Acumular diversas funções que envolvem atividades operacionais, de gestão financeira, atendimento a clientes e divulgação é a realidade de muitos micro e pequenos empreendedores. Também há a dificuldade de contar com recursos para investir na expansão dos negócios e, em muitos casos, a falta de experiência para bem gerir esses valores. Nesse cenário, um estudo realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com o Banco do Nordeste (BNB), apontou que as micro e pequenas empresas (MPEs) que têm acesso a crédito e contam com orientação financeira e de gestão reduzem pela metade o risco de fechamento. O levantamento analisou um grupo de empresas nascidas entre os anos de 2019 e 2024.
O estudo indica também que a intensidade e a duração do apoio são fundamentais no resultado das MPEs. Quanto mais tempo elas recebem crédito e consultoria, menor o risco de encerramento. As MPEs que possuem crédito e consultoria apresentaram a maior taxa de sobrevivência no período analisado. Entre as empresas que contaram com consultoria do Sebrae e crédito do BNB, a taxa de sobrevivência em seis anos, desde a abertura da empresa, foi de 89,5% (seis pontos percentuais acima das MPEs que não contaram com esse apoio). A falta de dinheiro e de conhecimento sobre a atividade são os principais motivos apontados pelos Microempreendedores Individuais (MEI) para o fim do negócio, segundo a pesquisa Perfil do MEI (2024). Já entre as MPEs, o encerramento ocorre, sobretudo, pela falta de retorno financeiro, aponta o estudo do Perfil MPE (2024).
Segundo o coordenador do Núcleo de Gestão do Fundo de Aval da Micro e Pequena Empresa (Fampe) do Sebrae, André Dantas, em resumo, o serviço trabalha em três esferas: pesquisa, para entender os cenários e melhor intervir neles; consultoria e capacitação, para fortalecer as empresas e orientar os empresários; e acesso a mercados, ajudando os negócios a vender. “Essa pesquisa nos trouxe elementos suficientes para entender que a consultoria e a capacitação que nós estamos fazendo com o empresário está dando resultados concretos”, destaca.
Ele explica que, nesses casos, a consultoria e capacitação são chamados de crédito orientado e assistido. O empresário que busca o Sebrae recebe capacitações, e o primeiro foco é avaliar se ele de fato precisa do crédito ou se as suas questões podem ser resolvidas com mudanças em práticas de gestão ou precificação. “Para aqueles que a gente entende que realmente é essa a necessidade, fazemos um programa de apoio, preparando esse empresário para buscar a melhor linha de crédito para ele”, explica.
André ainda diz que, após o recebimento dos recursos, os empresários também contam com serviços de consultoria e capacitação, um acompanhamento pós-crédito. Todo esse processo pode ser um diferencial na hora de buscar o acesso aos recursos: “A decisão de conceder ou não é da instituição financeira, mas quem recebeu essas orientações e assistência estará mais preparado, e certamente as instituições financeiras passarão a olhar com outros olhos esse empreendedor”, afirma o coordenador.
O superintendente do BNB na Paraíba, Rudrigo Araújo, explica que o financiamento é o principal motor de crescimento e sobrevivência para as empresas, sobretudo quanto às MPEs. “A gente tem empreendedores que têm excelentes ideias, e muitas vezes falta o impulso inicial, que é o financeiro; nesse sentido o BNB desempenha um papel fundamental. E, quando se alia isso a uma capacitação empreendedora, o índice de sucesso é muito maior”, comenta.
No próprio banco, as linhas de microcrédito, voltadas aos empreendedores mais vulneráveis, também oferecem uma capacitação feita pelo próprio agente do Crediamigo — programa de microcrédito produtivo e orientado do Brasil —, como explica ainda o superintendente. “Ele acompanha desde o início e vai dando essa consultoria ao longo da jornada do empreendedor; a capacitação vai junto com o crédito”, ressalta.
