A caprinocultura no Cariri paraibano deixou de ser uma alternativa e tornou-se um motor de desenvolvimento sustentável. Somente em 2024, o segmento lácteo movimentou R$ 16,2 milhões por meio do Programa do Leite, do Governo do Estado, um salto significativo em relação aos R$ 7,6 milhões contabilizados em 2017.
O crescimento da caprinocultura tem raízes sólidas. Desde o ano 2000, o Pacto Novo Cariri, programa liderado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Paraíba (Sebrae-PB), articula ações de capacitação, apoio técnico e estruturação de mercado. O Pacto surgiu com o desafio de romper com o ciclo histórico de abandono e ações pontuais, que pouco alteravam a realidade local.
“A análise do território revelou que o Cariri paraibano apresentava baixo desenvolvimento social e econômico. Constatou-se que os problemas da região resultavam de uma abordagem histórica inadequada, baseada em ações pontuais do Poder Público e projetos isolados, com pouco impacto real, que contribuíram para o empobrecimento e a falta de perspectivas da população. Era preciso mais do que projetos: era necessário um pacto entre instituições públicas, privadas e a sociedade”, afirma o superintendente do Sebrae-PB e um dos idealizadores da iniciativa, Luiz Alberto Amorim.
Atualmente, a Paraíba figura como líder nacional na produção de leite de cabra, com média anual de 5,6 milhões de litros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE). O Cariri conta com sete usinas de beneficiamento de leite caprino, sendo seis criadas por associações e cooperativas em cidades como Zabelê, Monteiro, Prata e Amparo, além de uma usina privada em Sumé.
Espalhada pelos 223 municípios e presente em mais de 78 mil propriedades rurais, a criação de cabras tornou-se um símbolo de resiliência no Semiárido. Com menor impacto ambiental que a bovinocultura e adaptada ao clima seco, a atividade gera renda, fortalece a agricultura familiar e impulsiona a economia circular no interior do estado.
De acordo com o IBGE, em 2005, havia pouco mais de 657 mil caprinos e 411 mil ovinos, enquanto em 2024 os dois rebanhos atingiram patamares similares, em torno de 849 mil e 842 mil cabeças, respectivamente. O número coloca a Paraíba na 5ª colocação nacional em relação ao rebanho caprino. Monteiro ocupa posição de liderança (40,1 mil cabeças), seguido de Sumé (31,6 mil), São João do Tigre (30,4 mil) e Serra Branca (30,1 mil).
Um dos grandes exemplos dessa transformação é a cooperativa Capribov, em Cabaceiras. Ela é a primeira marca paraibana a distribuir iogurtes de leite caprino em escolas públicas, integrando nutrição, educação e geração de renda.
A cooperativa processa cerca de 5.300 litros de leite por dia, dos quais 4.800 vão direto para o Programa Leite da Paraíba. São 700 pessoas envolvidas diretamente na produção, com renda média mensal de R$ 2,9 mil por cooperado.
O crescimento da produção leiteira reforçou ainda outros produtos derivados como o queijo do leite de cabra, que é considerado atualmente um dos itens mais valiosos do mercado e é distribuído para diferentes regiões do país.
Com o fortalecimento da cadeia produtiva, as prateleiras dos pequenos negócios da região passaram a ter um maior espaço aos produtos de origem do Cariri, assim como o próprio ambiente das compras públicas. O leite e o queijo, por exemplo, são produtos que podem ser acessados a partir de processos licitatórios para consumo na merenda escolar e até mesmo em programas sociais.
Dados da Secretaria de Estado da Educação apontam que, na 5ª Gerência Regional de Educação, que compreende os municípios do Cariri paraibano, atualmente 21 escolas da rede estadual de ensino oferecem iogurte caprino na merenda escolar, 22 ofertam o queijo caprino e 14 unidades de Ensino Integral têm a carne caprina inserida na alimentação dos alunos.
Alimentos que no decorrer dos anos têm sua oferta ampliada nas escolas, levando em consideração que no ano 2000 não faziam parte da chamada pública. O número de escolas ofertando o queijo caprino, por exemplo, saiu de cinco, em 2024, para 22 em 2025.
Melhoramento genético garante premiações
Em Prata, cidade conhecida como “Capital da Cabra Leiteira”, o produtor Erivaldo Ferreira Vieira, conhecido por Fita, virou referência nacional. Ele iniciou a atividade ao trocar uma moto por seis cabras. Hoje, seu rebanho de 30 animais da raça Saanen, algumas valendo até R$ 150 mil, rende R$ 3.600/mês com apenas oito em lactação.
- Criação de cabras está presente nos 223 municípios e mais de 78 mil propriedades no estado | Foto: Divulgação/Sebrae-PB
O Capril Fita conquistou 10 premiações, neste ano, somente na 11ª Expoprata, entre elas o título de grande campeã do futuro com a cabrita Josielly, e de grande campeão do futuro, com Hércules.
Além do crescimento da produção, novas tecnologias passaram a serem aplicadas na área rural. Um dos pilares essenciais dessa mudança de realidade deve-se ao investimento na capacitação dos criadores, associado ao trabalho de melhoramento genético do rebanho. “Esse trabalho do Pacto possibilitou o melhoramento genético do nosso rebanho, com circuitos técnicos e muita troca de conhecimento. Neste ano, por exemplo, fiz até transferência de embrião com apoio do Sebrae. A caprinocultura tem gerado renda e qualidade de vida para nós, pequenos produtores”, afirma Fita.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de setembro de 2025.