar um mais um.

Arrematando com um dos temas de Extermínio: A Evolução, a vida é curta demais para os não cinéfilos. Por isso, vou arriscar dizer que esse povo tira o pen drive do notebook direto, sem ejetar a mídia com segurança.

(*) É claro que estrela o “Leonardo DiCaprio da ironia” nessa afirmação.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de junho de 2025.