Planejamento é essencial para evitar inadimplência
A demanda por crédito entre as empresas do Nordeste teve um salto de 16,4% em maio de 2025 em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo os últimos dados disponíveis do Indicador de Demanda das Empresas por Crédito da Serasa Experian. Ao mesmo tempo, os empresários paraibanos também estão cada vez mais endividados: mais de 83 mil empresas no estado estão inadimplentes, segundo o órgão. O número representa 28,7% do total de empreendimentos na Paraíba. Para o head de Soluções Financeiras e Atendimento a Pessoa Jurídica da SIR Investimentos, Luiz Fernandes, isso se deve, principalmente, à falta de planejamento no momento de solicitar o crédito.
“Um dos principais erros que vemos são as empresas que não fazem uma gestão adequada do seu fluxo de caixa. Isso ajuda o empresário a saber quando de fato precisar buscar o crédito e qual o prazo apropriado para esse pagamento. Também muitos não pesquisam bem as melhores condições para o seu perfil e aceitam a primeira que lhe é oferecida pelo seu banco, e podem haver opções melhores no mercado”, afirma. Ele ainda comenta que, com as atuais taxas de inflação, que partem de 15% ao ano em qualquer operação de crédito, essa alternativa está cara para os empresários de uma forma geral. “Existe também um erro estratégico e de gestão, que às vezes a empresa não precisa de crédito, ela precisa de uma organização melhor”, ressalta.
Após o recebimento do crédito, também é preciso que a empresa planeje-se para que esse recurso possa, no prazo em que deve ser pago, gerar receita para cobrir o pagamento dessa obrigação. “A gente observa que créditos de curto prazo são mais difícieis de pagar, porque, num curto intervalo de tempo, às vezes a empresa não teve reação ainda a essa injeção de capital, para gerar retorno”, afirma. Ter clareza na utilização do recurso, e quais retornos se espera ter com ele, é essencial, como destaca ainda Luiz Fernandes, que fala também que o planejamento estratégico é determinante para se fazer investimentos mais certeiros.
Investimento em capacitação para crescer
A empresária Mônica Guimarães conta que desde criança tinha vocação para as vendas, mas profissionalmente trabalha nesse ramo há cerca de 20 anos. Com muitos erros e acertos ao longo do caminho, ela empreendeu em vários setores e, hoje, possui uma marca própria de cosméticos, a Bramoni. “Quando eu era MEI, na época em que tinha uma loja de fardamentos, recebi o Crediamigo, do BNB, e também de forma individual. Hoje, como Microempresa [ME] estamos buscando um novo crédito para a marca de cosméticos, que começamos há cerca de seis anos”, destaca.
- Mônica Guimarães buscou cursos nas áreas de inteligência emocional e markerting | Foto: Evandro Pereira
Ela diz que, com toda a experiência, aprendeu muito sobre a parte administrativa e fez diversos cursos para fortalecer sua atuação. “A gente vem implantando o que já aprendeu. Todos os erros que tive nos outros negócios, neste eu já não tenho mais. Também busquei cursos na área de inteligência emocional e marketing multimídia”, ressalta. Junto com o marido, ela também atua no ramo de hotelaria e mantém uma pousada em Manaíra, João Pessoa.
Ela conta que já faliu em outros negócios que tentou empreender, mas hoje acredita que está mais madura e com uma bagagem mais sólida para administrá-los. “Eu vi na minha trajetória de vendas que muitos salões de beleza abriam e fechavam com pouco tempo, e avaliamos que era necessário ajudar pessoas nesse ramo. Aqui, além da venda dos cosméticos, também oferecemos cursos na área de beleza e estética, temos um salão-escola, uma área para realização de palestras e treinamentos e um estúdio onde fazemos nosso podcast”, conta ela
Mônica diz que é preciso reinventar-se o tempo todo. Com a Bramoni, sua visão de negócio oportuniza a venda coletiva e o acesso ao empreendedorismo para revendedores e cabeleireiros. A Economia Circular e Solidária também faz parte das práticas da empresária, que promove o consumo consciente e sustentável.
“Hoje, estamos em plataformas do Brasil vendendo on-line, oferecendo os produtos para representantes e capacitando profissionalmente para atendimento em beleza e gerenciamento dos negócios”, ressalta ela, que diz que, com o novo crédito que está buscando junto ao BNB, vai investir na melhoria da estrutura física do seu espaço, potencializando sobretudo a vitrine e a fachada do empreendimento.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de setembro de 2025.