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Música para o mundo girar

publicado: 25/07/2025 08h21, última modificação: 25/07/2025 08h21

por Sandra Raquew Azevêdo*

Dia desses o jornalista Silvio Osias me contactou por mensagem, pedindo para que eu listasse cinco músicas que definissem meu gosto musical. Para mim, é uma pergunta muito difícil de responder, porque música é igual ao ar que respiro.

Basicamente, é mais fácil identificar o que eu não gosto de escutar. Até em outras crônicas, já falei sobre o que não gosto em termos sonoros. Produções cujas letras e ritmos ritualizam a violência e depreciam pessoas. Com letras que ferem a dignidade da pessoa humana.

Há muito preconceito, estigmatização, racismo, sexismo e diferentes agressões que passam pelo universo simbólico e por letras de músicas. Algo que causa desconforto em muita gente.

Acho, inclusive, uma cena triste e deprimente quando vejo crianças dançando músicas que não se relacionam com o universo infantil, e, em alguns casos, com letras muito pesadas, de duplo sentido. As crianças, claro, inocentes, não entendem a gravidade do conteúdo das letras. Já os adultos, geralmente estão sorrindo, achando graça no descompasso da cena.

A música brasileira tem muita poesia, mas a indústria cultural centrada na massificação e monetização, há muitas décadas, promove muita baixaria. E a gente escuta muito dizer por aí: “questão de gosto não se discute”. Talvez não seja uma questão de gosto e sim de cidadania cultural e educação, na medida em que a gente constrói uma consciência, um entendimento do que nos degrada, do que rebaixa, do que é violento com as pessoas e com nós mesmos.

Um longo processo de aprendizado na vida. Música é, assim, uma dimensão do Sagrado no dia a dia.

Quando estou imersa numa tristeza maior, não consigo escutar música, de nenhum tipo. É como quem sente falta de apetite. Fora isto, as canções vão compondo a trilha sonora da vida.

Acho bom demais compartilhar músicas com quem gosto, e até com quem não conheço também. Lembro de certa vez, numa viagem, ter carregado comigo CDs de Adriana Calcanhoto, Legião Urbana e Renato Braz, de poder compartilhar das canções com outras pessoas. Naquele período, copiando as canções em fitas ou minidiscos, e sendo presenteada com canções também. Foi assim que conheci o Buena Vista Social Club, quando não havia ainda estourado mundialmente pelas lentes do cinema, e o grupo chileno Intti Illimani.

Antes dos serviços de streaming e com tempo livre, sempre achei uma diversão maravilhosa ficar numa loja de discos descobrindo novas sonoridades, bandas, conhecendo o trabalho artístico de muita gente. Assim conheci a arte de grandes artistas como Elifas Andreato, com capas de álbuns memoráveis da música brasileira.

Mas muitas outras capas de discos me chamaram a atenção, e por elas conheci artistas excelentes como Joan Armatrading, com aquele disco incrível Whatever’s for Us. Confesso que fiquei com vontade de transformar aquela capa de disco em vestido ou num lençol para me cobrir por inteiro, de tão linda capa. Foi assim que abri as portas da imaginação e a escuta das canções desta mulher incrível.

Escolher cinco canções para falar da minha relação com a música é muito difícil, desafiador, e uma tarefa impossível mesmo. Porque uma canção me leva a outras... Se fosse montar uma linha do tempo com minhas canções seria assim como desenhar várias galáxias. Meu orgulho de ser brasileira passa, evidentemente, pela qualidade de nossas músicas e artistas.

Para se ter uma ideia, num diálogo recente com Eripetson Lucena, meu amigo desde os 14 anos de idade, a gente falou de quase 10 músicas. Começamos com Madredeus e fomos parar no gospel.

Aliás, nunca poderia deixar de dizer que, ao longo dos anos de amizade, foram diversas trilhas sonoras de filmes compartilhadas, músicas de bandas de pop, rock, MPB... Traduções de músicas feitas com caneta esferográfica e estêncil. Montagem de playlist em fita k-7, CD, mp3, pendrive... E, mais recentemente, pelos aplicativos.

Assim vou atravessando muitos gêneros musicais, diferentes gerações de artistas do Brasil, da América do Sul, da cidade em que vivo, que é cercada de artistas fenomenais que demonstram a vocação e o talento da Paraíba para a cena musical.

Nesta minha vida é música para tudo, inclusive para dor de cotovelo.

*Coluna publicada originalmente na edição impressa do dia 25 de julho de 2025.