Notícias

ARTIGO

Na homenagem da APL a Evaldo

publicado: 16/06/2025 09h21, última modificação: 16/06/2025 09h21

por Gonzaga Rodrigues*

Fazia tempo que eu não alcançava o auditório da Academia Paraibana de Letras (APL) na plenitude de sua principal finalidade, que é zelar pela presença, após a morte, dos que empenharam o melhor de si no labor literário, sobretudo no meio provinciano. Plenitude, desta vez, não só de casa cheia como de presenças compenetradas. 

Cumpríamos a homenagem póstuma do ritual acadêmico a Evaldo Gonçalves de Queiroz, cabendo a Ramalho Leite, presidente da casa, o discurso merecido por um membro exemplar da instituição, da sociedade e de meio século de vida pública da qual veio se exilar depois que o voto passou de esperança ou retribuição social a objeto de exclusivo valor de troca, mercatura no bom latim de Milton Paiva, recém-saído do Seminário para ser nosso professor no antigo Pio XI. 

Público compenetrado, acentuo. Certamente não tem sido diferente em sessões semelhantes. Mas as minhas ouças de orelhas grandes já não ouvem coisa nenhuma. E, para não ver Ramalho de papel na mão mal abrindo e fechando a boca, num discurso sem som, voltei-me para o auditório, o olhar e a mais concentrada atenção no comportamento, nas reações do auditório, a começar pelo meus vizinhos de poltrona, Luiz e José Nunes, e próximo a um Hildeberto Barbosa, um Gil Messias, a Tarcísio Pereira, a Maria das Graças, e ao discretíssimo Berilo Borba, chamado a compor a mesa, todos absorvidos pelas palavras do orador.

Daí terminei recaindo em meu próprio discurso, também sem palavras, ora formando com Evaldo no desfile do 8 de maio de 1945, toda a Floriano Peixoto, avenida principal de Campina Grande, a nos fazer expedicionários de peito estufado a comemorar a vitória da liberdade e da vida contra o nazifacismo que acabava de desabar sob cerco russo que se julgava extinto para todo o sempre.

Ali sentado, esperando a minha vez, custava aceitar que a farda do Pio XI, por mais que vestisse os nossos sentimentos, fosse tão passageira. Ainda que Evaldo, para mim, continuasse sempre vestido nela.

Berilo, ex-reitor de passos sutis, ali em frente, se me afigura menos na mesa da solenidade do que no birô de auxiliar de Evaldo, trazido de Campina Grande. O mesmo tom de voz, o mesmo homem.

Unia-nos a Evaldo, além do ginásio, do grêmio literário dos nossos 15 anos, o gosto nunca minguado pelas letras. Quanto a mim, sem persistência por um curso, pela perseguição a uma carreira cuja graduação dependesse de força de vontade e disciplina, terminei suportado pelo jornalismo. Jornalismo sem curso, que me seduzia pela liberalidade do aprendizado, para o qual o tempo de militância tornou-me provisionado sob amparo da lei trabalhista. Até hoje não sei se escolhi ou fui escolhido. Profissão na qual me senti permitido a continuar tratando o presidente Evaldo, da Assembléia, Juarez Farias, Dorgival e Braga, governadores, com o mesmo descabimento dos colegas de farda colegial.

Evaldo, entre todos da mesma geração, é que sempre me tratou como se estivéssemos em sessão aberta no grêmio ou na Academia. Sem formalismo, sem se privar daquele seu bom sorrir, mas como se a mais educada das senhoras estivesse presente.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de junho de 2025.