Quando a nova Vale Tudo entrou no ar, no fim de março, na maior parte do tempo, ela parecia um decalque da versão de 1988. Apareciam mudanças, atualizações, mas havia muitas cenas e diálogos que seguiam de perto a original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Mais de cinco meses já se passaram e, de lá para cá, Manuela Dias, a nova autora, foi colocando suas ideias.
Incluiu algumas tramas inéditas (a “não morte” do filho de Odete Roitman), colocou em cena modismos passageiros do momento (a infame saga do bebê reborn), mudou de rumo algumas trajetórias (fez Raquel perder tudo e voltar a vender sanduíches na praia para, dois capítulos depois, voltar a ter o restaurante), quase sempre levando pedrada nas redes sociais.
Acontece que Vale Tudo é o terceiro remake do horário das 21h da Globo em três anos (depois de Pantanal, 2022, e Renascer, 2024), considerando, inclusive, que a única vez que isso tinha acontecido nessa faixa havia sido em 1986, com uma segunda versão de Selva de Pedra.
Porém, é a primeira vez que percebo um fenômeno curioso. Nas redes sociais, o público tem, de certa forma, acompanhado as duas Vale Tudo simultaneamente.
Eu fui uma das pessoas que correram para o Globoplay para começar a assistir a produção de 1988 junto com a de 2025. Um trabalho diário que consome bastante tempo e que acabei deixando para lá após algumas semanas.
Para quem não tem esse pique, vários perfis em redes sociais se dedicam, a cada cena da nova Vale Tudo que faz uma releitura próxima ou distante de cena semelhante da original, a postar as duas cenas.
O pessoal da Paladar corre para evitar que a maionese envenenada na comida distribuída por eles seja servida nos restaurantes para os clientes? Pudemos ver as tias Celina de Malu Galli (em 2025) e de Natália Thimberg (em 1988) irromperem num dos restaurantes alertando para não comerem a maionese.
Afonso deu finalmente o flagra em Maria de Fátima na cama com César? Pois estavam lá, na mesma noite em que Humberto Carrão, Bella Campos e Cauã Reymond faziam a cena na TV, Cássio Gabus Mendes, Glória Pires e Carlos Alberto Riccelli no ex-Twitter, Threads e Instagram.
As franjinhas das Solanges de Alice Wegmann (da atual) e Lídia Brondi (da original) puderam ser comparadas enquanto diziam a Fátima que “a gente pode enganar todo mundo por quase todo o tempo, quase todo mundo por todo o tempo, mas não pode enganar todo mundo por todo o tempo”. Houve até quem sobrepôs uma cena à outra.
Eu não vi isso acontecer com Pantanal (cuja original, de 1990, era da Manchete) e Renascer (cuja primeira versão a Globo exibiu em 1993). Não era por falta de oportunidade. A Pantanal da Manchete me parece que está completa no YouTube e acredito que já estivesse na época. E a Renascer original já estava no Globoplay desde 2021, dois anos antes do remake.
Por que então não brotavam diariamente nas redes sociais comparações vídeo a vídeo dessas duas criações originais de Benedito Ruy Barbosa, mas passou a acontecer neste ano com a de Gilberto Braga?
É tema para algum estudioso do comportamento dos internautas se debruçar. Ou então isso aconteceu e só não chegou à minha bolha...
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 10 de setembro de 2025.