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celebração do amor

Casamento coletivo une 31 casais LGBTQIA+ na capital

publicado: 24/09/2025 08h12, última modificação: 24/09/2025 08h12
2025.09.23 Casamento Coletivo LGBT © Joao Pedrosa (1).JPG

Evento aconteceu ontem, à noite, no Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções de JP | Foto: João Pedrosa

por Marcelo Lima*

A comunhão plena de vida de 31 casais LGBTQIA+ foi oficializada na noite de ontem, no Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções de João Pessoa. Essa foi a segunda vez que a Defensoria Pública do Estado da Paraíba realizou um casamento coletivo, gratuito e direcionado para esse segmento social.

Os noivos e noivas fizeram ressoar um sim, mais de uma vez, no segundo maior teatro do Brasil, em contraposição às trajetórias de nãos, eivados de discriminação, hipocrisia e ódio. Para o casal Rayssa e Gabriella Fernandes, a noite selou uma vitória contra o conservadorismo e lesbofobia que há 11 anos desafiam o seu relacionamento.

O primeiro encontro das duas ocorreu numa despretensiosa aula de muay thai — arte marcial de origem tailandesa — em Cajazeiras, a cidade natal de ambas. “Foi amor à primeira vista”, disse Gabriella. “Quando a gente saiu da aula, por algum motivo, a gente se olhou de uma forma diferente. Começamos uma amizade sempre baseada no carinho, amor e respeito”, completou Rayssa.

Depois de cinco anos, foram morar juntas. Desde 2021, elas vivem na capital paraibana. As duas encararam dificuldades dentro e fora da família. Os ideias religiosos da mãe de Rayssa chocavam--se com o relacionamento da filha. “Para ela me aceitar, ela teve que quebrar muitos princípios. Mas a gente nunca avançou o sinal. Esperamos o tempo dela”, comentou.

No início do relacionamento, as duas até evitavam se encontrar e dar demonstrações públicas de afeto em Cajazeiras. “Como a cidade era pequena, a gente ficava preocupada na forma que isso ia chegar à mãe dela. A gente tinha medo de apanhar, porque é muito preconceito”, rememorou Gabriella. Em 2021, o casal, finalmente, viu uma mudança de postura na mãe de Rayssa. Ela convidou Gabriella para o jantar de Natal. Antes, ela sequer dirigia a palavra à companheira da filha.

O primeiro capítulo dessa história teve um final feliz na noite de ontem. Boa parte da família do casal estava presente na cerimônia de casamento coletivo, exceto a mãe de Rayssa, que, segundo a filha, teve contratempos. “Hoje, a gente está realizando um sonho. Esse casamento foi plantado no nosso coração desde o comecinho. É uma forma de resistir e persistir. Eu precisava celebrar isso com ela”, disse Rayssa, que casou com a primeira namorada.

Para a defensora pública--geral da Paraíba, Maria Madalena Abrantes Silva, o amor livre também é um direito e deve ser garantido pelo Estado. “Que o amor de vocês seja sempre celebrado, protegido e respeitado. A Justiça só é plena quando alcança a todos. O amor é digno, é legítimo, é um direito”, afirmou na cerimônia.

A defensora pública Maria dos Remédios Mendes, coordenadora de defesa dos direitos homoafetivos, da diversidade sexual e do combate à homofobia, destacou que os casais que participaram da cerimônia economizaram, no mínimo, R$ 600. O primeiro casamento coletivo LGBTQIA+ promovido pela Defensoria ocorreu em janeiro de 2020. Segundo ela, novas edições estão previstas.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de setembro de 2025.