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Minha casa, minha vida

Imóveis novos lideram escolha dos paraibanos

publicado: 25/08/2025 08h56, última modificação: 25/08/2025 08h56
PB segue tendência oposta à do país, onde contratos de usados bateram recorde
2025.07.29 Mercado de imóveis usados © Leonardo Ariel (4).JPG

Tamanho do apartamento influencia na decisão | Foto: Leonardo Ariel

por Priscila Perez*

A disparada no mercado imobiliário de usados levou o país a bater um recorde importante no ano passado: foram 155 mil contratos fechados pelo programa “Minha Casa, Minha Vida” envolvendo imóveis “reutilizados”, dentro de um universo de 583 mil unidades financiadas. Entretanto, mesmo com as vendas aquecidas no cenário nacional, cada estado responde a essa onda de forma bastante distinta. Na Paraíba, a movimentação de usados é mais discreta, mas não menos significativa. O estado saiu de apenas três financiamentos em 2022 para uma média de nove por ano.

Embora modesto, esse salto ajuda a traçar a curva e o perfil desse segmento no estado. Segundo dados do Ministério das Cidades, em 2024, a maior parte dos financiamentos [de usados] realizados no território paraibano, por meio do programa se concentrou na Faixa 1, tem o valor médio de R$ 129,5 mil e compradores jovens, na faixa dos 32 anos — provavelmente em busca do primeiro imóvel. Foram 53 unidades novas contra apenas seis usadas. Em 2025, a tendência permanece: até agora, dos quatro contratos firmados para imóveis usados, três dizem respeito à Faixa 1. Por outro lado, já são 22 financiamentos voltados aos “novinhos em folha”.

Mas, afinal, o que explica essa preferência pelos lançamentos? Na Paraíba, pesa o fato de que ainda tem muito espaço para crescer, com terrenos disponíveis em suas principais cidades, prontos para receber espigões residenciais. Com isso, o foco acaba se voltando, para os novos empreendimentos, o que ajuda a entender o crescimento mais contido dos usados dentro do programa habitacional do Governo Federal.

Mesmo considerando todos os financiamentos efetuados pela Caixa no estado, a participação deles ainda é pequena. Em nota, a instituição informou que, só no primeiro trimestre de 2025, foram realizados 3,8 mil contratos com pessoas físicas, dos quais 87,4% referem-se à aquisição de imóveis novos e apenas 12,6% a usados.

Localização

Ainda que os lançamentos dominem as estatísticas, no setor imobiliário, a matemática por trás da aquisição de um bem durável não é tão exata como se imagina. Além dos fatores objetivos como juros, condições de crédito e preço, também entram na equação as preferências do consumidor. Hoje, em vez de apartamentos novos e minúsculos, tem gente optando por espaços mais amplos e bem localizados, mesmo que isso signifique comprar um imóvel antigo.

Foram esses os fatores que levaram Tereza Serrano de Andrade a comprar um imóvel usado no bairro de Manaíra, em João Pessoa, com 140 m2. Ela e o marido pesquisaram bastante para entender qual imóvel fazia mais sentido para o casal e, no fim, pesou a soma entre orçamento e qualidade. “Mesmo com o custo da reforma, o usado ainda saiu mais em conta do que um novo com as mesmas características. Foi a melhor forma de conciliar o espaço que buscávamos com o valor que estávamos dispostos a pagar”, reflete.

O valor foi um fator decisivo, mas não o único: a localização também falou mais alto. “Queríamos estar próximos da família e dos amigos. Encontramos muitas boas opções de imóveis usados em bairros que já conhecíamos e gostávamos”, conclui.

Para o economista Cássio Besarria, esse tipo de escolha tem se tornado comum em bairros com estrutura já consolidada. “Dependendo da idade do imóvel, a região apresenta maior acessibilidade a serviços, como supermercados, farmácias, transporte público, praças — e isso pesa muito na hora da decisão”, analisa. Além disso, muitas famílias estão em busca de uma metragem maior que só os imóveis antigos oferecem, indo na contramão do que o mercado tem disponibilizado: apartamentos cada vez menores e mais valorizados.

Isso, segundo o especialista, é reflexo direto do crescimento populacional de João Pessoa, a capital que mais atraiu novos moradores no país. Não à toa, ele destaca que a Paraíba figura entre os estados com mercado imobiliário mais aquecido do Brasil, com índices de valorização acima da média nacional.

Aumento populacional impulsiona demanda

O engenheiro civil Anderson Alexandre da Silva, que atua em uma construtora local, tem acompanhado de perto esse movimento. Ao fazer parte de um dos setores que mais contribui para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, ele enxerga com clareza o aquecimento do mercado, mesmo com a taxa básica de juros elevada, algo que, em tese, poderia esfriar os investimentos.

Ele analisa que o avanço se deve à entrada de capital externo e, sobretudo, à chegada de mais de 300 mil pessoas a Paraíba nos últimos cinco anos. Dessa forma, o crescimento populacional impulsiona tanto os lançamentos quanto a valorização dos imóveis já existentes no estado. “O que vemos mais aqui é o crescimento no número de flats, principalmente na área da praia e na Zona Sul”, observa.

Para o engenheiro civil, a tendência, é justamente essa: imóveis cada vez mais compactos com, no máximo, dois quartos e metragens bem reduzidas. “Antigamente, tínhamos imóveis maiores, mas o mercado está preferindo apartamentos menores”, reforça Anderson.

Valorização

O metro quadrado também disparou na capital paraibana, principalmente em bairros como Cabo Branco, Altiplano e Bessa. Com a valorização dos imóveis na cidade, o consumidor passou a buscar alternativas mais atrativas, sobretudo do ponto de vista financeiro. “Há cinco anos, um imóvel na Zona Sul, com dois quartos, custava R$ 160 mil, e hoje já está em R$ 230 mil. Então, o consumidor parte para o usado”, conta Anderson. A diferença entre eles pode ultrapassar os R$ 60 mil, o que torna essa escolha muito mais assertiva.

Também entram nessa conta as taxas de juros e a pressão exercida pela inflação, citadas pelo economista Cássio Besarria como fatores que limitam o poder de compra. E, quanto maior a taxa, maior o custo do crédito.  A dica do especialista para fazer um bom negócio é comparar os juros aplicados em imóveis novos e usados em diferentes instituições para encontrar, assim, a melhor condição de financiamento.

No caso de Tereza, que não utilizou o programa “Minha Casa, Minha Vida” para financiar seu apartamento, a decisão de não esperar por um lançamento ou imóvel em construção foi tomada com base em um cálculo bastante objetivo. “A espera não seria um grande problema, especialmente neste início de vida a dois. O que mais nos preocupava era o ritmo acelerado da valorização dos imóveis na cidade. Tínhamos receio de, se esperássemos demais, perder a chance de adquirir algo compatível com nosso orçamento.” Na prática, a opção pelo usado foi a melhor forma de planejar o futuro e conciliá-lo com a realidade financeira do casal.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de agosto de 2025.