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O Batente de Rubens (II)

publicado: 03/11/2025 08h34, última modificação: 03/11/2025 08h34

por Gonzaga Rodrigues*

Como acentuei na crônica passada, o ingresso de Rubens Nóbrega na imprensa se deu quando dei as costas ao batente das redações, da afanosa responsabilidade com a notícia, dificilmente isenta por completo do julgamento velado do repórter ou redator, por mais que busque a exatidão. Fica explícito, na ressalva que faço, a experiência particular de quem fez tudo para seguir o manual, mas precisaria cortar as mãos para cobrir sem isenção o conflito agrário que se estendeu às portas da nossa capital desde a criação das Ligas Camponesas, abafado pelo golpe de 1964. Com João Manuel, Adalberto Barreto, Severino Ramos, Hélio Zenaide, vivemos situações absurdas para quem tem noção dos direitos alheios. E só depois daquela manhã abençoada de 1973, quando Marcone Gois, sem motivo relevante, me despachou desses cuidados, alguns tormentosos, é que vim saber do verdadeiro significado do chamado “bilhete azul”.

Nas suas memórias (custa acreditar que o jovem, o rapaz das nossas conversas, minhas e de Vicente Nóbrega, já se apresente como autor de memórias!), revivi ou passei a limpo muita coisa que acompanhei livre da responsabilidade de levá-la ao leitor, endereço supremo da notícia. E assim, desobrigado, na condição de leitor, recolhi-me à subjetividade, licença da crônica de visgo literário. Fugi do que me constrangesse, menos da tragédia que trucidou Paulo Brandão saindo do seu trabalho na fábrica e que abre o último capítulo do novo livro de Rubens. Como ex-colega de Wilson, vivendo três anos juntos na Casa do Estudante, ainda que de afinidades diferentes, constrangia-me, não o jornalismo de oposição aos “desvios, desmandos e desmantelos” do governo de Wilson, mas à criatura, à pessoa que tivera na maioria dos companheiros de convivência a grande família. Político vocacionado, creditou-se a aspirações a partir da presidência da Casa, quando apareceu a comida, antes sempre escassa ou inexistente. Rendi-me quando soube da represália terrorista sofrida pelos redatores do jornal, com destaque para Rubens. Eu, por minha vez, tinha levado a pecha de vendido por censurar, sem ofensa, o exagero de parentes no governo.

Surgindo e logo se afirmando na fase em que a computação e a impressão mudam de processamento, Rubens Nóbrega faz com que o leitor viva por dentro essa mudança, inclusive quem, como eu, se orgulhava de ter passado a pronto, desde cedo, no sistema tipográfico herdado de Gutemberg.

Rubens, Frutuoso, Agnaldo têm muito a ver com o nível técnico e a consciência profissional da geração de hoje, boa parte bem visível nas páginas de A União, a maioria no rádio, na televisão e no jornalismo de suporte volátil das chamadas “redes sociais”. Vivência que ele reparte com Carmélio Reynaldo, prefaciador e personagem, Duda Moura Teixeira de Carvalho, Fred Seixas, a competente e solícita Livramento, Pedro Moreira, o time que jogou com ele em sua estreia em O Norte. Não esconde como chegou a chorar com a sua demissão da editoria do Correio, em 1988, o jornal que ele e equipe levaram “a arrebatar do ‘associado’ a liderança de circulação na Paraíba”, O Norte, que, a partir de 1970, mercê da equipe que eu, com orgulho, havia aglutinado  com Aluísio Moura a alcançar por quase 20 anos essa situação de liderança, embora eu tenha permanecido por poucos anos.

Com o tempo, resta-nos, isto sim, o conforto edificante dessas memórias, ainda que chorando diante das ruínas que restam hoje do prédio da Pedro II.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 2 de novembro de 2025.