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em memória de francisco

Missa reúne e comove fiéis paraibanos

publicado: 22/04/2025 09h04, última modificação: 22/04/2025 09h06
Celebração na capital, presidida pelo arcebispo Dom Manoel Delson, reúne vários religiosos e lota a Catedral
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Legado do papa foi lembrado pelo arcebispo dom Manoel Delson em pregação emocionada - Foto: Roberto Guedes - Foto:

por João Pedro Ramalho*

O falecimento do papa Francisco, ocorrido na madrugada de ontem, comoveu os fiéis paraibanos. Durante a noite, homens e mulheres das mais diversas idades lotaram o interior e o adro da Catedral Basílica Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa, para uma missa em sufrágio pela alma do pontífice. A cerimônia foi presidida pelo arcebispo metropolitano da Paraíba, dom Manoel Delson, que aproveitou a ocasião para celebrar o legado deixado pelo Santo Padre.

“Francisco deixa marcas indeléveis na nossa Igreja, que jamais serão esquecidas, pelo seu jeito humilde, cordial, acolhedor, aberto ao diálogo e, ao mesmo tempo, firme nas suas posições em relação à doutrina da Igreja e em relação aos ensinamentos do Evangelho”, afirmou.

O arcebispo também conclamou os católicos a rezar pela paz e descanso eterno do papa. E destacou, ainda, como o pontificado de Francisco honrou a escolha de homenagear São Francisco de Assis, desde sua vida como jesuíta e cardeal, em Buenos Aires, até a chegada ao Vaticano. “Em Roma, ele tentou passar essa simplicidade, visitando os presídios, os hospitais e os doentes, preocupando-se com os pobres que vivem no centro da cidade e indo ao encontro das necessidades dos mais carentes”, relatou.

Um dos fiéis que compareceu à catedral para orar pelo pontífice foi o farmacêutico Francisco Allysson Gadelha. Ele conta que ficou impactado pela notícia do falecimento, ocorrido em meio às renovações que Sua Santidade vinha promovendo na Igreja Católica. “A gente sentiu de imediato pela morte dele, por saber que esse renovo foi interrompido. Eu espero que o próximo papa siga os seus passos na condução da Igreja e mantenha a linha de pensamento que o papa Francisco trouxe de entendimento e aplicação da doutrina, para o mundo do século 21”, comentou.

Brasil

Missas em várias partes do país também foram realizadas em memória do papa Francisco. Em uma delas, na Catedral da Sé, na capital paulista, quem celebrou a liturgia foi o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, que pregou para vários fiéis com faixas contendo frases de despedida. Já em Brasília, a cerimônia coincidiu com as comemorações dos 65 anos da capital federal e foi presidida pelo cardeal da Arquidiocese de Brasília, dom Paulo Cezar Costa.

Pesar alcança pessoas de diferentes crenças

por Marcos Carvalho*

Para os cristãos católicos o dia foi de tristeza e reflexão. Padre Marcondes Meneses, diretor do Centro Cultural São Francisco e pároco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Jardim Oceania, em João Pessoa, reforçou que, mesmo com o sentimento de pesar, o pontificado de Francisco confirmou o espírito de humildade em toda a Igreja. “Ele foi um homem que marcou a igreja com sua simplicidade e o desejo de renová-la, de torná-la mais próxima do Evangelho, com menos poder e vaidade e mais serviço e despojamento”, enfatizou o presbítero.

A arquiteta Sandra Moura, recordou um momento significativo de encontro com o papa Francisco, que era desejo de sua mãe. Apesar dos desafios, como a idade avançada e um AVC isquêmico que a acometeu antes da viagem, seguiram para realizar o sonho. Chegando lá, foram impedidas de participar da tradicional audiência conduzida pelo papa. Mesmo com essa primeira tentativa frustrada, a história de sua mãe comoveu os guias, que lhes permitiram participar de outro evento, e foram as primeiras da fila.

“O Santo Padre, recém-retornado de suas férias, decidiu realizar a cerimônia dentro do Vaticano, um local sagrado e íntimo. Ao final da celebração, o papa Francisco caminhou até a primeira fila, onde estávamos, e abençoou minha mãe com o sinal da cruz. Naquele momento, pude expressar a ele o sonho de minha mãe, um sonho que se tornava realidade diante de nossos olhos”, relatou a arquiteta. Ela enfatizou que, apesar da perda, o papa segue sendo um farol de fé e o mundo ganhou um exemplo eterno de humildade e compaixão.

O frade capuchinho Tiago dos Santos é natural de Solânea (PB) e estuda História da Igreja em Roma há três anos. Ele relata que a capital da Itália encontra-se repleta de peregrinos por causa do ano jubilar, aberto oficialmente por Francisco no final do ano passado. “A repercussão da morte do papa se sente na estrutura eclesial e nos líderes políticos, mas, sobretudo, no povo, nas ruas. Francisco foi um papa que falou para dentro e para fora da Igreja, e talvez tenha sido mais escutado fora”, pontuou o frade. O religioso reforça o caráter reformador do pontífice, que assumiu o comando da Igreja depois da renúncia de Bento XVI, num contexto de escândalos de ordem moral, econômica e teológicas, e colocando em pauta assuntos até então intocáveis.

Outras denominações

A morte do papa Francisco também foi sentida por membros de outras denominações cristãs e outras religiões. Pastor Estevam Fernandes Oliveira, da Primeira Igreja Batista em João Pessoa, solidarizou-se com os fieis católicos pela morte de seu líder mundial. Ele destacou o estilo de vida simples, a abertura a outras religiões e o forte carisma como marcas do papa argentino. “Quem é simples marca nossas vidas; quem é carismático atrai para si pessoas; e quem interage com os outros abre pontes e não levanta barreiras. Foi uma perda grande, sobretudo porque quando se perde um líder religioso se perde os valores que são agregados a esse líder”, lamentou o pastor.

Mãe Renilda Bezerra, Presidente da Federação Independente dos Cultos Afro-Brasileiros na Paraíba, também manifestou pesar pelo falecimento do papa e ressaltou que sua presença fará muita falta. “Ele fez a diferença no seu papado por defender a tolerância religiosa, conceder a benção aos homossexuais e cuidar das pessoas em situação de vulnerabilidade, como os refugiados e todos que sofriam discriminação. Foi um papa que veio para fazer mudança”, acentuou a ilaorixá. Mesmo considerando que o pontificado de Francisco foi breve, ela acredita que seu legado de respeito às diferenças permanecerá.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 22  de abril de 2025.