Hoje, no segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que será prestado por 142 mil paraibanos, a escolha profissional dos estudantes volta ao centro do debate. Afinal, o que está influenciando os jovens na hora da escolha da carreira? Afinidades pessoais ainda contam, mas o peso da conjuntura econômica tem ganhado espaço na decisão, como um reflexo direto das áreas que concentram os maiores salários e investimentos em inovação.
Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), as 10 profissões mais bem remuneradas do país estão concentradas em setores tecnológicos, energéticos e financeiros, com destaque para Engenharia da Computação, Ciência de Dados e Medicina. A pesquisa mostra que, mesmo diante de um mercado de trabalho volátil, essas áreas seguem puxando os índices salariais do país e orientando as decisões de novos candidatos ao Ensino Superior.
O cenário nacional também tem reflexos claros na Paraíba. De 2020 a 2024, a nota de corte do Enem para Engenharia da Computação na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) cresceu 12,72%, passando de 691,06 para 778,95 pontos; um salto que ilustra o interesse crescente por formações ligadas à tecnologia.
Arthur Henrique de Carvalho Damasceno, de 23 anos, é um dos rostos por trás dessa tendência. Graduando em Engenharia da Computação pela UFPB, ele está no nono período e integra o Laboratório de Medidas e Instrumentações da universidade, onde pesquisa eletrônica e desenvolvimento de circuitos. A afinidade com cálculos e o fascínio por tecnologia guiaram sua escolha ainda no Ensino Médio. “Eu sempre tive muita curiosidade pela área tecnológica. Participei de alguns eventos de robótica e programação e fiquei encantado”, conta.
A decisão também foi acompanhada por uma avaliação pragmática do mercado. “Antes mesmo de entrar na UFPB, eu via colegas meus que estagiavam em empresas multinacionais ou daqui do Brasil recebendo salários de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Eu também via notícias de pessoas que aprendiam programação até um certo ponto e, muitas vezes, largavam a faculdade por já receber um salário para se ter uma vida muito confortável, compatível com salários de médicos”, acrescenta Arthur.
Hoje, mais próximo de se graduar, Arthur projeta expectativas otimistas: “O salário-base que eu planejo receber assim que finalizar a graduação é algo em torno de R$ 7 mil a R$ 12 mil. Mas, com pós-graduação, mestrado e doutorado, me visualizo recebendo entre R$ 15 mil e R$ 25 mil dentro dessa área”, afirma. Essa projeção é calculada com base na identificação com a área que ele pretende se especializar.
Atraído pela eletrônica e pelo desenvolvimento de circuitos — segmentos que aproximam Engenharia da Computação e Engenharia Elétrica —, ele revela que investe o tempo livre em estudos e projetos “Eu tento entrar em contato com professores e empresas, porque é a área em que eu desejo me aperfeiçoar”, conta.
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Formação sob demanda é uma aposta no futuro
O aumento na procura por cursos tecnológicos tem levado instituições de Ensino Superior a rever suas ofertas. Na Faculdade Internacional da Paraíba (FPB), a adequação é parte de uma estratégia para atender um público cada vez mais exigente. “O perfil dos estudantes mudou”, explica o gestor da FPB, Guilherme Fontana. “Os alunos que escolhem carreiras de alta remuneração costumam ter um olhar mais estratégico. Eles pesquisam salários, tendências e empregabilidade antes de ingressar no curso e cobram qualidade, infraestrutura e conexão com empresas”.
Essa necessidade do mercado e dos estudantes de olho nas oportunidades de remuneração cria uma pressão dupla sobre as instituições de ensino. Segundo Fontana, a FPB tem ampliado investimentos em cursos ligados à Tecnologia da Informação, com novas matrizes curriculares e parcerias que permitem aos estudantes resolver desafios reais do mercado. “Temos modernizado laboratórios e equipamentos para garantir uma experiência prática de alto nível”, relata.
Do outro lado da relação entre formação e empregabilidade, o setor privado confirma o cenário de oportunidades, mas também alerta sobre os desafios nem sempre conhecidos pelos estudantes. A Ativaweb Group, empresa paraibana com mais de 22 anos de atuação nacional, vive a disputa por talentos no setor de tecnologia. “Hoje as empresas de software não buscam só quem sabe programar. Buscam quem entende o impacto do que faz”, resume o CEO Alek Maracajá.
Alek Maracajá confirma que os salários iniciais seguem em patamar alto, mas ressalta que o diferencial vem do domínio técnico e da visão estratégica. “O crescimento é rápido para quem entrega resultado. É uma carreira de aprendizado contínuo”, observa. “O maior desafio ainda é reter talentos. O Brasil forma bons profissionais, mas muitos vão trabalhar fora”. Para atrair e manter jovens talentos, a empresa aposta em um ambiente colaborativo e em oportunidades de aprendizado desde o início.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 16 de novembro de 2025.