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comida mais barata

Ações sociais fortalecem segurança alimentar na PB

publicado: 16/06/2025 09h36, última modificação: 16/06/2025 09h36
Projetos governamentais, MST e empresas privadas criam alternativas
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Programas sociais, CSAs e agricultores familiares oferecem alimentos por preços mais em conta | Foto: Carol Marini/Rede CSA

por Samantha Pimentel*

Produtos brasileiros, como soja, café, carnes e açúcar, costumam liderar as exportações mundiais. Mesmo assim, dentro do país, uma parcela da população ainda convive diariamente com a fome e a insegurança alimentar. Segundo dados mais recentes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU), a insegurança alimentar severa atingiu, em 2023, 2,5 milhões de brasileiros.

Já a prevalência da subnutrição, indicador que determina a inserção de um país no Mapa da Fome ou não, atingiu 3,9% no triênio 2021–2023, o que representa cerca de 8,4 milhões de pessoas, e mantém o Brasil no Mapa. Na Paraíba, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, cerca de 1,53 milhão de pessoas estavam em insegurança alimentar, o que representa 37,4% da população. Ações e políticas públicas vêm buscando reduzir esses índices, além de iniciativas da sociedade civil que contribuem para fortalecer a segurança alimentar.

A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (Sedh-PB) o combate a insegurança alimentar com políticas públicas, como os Restaurantes Populares e o Programa de Aquisição de Alimentos com Distribuição Simultânea (PAA-CDS), ação do Governo Federal executada pela secretaria. Atualmente, o estado conta com 10 Restaurantes Populares em funcionamento, localizados nas cidades de João Pessoa, Santa Rita, Campina Grande, Guarabira, Monteiro, Patos, Pombal, São Bento, Sousa e Cajazeiras. Esses equipamentos oferecem, ao todo, 10.375 refeições diárias, ao valor de R$ 1 cada uma, garantindo acesso à alimentação de qualidade a pessoas em situação de vulnerabilidade social. O investimento anual do Governo da Paraíba para manter esses espaços em funcionamento é de R$ 22.824.510.

Quanto ao PAA-CDS, em 2024, ele contou com um investimento de aproximadamente R$ 10.531.929,62, somando recursos do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e do Governo da Paraíba. O programa beneficiou diretamente 30 cooperativas e 1.574 agricultores familiares, dos quais 32 são indígenas, 1.100 mulheres (71,8%) e 474 homens (28,2%).

Ao todo, foram distribuídos 1.598.042,18 kg de alimentos a cerca de 162 mil pessoas em situação de insegurança alimentar, atendidas por 86 entidades socioassistenciais, em 60 municípios paraibanos. Uma dessas instituições, a Associação de Juventudes, Cultura e Cidadania (Ajurcc), mantém a Cozinha Comunitária Mauro Malesardi, localizada em São José da Mata, distrito de Campina Grande, e fornece à população local 200 refeições diariamente, de segunda a sexta-feira, ao preço de R$ 2. Um dos moradores beneficiados, Alan, destaca a importância da Cozinha. “Pego sempre a comida aqui, ela atende toda população de renda baixa, e a comida é de excelente qualidade”, afirma.

Movimentos sociais

Outras iniciativas da sociedade civil, como as que são desenvolvidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), também potencializam tanto a produção como o acesso a alimentos saudáveis e de qualidade. O integrante do MST, Gilmar Felipe Vicente, disse que o movimento começou a trabalhar com a ideia das cozinhas populares solidárias, que conta com a participação direta tanto do povo das periferias que organizam e fazem comida quanto do povo sem terra, que produz a comida de forma popular e manda para as cozinhas.

“Hoje, no estado, são quatro espaços como esse em funcionamento além das feiras de comercialização em municípios onde há assentamentos, que permitem aos agricultores familiares comercializar produtos diretamente para a população, que, por sua vez, também têm acesso a alimentos com menor preço, sem atravessadores, e com garantia de boa procedência e qualidade”, explicou Gilmar.

Porém, ele ressalta que, mesmo com iniciativas populares como essas realizadas pelo MST, para combater a fome e garantir a segurança alimentar efetiva para a população, é necessário que haja uma política mais estrutural que garanta a produção de alimentos. O agronegócio produz muito visando à exportação, e a produção local fica a cargo da agricultura familiar e dos assentamentos, por isso também, segundo ele, a reforma agrária é um fator essencial para que se tenha a devida segurança alimentar no país.

Já por meio da rede Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) Parahyba, é potencializada a comercialização de alimentos produzidos por moradores do Quilombo do Bonfim, em Areia.  O projeto começou com um agricultor e uma casa que recebia os alimentos; hoje, são quatro famílias produtoras e cerca de 100 atendidas em João Pessoa, além de outras em Cajazeiras.

Segundo a integrante da rede, Patrícia Ferreira, “a estimativa de renda mensal é de cerca de R$ 2 mil a R$ 2.500 por família. Os agricultores ganham por terem uma renda certa, já que nós pagamos mensalmente, antecipado, o que vamos receber durante todo o mês, e, como são eles que montam a cesta de cada semana, conseguem ter uma boa saída de produtos, não só aqueles que todo mundo sempre quer. E, para a gente que compra, ganhamos um alimento orgânico, sabemos de onde ele vem”, destaca. Ela ainda ressalta que a variedade de alimentos já fez com que conhecesse sabores novos.

Iniciativa privada

Empresa oferece itens para montar refeições por R$ 10 | Foto: Divulgação/Assaí Atacadista

Também visando contribuir com a segurança alimentar, uma iniciativa do Assaí Atacadista oferece aos consumidores alimentos para montar uma refeição completa, ao preço de R$ 10. É o programa Prato Cheio, uma ação em que é possível adquirir, de quinta-feira a domingo, um combo com alimentos essenciais, como: feijão, arroz ou macarrão, flocão, jerimum ou alface e pertences de frango (como miúdos ou ingredientes para canja). A composição dos itens pode variar semanalmente, conforme a disponibilidade, mas sempre mantendo o valor nutricional e o equilíbrio da refeição.

O diretor regional do Assaí, João Miguel Gouveia, destaca que a empresa tem como propósito contribuir para que a prosperidade seja uma realidade para todos.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 15 de junho de 2025.