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Quando o Oscar superou a língua inglesa

publicado: 29/01/2025 09h32, última modificação: 29/01/2025 09h32

por Renato Félix*

Com Fernanda Torres forte na corrida pelo Oscar de Melhor Atriz, a Academia pode mais uma vez eleger uma atuação em língua não inglesa como a melhor do ano, coisa que fez pouquíssimo ao longo dos anos. A superação da barreira da língua sempre foi difícil para os membros da Academia e é um fato bastante conhecido que os espectadores dos EUA não gostam de ler legendas.

Assim, demorou mais de 30 anos para que o Oscar premiasse pela primeira vez um intérprete que não estivesse falando inglês num filme. Esse marco coube à italiana Sophia Loren, a bordo do drama Duas Mulheres (1960): aos 25 anos, ela interpretou a sofrida mãe de uma adolescente sofrendo os efeitos da Segunda Guerra. Sophia também ganhou o Bafta e o prêmio de Atriz em Cannes pelo filme.

Embora o norte-americano Robert De Niro pudesse ser incluído nessa conta por falar principalmente siciliano em O Poderoso Chefão – Parte II (1974), que deu a ele o prêmio de Ator Coadjuvante, a produção do filme era dos EUA. É o caso também do porto-riquenho Benicio del Toro, que ganhou o prêmio de coadjuvante falando em espanhol em Traffic (2001), mas também numa produção estadunidense.

Outro prêmio para uma atuação em língua não inglesa num filme idem veio só em 1999, com o comediante Roberto Benigni, por A Vida É Bela (1997).

Foi preciso quase 10 anos para acontecer de novo: em 2008, Marion Cotillard foi a primeira atriz a vencer o Oscar falando em francês. Sua interpretação com a diva da canção francesa em Piaf – Um Hino ao Amor (2007) foi arrebatadora e ela também ganhou o Bafta, o Globo de Ouro de Atriz em comédia ou musical.

Na cerimônia de 2021, a vitória foi da sul-coreana Youn Yuh-Jung, a matriarca da família asiática que vai viver seu sonho americano numa fazenda do Arkansas em Minari. Estrela em seu país natal e virtualmente desconhecida fora da Coreia, foi premiada por uma produção dos EUA, e foi a primeira a vencer numa língua não europeia.

A esses podem se juntar atores que defenderam seus papeis em mais de uma língua: a espanhola Penélope Cruz falando espanhol e inglês em Vicky Cristina Barcelona (Atriz Coadjuvante em 2009), o alemão Christoph Waltz em inglês, alemão e francês em Bastardos Inglórios (Ator Coadjuvante em 2010) e, por fim, a malaia Michelle Yeoh (em inglês, mandarim e cantonês) e o vietnamita Ke Huy Quan (em inglês e mandarim), ambos por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Atriz e Ator Coadjuvante na cerimônia de 2023).

E ainda há aqueles que atuaram totalmente ou principalmente em língua de sinais. É o caso de Jane Wyman (Melhor Atriz por Belinda, 1948), Patty Duke (Atriz Coadjuvante por O Milagre de Anne Sullivan, 1962), John Mills (Ator Coadjuvante por A Filha de Ryan, 1970), Marlee Matlin (Atriz por Os Filhos do Silêncio, 1986), Holly Hunter (Atriz por O Piano, 1993) e Troy Kotsur (Ator Coadjuvante por No Ritmo do Coração, 2021).

Neste ano, nossa Fernanda Torres pode entrar para esse grupo. Ok, ou a espanhola Karla Sofía Gascón...

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 29 de janeiro de 2025.