Notícias

Caatinga e resiliência climática

publicado: 03/10/2025 08h33, última modificação: 03/10/2025 08h33
WhatsApp Image 2025-10-01 at 12.26.53.jpeg

Resiliência climática: existem soluções eficientes na Caatinga | Foto: Acervo pessoal

Quem é sertaneja como eu conhece bem de perto a força da Caatinga. Sem romantismo ou mitificação, uma pessoa que nasce no bioma da Caatinga vai compreendendo, à medida que cresce, a tal da resiliência climática.

Resiliência climática, claro, é um termo mais elaborado para falamos sobre a capacidade de sistemas naturais, comunidades e sociedades têm para se adaptarem se se recuperarem de impactos das transformações climáticas.

Se mainha estivesse viva daria uma aula para vocês sobre resiliência climática porque ela e muitas gerações de catingueiros e catingueiras construíram saberes importantíssimos sobre como cuidar bem da Caatinga e lidar com eventos climáticos severos, extremos.  

Quero ressaltar aqui que as transformações climáticas não acontecem a partir de algo sobrenatural ou fatalista, mas é resultado da ação humana, das escolhas diárias que fazemos, e sobretudo de um modelo predatório de “desenvolvimento” que devasta territórios e populações inteiras, a exemplo mesmo do que acontece no território da Faixa de Gaza agora.

Atualmente há uma avalanche de informações e alertas sobre as mudanças do clima e necessidade de mudanças. Nesse sentido devemos fazer nossa parte para garantir também a integridade da informação sobre a mudança do clima, enfrentado a desinformação e negacionismo climático.

Mata branca é o significado do nome deste lugar que ocupa 11% de todo território nacional e que é um bioma exclusivamente brasileiro.  Embora a gente escute mais falar sobre Amazonia, Pantanal, a Caatinga é uma explosão de biodiversidade, é ampla. Perpassa o semiárido brasileiro.

Sou um ser da Caatinga, e sei que ela desempenha um papel fundamental no combate às mudanças climáticas. Conscientes deste papel, organizações do semiárido brasileiro, como o Centro Sabiá, com apoio do Instituto Socioambiental promovem até este sábado, 04, a Caatinga Climate Week.

De acordo com organizadores do evento, “a ideia surgiu durante a participação do Centro Sabiá na Climate Week NYC de 2024. A semana propõe aos participantes uma experiência imersiva, inspirada em semanas globais do clima. Colocando em evidência um contraponto importante, a perspectiva do paradigma da convivência com o semiárido. E, o protagonismo dos saberes e experiências dos povos tradicionais diante dos novos regimes climáticos.

O Semiárido, em vez de ser visto como um problema, pode compartilhar seu conhecimento secular frente aos novos desafios do clima. As tecnologias sociais da Caatinga são ainda de valiosa contribuição para enfrentar os impactos causados pelo avanço da desertificação, decorrente de fatores como crescimento do desmatamento do bioma. E alertar sobre o risco de falsas soluções, como a ocupação predatória de grandes empreendimentos de energia renovável no território.

A Caatinga tem um papel importante no tocante à adaptação climática por sua capacidade e eficiência em capturar grandes quantidades de carbono na estação chuvosa.

As experiências concretas de adaptação climática promovidas por centenas de famílias no semiárido brasileiro demonstram que existem soluções eficientes na Caatinga, a exemplo de projetos de captação de água de chuva, preservação de sementes crioulas, produção de alimentos e segurança alimentar, reflorestamento, preservação de espécies nativas, economia justa e preservação ambiental.

Projetos concretos, muitas vezes de baixo custo, se comparado à lógica industrial, e que claramente mostram como o Semiárido apresenta inovações que são estratégicas para a agenda climática global.   

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 03 de Outubro de 2025.